Capítulo 1

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Sábado era oficialmente o melhor dia da semana para mim, onde eu tenho o dia inteiro só para mim e meu diário, mas hoje... as coisas são um pouco diferentes. Não que eu esteja reclamando, não, mas eu só não entendo como eu fui parar nessa enrascada. A última coisa que eu queria fazer na vida era ser entrevistadora, mas Caroline me colocou nessa, e bom, aqui estou eu: me arrumando para perguntar coisas para outra pessoa.

Meu cabelo hoje não está colaborando, e apesar de que seja extremamente liso, às vezes resolve me dar uma surra, e bem quando eu não posso parecer desajeitada! Eu escovo, escovo, e nada, então deixo ele do jeito que está, me resignando. Coloco um jeans escuro e a primeira camiseta que vejo na minha frente, estou atrasada, tudo por causa dessa droga de cabelo! Depois de colocar um All Star, e pegar minha bolsa, desço em disparada as escadas e saio de casa dando um corrido "Bom dia, tia Jenna". Ela deve saber que eu estou atrasada, porque não tenta me convencer a tomar café da manhã. Apesar de que não era como se ela pudesse ter dito algo no meio da minha correria.

Tiro da minha bolsa o endereço, e puta merda! A entrevista vai ser num hotel?! Eu imaginava que para o dinheiro que Caroline disse que a tal empresária tinha, ela podia ter alugado um escritório por aqui, não podia? Hotéis me soavam pessoais demais. Eu não tenho o menor interesse em entrar no quarto de outra pessoa, ainda mais quando eu tenho que fazer perguntas pessoais pra ela. Não, não e não! Mas não me restava outra alternativa, na verdade. Eu já tinha aceitado, e eu não queria decepcionar Caroline.

Ela estava de cama, com uma gripe ou algo assim, o médico não especificou muito bem, só disse que ia passar logo. Mas bem que esse logo poderia ter sido um dia atrás, não podia? Caroline tinha tentado recorrer à Bonnie, mas ela estava indo para a casa da vó, e não podia ir, e então eu tive a brilhante ideia de me oferecer. Bom, ela me puxou na verdade, mas eu aceitei de qualquer modo, somos amigas e eu não deixaria a oportunidade dela passar. Além do mais, o que eu tinha de importante pra fazer mesmo? Não muito além de escrever no meu diário. Não era como se eu tivesse uma vida social realmente corrida.

E o que eu iria perder? No começo essa pergunta fazia todo sentindo, mas agora as palavras "sua dignidade", soavam bem audíveis, mesmo que nos meus pensamentos. Eu não podia dar bola fora, mas esse é o problema, eu sempre dou bola fora! Mas meu otimismo me dizia que dessa vez eu faria tudo certo, então eu me obriguei à acreditar.

Assim que eu cheguei aos pés do hotel, minha garganta deu um nó, mas meus pés continuaram me levando para dentro do edifício. Logo eu parei na bancada de atendimento, e a atendente sorriu pra mim, o que me deu certo alívio. Talvez eu não parecesse tão mal assim.

—Bom dia. Eu estou aqui em nome de Caroline Forbes, para...

—A entrevista com Katherine? —Ela me interrompeu. —Pode subir, o quarto é o 420, segundo andar.

Apesar de achar estranho, eu simplesmente agradeci e entrei no elevador mais próximo, apertando o número 2 de um jeito apreensivo. Assim que as portas se abriram, eu dei de cara com dois longos corredores. Eu não imaginava que o hotel da cidade fosse tão grande, mas isso não importava muito no momento. Pegando o corredor direito, eu fui passando porta por porta.

417..

418.. - Meu coração disparou, mas continuei caminhando.

419...

420 - Bom, aquela parecia minha parada final.

Eu levantei minha mão para bater na porta, mas instantaneamente ela se abriu, me deixando completamente perplexa e travada na porta. O quarto não parecia ter ninguém, então eu entrei no quarto bem lentamente, olhando para todos os lados. Pelo menos tudo parecia estar normal por ali.

A decoração era simples, bem impessoal como a de qualquer hotel, e o lugar era muito bem iluminado. A sacada dava vista para as colinas de Mystic Falls, e deixava a luz entrar pelo quarto assim como a fria brisa do outono, me deixando completamente arrepiada. Foi quando uma voz surgiu, me arrancando dos meus pensamentos.

—Eu já estou saindo, pode ficar a vontade. —Era uma voz abafada, o tom dela era quase inaldível, mas claramente era uma voz de mulher, provavelmente de Katherine. Então eu me sentei, tentando ignorar o fato da porta ter aberto sozinha, me distraindo com alguns passarinhos que passavam na frente da sacada.

Assim que a porta do banheiro abriu, eu endireitei minha postura, tentando parecer o mais profissional possível, mas assim que ela saiu pela porta tudo foi por água a baixo. Eu congelei.

Meus pensamentos corriam pela minha mente, mas nada fazia sentido. Era como se aquela mulher fosse meu espelho. Isso claro, se você desconsiderasse o fato de que ela usava uma roupa preta apertada, que marcava todas as suas curvas e a deixava com um ar mais maduro, o que poderia ter feito com que eu me sentisse mais fora de lugar ainda, caso eu não estivesse tão surpresa com o fato de que ela poderia ser minha irmã gêmea.

Ela no entanto, não parecia surpresa. Sem nem olhar para mim, se dirigiu à cômoda e pegou um copo, enchendo ele com... Whisky? Ela virou seu rosto, e, ao contrário de mim, soava até... divertida. Isso era bizarro. Extremamente bizarro, para ser mais exata.

Se eu não estivesse tão agarrada à minha bolsa, provavelmente eu poderia achar que estava sonhando. Ou tendo um pesadelo, dependendo do ângulo em que se visse. Ela se aproximou, e eu fui me prensando mais ao sofá. Foi quando seus olhos se fixaram nos meus.

—Não fique tão assustada comigo. —E do nada, todo o medo tinha ido. —Você não precisa.

Se fosse em outro momento, eu provavelmente teria rido dessas palavras, mas agora elas tinham um efeito calmante em mim. O que era estranho.

Ela se sentou na cama, em frente à mim, e sorriu misteriosa.

—Como somos tão parecidas? —Eu sussurrei, não muito certa de que ela conseguiria ouvir.

—Senhorita Gilbert, acredito que tenha vindo fazer algumas perguntas para mim, mas não acho que essa em especial esteja na lista que sua amiga te deu. —Ao ouvir essas palavras eu corei da cabeça aos pés, mordendos os lábios enquanto toda a curiosidade borbulhava na minha cabeça. —Sendo assim, eu não vou te responder.

A irritação me subiu. Como assim não iria me responder?! Não era possível que ela também não tivesse essa dúvida, pelo amor de Deus! Ela era uma cópia exata minha - ou eu era uma cópia exata dela. No entanto, ela não parecia nem um pouco surpresa ou assustada. Minha vontade era de sair correndo, mas eu não podia, eu estava ali por um motivo, e bem, eu tinha que pelo menos completar a entrevista.

Entrevista que por acaso eu não tinha nem começado.

Tirando a lista e uma caneta da bolsa, eu me dispus a começar à ler rapidamente. 26 perguntas ao total. Quem em sã consciência escreve 26 perguntas para uma entrevista escolar? A resposta "Caroline" me veio na mente rapidamente, e eu quase sorri. Quase.

—Então vamos começar, senhora Pierce. —Eu levantei uma sobrancelha em desafio, mas ela se manteve impassível. Tudo bem, duas podiam jogar esse jogo. —O que te fez entrar no ramo empresarial?

—O dinheiro, mas se eu respondesse isso pareceria verdadeiramente gananciosa, não é? —Ela sorriu levemente. —O desafio, senhorita Gilbert, foi o que me fez entrar nesse mundo.

Enquanto ela respondia, escaneava meu corpo, e eu tive vontade cobrir meu corpo com os braços. Mas então eu seria uma idiota. E eu não queria parecer uma idiota, não na frente dela.

Pelo visto aquela entrevista seria longa.

Fifty Shades of UsOnde histórias criam vida. Descubra agora