Cotidiano?

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Corre. Pinga.

Corre. Pinga.

Corre.

Pinga.

As minhas costas estavam suadas quando encostei na porta do apartamento. Alguém realmente precisava arrumar aquela goteira no fim do corredor.stava me dando nos nervos. Destranquei a porta e entrei. Joguei a chave na mesa como sempre fazia. Dei oi para o meu filho como sempre fazia, mas não se engane achando que é uma história de amor entre pai e filho, ele geralmente não respondia. Nos dias mais agitados latia pra mim e tentava pular a grade. Costumeiramente só me olhava com aquela cara de cachorro abandonado.

Peguei o telefone, liguei para o meu chefe, enquanto fervia água para o café. Minha mente voltou para o

Pinga.

Pinga.

Pinga.

do corredor. Eu realmente precisava pedir para alguém arrumar aquilo. O meu prédio não era mais o mesmo. Saudades de quando ele era novo, ainda lembro o dia em que comprei o apartamento. Naquela época o meu filho era outro, latia muito mais do que esse, destruía a casa toda, mas me alegrava muito mais. Será que o cachorro age conforme o meu estado de espírito? O que olhava pra mim agora nunca mais foi o mesmo desde que começou o..

Pinga.

Pinga.

Pinga.

mas quem poderia culpá-lo? Eu certamente não. Aquilo me dava nos nervos também.

Alo? Alo? Você está me escutando?

Sim chefe, desculpe a demora.

Pois bem, esteja aqui amanhã as sete que terminamos.


Desliguei o telefone. Olhei para o meu filho.

PUTS! O café no fogo.

Já não podia ficar ali, o cheiro de café queimado me dava enjoo. Abri a porta para sair. Aquela gota desceu pela minha testa. São Paulo andava quente demais nos últimos meses.

Pinga.

Pinga.

Pinga.

Lá no fim do corredor, aquele barulho de novo. Entrei. Fechei a porta. Me encostei nela de novo. Veio a batida.

Você está aí? - Soou a voz de uma mulher do outro lado.

Sim, que que cê quer?

Você sabe, precisa me ajudar a arrumar a bagunça.


Abri a porta. Estava parada uma mulher muito bonita, apesar de maltratada pelo tempo. Se eu gostasse de peitos poderia até dar em cima dela.

Quem é você?

Ah sério! De novo não.


Ela me tomou pela mão. Me levou pelo corredor enquanto eu ouvia o..

Pinga

Pinga

Pinga

Subimos as escadas, e ela abriu a porta de outro apartamento. O que será que ela queria comigo?

Lá estava o motivo daquele barulho infernal no corredor.

A goteira era do sangue do homem que amei.

Mas que diabos...Onde histórias criam vida. Descubra agora