0.5 - Eu sou virgem.

40 3 0
                                        

Palavras que eu nunca pensei dizer.

Sentimentos que nunca pensei vir a ter, pelo menos desde que o perdi.

Um novo tipo de dor que não dói como álcool numa ferida, mas quase tanto como um soco na mama esquerda.

- Avalon, antes disso, eu também preciso de te dizer uma coisa, muito importante. 

Oh, eu não posso esperar. Este aperto não pode continuar.

- Lou...

- Eu sou virgem. - A sua voz parece enfraquecer a cada letra por ele pronunciada, ainda que a frase tenha sido dita praticamente a correr.

O espanto assume controlo da minha cara. Ele está a gozar comigo?

- Como assim? Isso é alguma desculpa para ter pena de ti e te dar mais tempo? -gargalho.

Isto não tem tanta graça quando se trata do vosso namorado, supostamente popular, e de toda a vossa reputação.

Chamem-me o que me quiserem (puta não, suas cabras) mas ser vista com um virgem, que não quer que eu o foda desde o momento que o estou a comer... Meu, é doloroso e estúpido e ... Estranho.

- Avalon, estou a falar-te do peito. Eu amo-te mesmo, se não podia fazer de conta que não te queria e descartava-te como fiz com as outras. 

WOW.

Seriously?

- Pelo amor de todos os saldos de bikinis pretos, estás mesmo a gozar, certo? Tens plena noção do que estás a dizer?

Sinto que estou a entender o Liam.

- Estás a falar de peito? Louis, és o caralho de um virgem e ainda tens a lata de falar com esse desprezo? - gargalho. - E eu que vinha falar contigo para... Nem interessa.

- Diz...- ele insiste.

- Eu tomei consciência das minhas... Porcarias todas da vida e tinha decidido acentar. Com um gajo que não estivesse em cima de mim pela foda, que não estivesse, simples e literalmente, sempre em cima de mim, sabes? Mas que, ao mesmo tempo, me desse a atenção que eu necessito. E depois vens me com esse discurso de MERDA,- e sim, eu gritei esse palavrão num sítio público -a dizer que me podias ter descartado? COMO TODAS AS FUCKING OUTRAS? Desculpa Louis, isto não está a funcionar.

Ele ri. 

- Não vai funcionar por causa do meu discurso, mas com o teu cadrasto de gajos que levaste para a cama em quê? 3 meses? Isto poderia ter funcionado? Oh por favor poupa-me.

- PELO MENOS ARREPENDO-ME. - sinto um nó na garganta. 

Não.

nÃO.

Não vou chorar à frente deste imbecil, só por umas palavrinhas.

- E perguntaste-me alguma coisa para saberes se isso é verdade? Provavelmente, como sempre fazes, falas sem usar essa cabecinha oca e magoas todos à tua volta com a tua estupidez!

Cerro os punhos.

Viro lhe as costas e arranco fortemente o fino cordão que segurava um pendente de uma carta. Tinha sido ele a dar-me aquele colar e decido atirá-lo para o chão enquanto ele grita atrás de mim. 

O caminho por entre as árvores deste velho parque é o meu destino e eu não vou parar.

Ainda não é outono, não havia uma única folha no chão. 

Mas uma pequena folha castanha decide abandonar o seu lar na minha passagem, tornando a minha triste vida ainda mais triste.

Está a chegar a estação mais merdosa de todas e eu vou estar uma lástima por causa de um rapaz pelo qual criei sentimentos há pouco mais de 4 horas.

☒ ☒

« Não é incrível o poder que as palavras têm em nós?
Num momento podem deixar-te triste ou feliz, a sorrir ou a chorar, a pensar ou simplesmente a pedir por mais.
E depois há aquelas palavras que nem precisam de ser ditas para já magoarem.

Dói tanto pedir desculpa e receber um silêncio como resposta.

Dói começar a pensar em tudo o que pode ser dito desde aí.

Dói pensar que pode ser o fim do início.

Dói chorar outra vez.

Segunda-feira, 25 de Outubro »

Estupidamente, continuo a chorar desde que cheguei a casa. E já passaram umas quantas horas. Ás tantas já nem é segunda-feira e estou a mentir à minha psicóloga.

A minha mãe decidiu não me chatear como fez na morte do meu pai.

- Sinto a tua falta, grandalhão. -Digo tentando olhar para a nossa foto na minha mesa de cabeceira, mas tenho os olhos demasiado inchados.

☒ ☒

Hoje sou uma típica aluna de liceu. O problema é que ando na faculdade.

(imaginem-me a falar com aquelas vozes super cativantes das miúdas de moda e beleza do youtube) (na verdade até a minha voz interior está rouca) Hoddie e leggins são o meu outfit do dia, e para tornar o meu look ainda mais confortável, decidi trazer o cabelo da forma que acordei mesmo, ou seja, uma merda.. ups, quero dizer, eit uma merda mesmo e uns ténis rotos para dar um ar mais messy.

Não se esqueçam de meter gosto e enfiar dois dedinhos no cu todos os dias, de manhã e à noite. O vosso futuro namorado vai agradecer.

A menos que sejam como eu, que quando decidi ter um namorado a sério acabei com ele por ele ser um traste.

Acho que todos vão perceber que estou uma lástima maior do que o normal. 

Tenho olheiras, o que não é normal porque eu venero o meu sono, estou assim  vestida, e mal consigo falar.

Ainda bem que a encenação foi ontem.

Nem interiormente tenho forças para sorrir.

- Bom dia, caríssimos alunos! - a minha entusiástica professora de alemão praticamente grita aos meus ouvidos quando entramos as duas ao mesmo tempo.

Desde quando é que eu pensei que alemão ia atrofiar-me a moina na faculdade?

- Hoje decidi não pronunciar uma única palavra na língua que estamos aqui dispostos a aprender porque, como deveriam saber, é dia de exposição oral. E o primeiro voluntário obrigatório é...- que não seja eu, por favor!!!- Miss Thompson, que já aqui está a frente!

- Mas.... - tento falar mas tusso em lugar de uma fala sequer coerente. 

Decido apontar só para a garganta e levar as costas da mão à testa.

- Eu posso ir na vez dela!- a voz do... Styles?

- Oh que atencioso da sua parte, menino Harold. - a idosa com uma pronuncia germânica perfeita aplaude.

Grunho interiormente e praticamente estalo um dedo ao ver aquele estúpido passar perto de mim.

- É Harry. - diz enquanto me pisca o olho. - Ficas a dever-me uma, Bela Adoentada. 

Porque é que ele está a fazer isto?!?!?!? 

Avalon | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora