A escolha

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O velho andou calmamente até ficar de frente comigo. Passou entre os homens que estavam ao meu redor e ficou me encarando.

— Daniel... — Foi só que eu consegui falar.

— Eu sei.

— Ele está morto. Você precisa fazer alguma coisa...

— Não há nada que possa ser feito quanto a isso.

— Claro que pode. Você pode salvá-lo.

— Não Cristal, eu não posso.

— Você foi atrás de mim, me ofereceu uma nova oportunidade para refazer minha vida... Como agora não pode fazer nada?

— Eu lhe dei uma nova chance por que você estava sofrendo e eu odeio ver belas mulheres sofrendo.

— Então você fez tudo isso por que ficou com pena de mim?

— Também. — Disse dando um meio sorriso.

Eu agarrei sua camisa social branca pelo colarinho e apertei o máximo que pude.

— O meu namorado está morto deitado em uma mesa gelada e tudo o que você tem para me falar é também?

— Cristal, sua raiva não vai resolver nada.

— Eu acabo de perder meu bebê e o amor da minha vida. Não me diga como agir. Você tem que fazer alguma coisa. —Comecei a chorar novamente. — Por favor, eu estou te implorando, você precisa salvar Daniel.

Eu comecei a me ajoelhar diante dele.

— Por favor, eu faço qualquer coisa, é só me dizer o que você quer.

— Cristal, levante-se.

O velho me reergueu novamente e ficou me segurando até que eu me sentisse bem o suficiente para ficar em pé.

— Então me deixe ficar junto dele. Eu não quero viver sem ter ele por perto. Não quero ter que sofrer tudo de novo. Por favor, mate-me.

— Só Deus tem o poder de tirar uma vida, minha querida.

— Então fale com ele. Diga que eu quero ficar perto de Daniel.

— Nem Deus e nem eu podemos fazer isso, contudo acho que tem uma coisa que você pode fazer...

— Eu faço... Qualquer coisa, é só me dizer o que preciso fazer.

— Você nem quer saber o que é?

— Eu faço qualquer coisa que possa trazer Daniel de volta.

— Você pode fazer uma troca.

— Uma troca? Que tipo de troca? O que eu tenho de valor para fazer uma troca?

— Você tem algo que mais ninguém tem.

— Então me fale logo o que é.

Olhei esperançosa para ele. Eu estava disposta a tudo para ver Daniel bem.

— Sua vida.

— Minha vida?

— Sim. Você pode trocar sua vida pela dele para salvá-lo.

Eu balancei a cabeça confusa.

— Mas você acabou de dizer que não pode me matar... Como agora minha vida pode salvá-lo?

— Como você disse, eu não posso tirar sua vida, porém você pode trocar a sua pela dele.

— O que disse? — Questionei me afastando.

— Você pode ficar no lugar dele.

— Você quer dizer morta? Eu preciso morrer para que Daniel possa viver?

— Sim, mas você precisa querer de coração. Doando a sua vida para Daniel, você estará salvando-o.

— Mas isso quer dizer que nós não ficaremos juntos. Nunca. Isso não é justo.

— Nada nessa vida é justo. São nossas escolhas que conduzem nossas vidas.

Eu dei as costas para o velho e olhei para Daniel. Parecia que ele estava dormindo. Mesmo com os hematomas em seu rosto, ainda parecia calmo e sereno.

— Ele vai ficar arrasado quando acordar e não me encontrar.

— Ele não vai lembrar de você ou de nada do que aconteceu.

Voltei a olhar para o velho.

— O quê?

— Ele nunca vai lembrar desse dia, ou de quando se conheceram. Ele vai ter uma vida, onde você não estará presente, nem mesmo em suas lembranças.

— E tudo que vivemos?

— Ele não vai lembrar. Terá uma vida diferente, sem você.

— Então tudo o que eu fiz foi em vão?

— Não, claro que não. Você voltou para o passado, o conquistou novamente, engravidou...

— Eu perdi nosso filho. — Falei triste.

— Eu sei. Mas apesar de tudo, foram felizes. Isso não basta?

Eu não respondi de imediato. Voltei a olhar para Daniel. Toquei seu rosto suavemente e deixei uma lágrima cair na boca.

— Ele vai ser feliz? — Perguntei sem tirar o olhar dele.

— Sim, ele vai ser feliz. Vai se formar, conhecer uma pessoa, se apaixonar, casar e ter uma família, como ele sempre quis.

— E tudo o que eu preciso fazer é trocar minha vida pela dele?

— Sim.

Mais lágrimas começaram a rolar e agora eu nem fazia questão de segurá-las.

— Eu te amo Daniel. Te amei desde o primeiro momento em que te vi entrar na minha sala. E tudo o que eu fiz foi para poder estar do seu lado de novo. Perdoe-me se não fiz tudo direito. Perdoe-me por ter te deixado pela carreira e me perdoe por ter sido uma covarde e não te procurado quando me arrependi. Fui uma fraca.

Passei a mão pelo seu rosto para senti pela última vez sua pele.

— Você vai ser muito feliz, tenho certeza disso, e mesmo que jamais se lembre de mim, em algum lugar eu estarei te observando. Levarei seu amor comigo para sempre.

Beijei seus lábios e me virei para o velho.

— Estou pronta.

— Tem certeza?

— Se para ele viver, eu tenho que ir para sempre, então eu estou pronta.

O velho tocou meu ombro e em segundos tudo se apagou.

6$^

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