Um pássaro perdido

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Era um dia como outro qualquer, nem frio de mais, nem quente de mais... Acho que a unica diferença é que estávamos em meados do outono, e as folhas secas no chão eram realmente muito bonitas, ou pelos menos passavam essa impressão. 

Eu estava olhando pela janela do ônibus escolar, era uma segunda feira, quando eu reparei nele, um garoto comum, sem nem um atrativo aparente, cabelos pretos, alto, com porte físico mediano, seus olhos eram azuis... Só que, havia algo que me chamava atenção, e não era sua aparência, é que todos os dia ele entrava no ônibus, sentava-se no mesmo lugar, saltava, entravamos na escola, ele sentava novamente no mesmo lugar de sempre e não via a hora de chegar em casa. -Não foi sempre assim-

Ele estava sempre mexendo no celular, estava sempre olhando pela janela da sala. No intervalo o garoto não era de ficar sozinho, mas também não era "o" popular... Só um garoto comum, com uma vida comum, exceto por um detalhe. 

Todos os dias, ate mesmo antes do ônibus parar completamente, ele já estava de pé, descia correndo, e ia para casa o mais rápido que podia. Todos os dias sem sessar... Eu lembro bem daquela casa, era linda, cor pastel, com uma cerca e um jardim... Era a casa 104, daquela rua, e haviam varias arvores ali, que coloriam o chão... 

Ele parecia ter uma família comum, -eu estou criando julgamentos, pelo que via, sabe?- sem brigas. Aparente, ele ate parecia um garoto feliz, nunca faltou a aula, esteve sempre presente, nem mesmo quando estava doente... Ele realmente nunca faltou a aula. Passou-se quatro meses assim, eu não o conheci direito, e também, nunca conversamos, mesmo estudando juntos desde a 4º serie. Porém, ele me despertou curiosidade, e eu passei a observa-lo.

Sempre, todos os dias por esses quatro meses ele fazia a mesma coisa, ficava checando o celular, e corria para casa... Talvez por vídeo games, ou pelo computador...

Ninguém nunca soube, mas todos riam dele... Ate que uma certa vez eu me aproximei, e tomei coragem para perguntar "o por quê dessa rotina", o menino sorriu meio triste, e respondeu.

"todos os dias, eu corro de volta para casa, e vou direto para quarto da minha irmã, quero ter certeza que ela está bem, então eu abro a porta e a abraço forte, a vejo viva... Isso me acalma, eu preciso saber que ela vai está la, para que eu possa abraça-la, entende?"

Depois de me responder, ele se virou e voltou para sala, e mais uma vez, depois da aula, eu o vi correr para casa, ouvi os outros meninos rirem como sempre faziam... Eu suspirei, voltei a me ajeitar na cadeira do ônibus e abafei toda aquela zoação com os fones no ultimo volume. Fechei meus olhos, as palavras dele ecoavam em minha mente, ate que eu as esqueci, ao menos, naquele momento...

Na manhã seguinte, tudo estava como sempre, exceto pelo tempo, estava um pouco mais quente. Eu estava sonolenta, senti o ônibus freia, e não percebi quando passamos pela casa dele. Eu adormeci, acordei já em frente a escola, bocejei e sai do ônibus, fui para dala, me sentei... E me dei conta que ele faltou... O dia passou, e ele realmente não apareceu, e ninguém avisou nada...

Passou-se quase 1 semana, e ele não apareceu. Minha curiosidade havia me feito questionar, e imaginar possíveis respostas para aquelas faltas, ate, que apôs 1 mês, ele voltou, confesso que fiquei feliz, imaginei falar com ele, mas, ele não saiu da sala, ou mexeu no celular... E no final da aula, de volta para casa... Ele não mais correu...

A menina do 104Onde histórias criam vida. Descubra agora