O Ian, cliente frequente daqui do quiosque, minhas teorias são de que ele só vem pela Júlia. Ele é louco por ela, faria de tudo por aquela menina.
Ele é puro, simples e tinha uma alma tão linda quanto o mesmo. Seu cabelo é sempre bagunçado, um mar de ressaca em seus cachinhos pretos; seus olhos são puro mistério, eram poesias obscuras e reluzentes; sua voz era calma, enlaça a alma de quem ouvia. Ele é um mar de amores doces. Seus maiores sonhos são a Júlia, viajar o mundo e, quem sabe morar em outro país.
Sempre senta na mesa 14, talvez essa mesa ou esse número tenha história para este menino, mas nunca perguntei, e seu maior divertimento é aparentemente olhar, de longe, a Júlia.
Vinha sempre 10 minutos antes do turno da Júlia e era sempre o primeiro a fazer o pedido e o último a sair, as vezes até ajuda a fechar o Afogarte.
Seu pedido preferido era sempre uma bebida vermelhinha e adocicada, uma batida de frutas vermelhas e com uns toques a mais, já ouvi o Ian falar que gostava dela pois o lembra uma poção do amor que comprou e, como já era de se esperar, não funcionou de nada. Apenas tinha um gosto bom. Talvez por esse acontecimento ele, uma vez, pediu a sua amada Júlia, uma dose de amor. O pobre apaixonado só recebeu seu coquetel e um sorriso simples, mas para ele foi um acontecimento completamente especial, algo que ele recorda até hoje.
Ele só não conseguiu conquistar a Júlia até hoje por conta do Gustavo, o caixa do Afogarte, a Júlia é louca por ele, mas esse caso eu conto depois. Mas, a propósito, a Júlia seria ótima para ele, e ele para a menuna. Ela é cheia de si e ele também, ele exala amor e ela só quer um amor verdadeiro, ele sonha com ela e ela só quer amar, ela quer conhecer outros lugares e seu maior sonho é viajar o mundo.
O Ian é puro fruto das músicas de bares, ele era suave, cada composição do Cícero Rosa Lins era uma parte do seu ser. Ele é totalmente poesia de bar, mas também se encontrava nos poemas clássicos e de autores renomados. Ele é música boêmia, folk, clássica, indie, rock e tudo aquilo que lhe cabia também. Ele é tão intenso quanto o sol e tão suave como a lua. Tão poético e tão insignificante quanto folhas secas. Ele é inigualável, inegável, incomparável, incondicional, inconstante, inabalável, incontável, inexplicável,
incoerente... esse é Ian.
Esse é o menino que não mede esforços para amar, que beija, suaviza, acalma e exala autoconfiança, esperança e paz. É o menino com o mais belo e espontâneo sorriso, que transmite o que sente no olhar.
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Afogarte
Short StoryVocê já parou para pensar em todos os possíveis acontecimentos que podem estar ocorrendo neste exato momento em um simples quiosque na praia? Ou o que se passa nas mentes dos clientes daquele local? Este pequeno livro de contos traz a ti exatamente...