Ele chegou em casa, como sempre. No relógio batiam 8h p.m em ponto, o garoto pôs o casaco no cabide, tirou os sapatos e foi para cozinha. Era como se ele arrasta-se, fora um dia cansativo.
Sua rotina era a mesma há 10 anos, religiosamente ele abriu a geladeira, pegou o pedaço de pizza que sobrara de ontem, esquentou no microondas, Pegou uma garrafa de vinho que já estava aberta e se sentou no sofá. No relógio, batiam 8h30 min, era hora de seu programa. E ele como todos os dias fazia, ligou a tv no canal 57... Nada havia mudado, por 10 anos... E exatamente como ontem ele se levantou as 10h, colocou a garrafa no armário, desligou a tv e foi para o banheiro; sua postura era curvada, como se estivesse cansado, ou tivesse algum problema. Ele não tinha filhos, não tinha esposa... Não tinha cachorro, mal tinha amigos, e com eles, ele sempre sorria, e se mantinha feliz. Seu apartamento era tão solitário quanto seu coração.
O garoto que tinha lá seus vinte e tantos anos. Tirou as calças, jogo-as no chão, mas esqueceu-se pela primeira vez, de tirar a carteira do bolso. Que caiu longe, aberta, espalhando seus vários cartões... Era um garoto com dinheiro então... Ele ouviu o barulho do couro se arrastando no chão, olhou a carteira com suas coisas espalhadas, suspirou, e foi ate la. Foi, querendo não ir, suspirando de forma lenta. Havia uma foto um pouco mais distante. Ele já abaixado arrumando seus objetos espalhados, a percebeu ao longe, se aproximou.
Na foto, era uma garota, bonita, jovem... Ele acariciou o retrato, uma lagrima escorreu de seu rosto, ele não lembrava da foto, e não reconhecia o garoto alegre e sorridente que estava ao lado dela.
Então, o rapaz levantou-se, pegou os calmantes no armário, foi para o quarto, ainda com a foto na mão. Ele ligou o som e se sentou, tentava se lembrar de quem era aquele garoto, era tão alegre, e estava ao lado da moça mais linda que seus olhos já viram, isso deixava o rapaz com ciumes.
Ele tomou 3 dos calmantes, se levantou, e foi pegar o Whisky que ficava na mesinha em seu quarto. Assim que o dispunha em mãos, virou a garrafa na boca, de vez. Olhava a foto, e como um devaneio ele reconheceu, "esse sou eu! Era eu..." O garoto arregalou os olhos, talvez assustado. Ele socou a mesinha com força, apertando a foto em mãos. Ele era feliz, como se deixou chegar naquele estado? A musica que estava tocando agora era "young & beautiful", estava na radio.
"eu... Como eu pude? Foi tudo minha culpa!"
A raiva subiu a sua cabeça, ele havia perdido a vida, agora apenas existia. Ele havia matado a si mesmo. Ele havia a matado, a perdido pra sempre, um erro foi capaz de condenar toda sua existência. O rapaz aumentou o som, pegou um colt antigo em sua gaveta, - talvez fosse de um pai que teve - Se ajoelhou no chão, acariciou a moça na foto uma ultima vez "eu estou indo minha irmãzinha"... Ele atirou.
Seu corpo caiu no chão, talvez se você pensar que ele pode reencontra-la do outro lado, isso deixe essa historia mais suave, por que a verdade é sempre mais cruel e dolorosa...
Quando finalmente arrombaram a porta do apartamento dele, não puderam mais salva-lo, havia tanto sangue no chão daquele quarto... Agora, estava tocando "superman" irônico não?! A foto agira havia ganhado uma coloração vermelha. Aquela musica estava tão alta...
Logo seus vizinhos foram enchendo aquele apartamento. Curiosos, queriam saber por que o som estridente, por que o barulho de tiro. Alguns chamaram a policia, outros uma ambulância (a humanidade é realmente hipócrita). Haviam pessoas assustadas, haviam pessoas chorando -que nem o conheciam, ou tinham visto uma unica vez-, haviam pessoas o julgando... Logo aquele aquela sala e aquele quarto tornaram-se pequenos...
Na parede, escrito de caneta preta tinha uma frase. O garoto no chão, estava com seus olhos azuis abertos, tinham lagrimas neles, um sorriso sutil em seus lábios, aquela foto estava próxima a seus dedos... Estava tocando "Maps", o som continuara alto.
Foi a primeira vez que ele sairá de sua rotina cansativa, e a ultima vez que ele fez algo diferente... Era sua culpa que o matava todos os dias e que ele escondia com a mesma "religiosidade" diária... Era a solidão que o deixava cansado e ele escondia com um sorriso... Foi a memoria dela que ele quis esquecer por 10 anos... E por isso, ele escreveu:
"Eu estou indo, e dessa vez para protege-la. Não pude cumprir isso em vida, quero que me perdoe, eu queria poder ter tido tempo pra você, pra seu sorriso... Eu fui egoísta e só hoje pude perceber... Me desculpe.. Eu já estou indo, e ficaremos juntos, pra sempre, é uma promessa"...
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A menina do 104
De TodoToda vez que o ônibus da escola passava por aquela rua , e parava na casa 104. Todos riam... Descia sempre o mesmo menino, correndo, tropeçando nos próprios pés... Nós não sabíamos o porque, somente o caçoávamos... Isso aconteceu a tanto tempo, tan...