Sebastian se levantara, dormia até tarde aos fins de semana, inspirou o aroma do café e não só se sentiu mais vivo como também se sentiu inspirado.
- É hoje, dia lindo, vamos esculpir! Parece - me que será um dia muito proveitoso - pensou - inspiração eu tenho, coragem também, mas preciso de algo em mente, vamos ver...
- Sete faces!
Um grito de ânimo tão forte que poderia ser ouvido de longe.
- É hora do mundo conhecer o meu anjinho torto - pegara um papel e começava a esboçar - um pouco de malevolência aqui, um pouco de ternura nos gestos, semi asas de anjo ...
- E só mais um olhar amedrontador aqui ... e está pronto! - disse bastante empolgado enquanto preparava o gesso para começar a esculpir - caramba! O gesso acabou, terei que comprar mais.
Sebastian caminhou até uma loja de artes próxima de casa. Aproveitando a viagem, comprou os vidros para a janela e, por vício artístico, mais coisas que suas mãos mal conseguiam carregar.
- O senhor precisa de entrega domiciliar? - indagou a atendente, percebendo a situação.
- Agradeço, mas eu moro aqui perto - saíra desajeitado, e por surpresa, avistou o garoto do outro lado da calçada.
- Você por aqui?! Conhecendo a cidade? -indagou Sebastian.
- Olá, Sebas, o meu "8B" acabou e parece - me que só nessa loja tem, então aproveitei pra conhecer esse ponto - respondeu com os olhos apreensivos nas sacolas.
- Eu gosto muito deste ponto da cidade, mas afinal, o que seria um "8B" ?
- É um lápis especial que gosto de usar nos meus rabiscos - brincou o garoto.
- Rabiscos? Deve ser um aspirante à artista como eu, também gosto de desenhar, pintar, esculpir ...
- Isso eu quero ver! Podemos trocar alguma experiência - sorriu intimidantemente o garoto.
Sebastian deixara cair uma das sacolas, fazendo com que os dois se abaixassem para pegá - la e trocassem olhares.
- Des-desculpe! - Sebastian tentou se explicar, envergonhado - Eu, eu...
- Você está com várias sacolas - o garoto interrompeu - aquela loja não oferece serviço de entrega à domicílio?
- Oferecem sim, mas eu moro a 2 quadras daqui e ...
- Então, nesse caso eu posso ajudar, me dê umas 4 dessas, senhor artista.
- Acho que comprei coisas demais de novo; porém, é senhor escultor.
- Ah! Sua verdadeira paixão são as esculturas, a quanto tempo está nessa área?
- Bem, - pensou por um tempo - desde criança? Eu sempre gostei, mas só comecei a praticar depois que ... fui morar sozinho.
- Você não é casado?
- Não, após o falecimento dos meus pais, morei com meus tios 2 anos e agora estou aqui.
- Sinto muito pelos seus pais. Mas é que na sua idade não é muito comum os ...
- Está me chamando de velho? -gargalhou - Eu tenho só 26 anos, me respeita, moleque!
- Sempre devemos respeitar os mais velhos! - dizia o garoto, gargalhando - Senhor, sua bênção!
- Te pego, moleque!
Sebastian corria atrás do garoto, sorriam como duas crianças.
- Talvez uma bengala ajude, - disse animado - me pegue se puder!
- Espere! Chegamos.
- Ah! É aqui? Tão perto!
- Eu disse, entre! Essa maratona já me deu canseira.
- "Fora de forma?" - o garoto disse baixinho.
- O que disse?
- Suas sacolas! Sãs e salvas.
- Muito obrigado pela ajuda, quer tomar algo?
- Uma água, por favor!
- Claro ... - Sebastian guardou as sacolas na cozinha, pegou sua caneca preferida do Ben 10 e serviu o garoto - aqui!
- Ben 10? - gargalhou - eu adorei essa caneca.
- Essa é quase de estimação- gargalhou Sebastian.
Enquanto ele tomava a água, um leve silêncio pairou no ar, e após, seus lábios ficaram molhados e mais vermelhos, chamando toda a atenção de Sebastian.
- Aquele é seu ateliê? - apontava para um quarto semiaberto, com porta personalizada, escrito "Feel Free".
- É sim! Vou lhe apresentar minhas "crias".
- Esse é o Dudlle, surgiu de um rascunho mesmo.
- Fofo!
- Este é o Petrúncio, o senhor emburrado.
- Que realista!
- E esta é Carmelia, o romance em pessoa; escultura, quero dizer - gargalhou.
O garoto estava impressionado e surpreso com o talento de Sebastian, sem palavras apoiou as mãos na mesa para olhar os detalhes de Carmelia.
- Você é sensacional, quantos detalhes, que suavidade ...
Enquanto o garoto, atento falava, Sebastian se aproximou, tocou - lhe uma das mãos...
- ... não imaginava o quanto esculpia b...
E com a outra tocou - lhe o queixo e deu - lhe um beijo.
- Obrigado! - disse Sebastian, sorrindo.
Sem palavras, o garoto abaixou a cabeça, e sem resposta, desviou os olhos para a esquerda.
- Eu... Eu...
À sua esquerda, estava o esboço do anjinho, ao vê - lo, o garoto se assustou, entrou em pânico e disparou a correr em direção à porta, derrubando vários objetos e cadeiras pelo caminho.
- Espere! - dizia Sebastian, sem entender - Me desculpe!
Ao tentar acompanhar, Sebastian tropeçou em algo e, ao sair, já o perdia de vista; voltou para casa e passou o dia pensando na besteira que cometera, nem conheceu o garoto e já perdera a chance de fazê - lo.
Em pouco tempo, o coração de Sebastian já batia mais forte, sentia efeitos inexplicáveis e já estava a fazer loucuras, e entre inúmeras dúvidas, uma se realçava: "qual era mesmo o seu nome?" .
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10 acasos
Short Story"E se por um descuido eu desacreditasse em destino? Tudo pareceriam acasos? E se os acasos fossem bons, como eu reagiria? Nos 'desacasos' eu perderia a fé? ..."