A ideia parecia inicialmente boa e relativamente promissora e inofensiva. Pelo menos para os que a propuseram. O modo de produção industrial, seguida pela não intervenção econômica do Estado foram o ponta pé inicial para o cenário que teve seu auge nos últimos anos do século XX. Mas comecemos por esclarecer alguns conceitos importantes, já que nossa intenção é desmistificar que o capitalismo seria o resultado final da nossa caminhada como humanidade rumo a um sistema econômico final.
Inicialmente, veio o modo de produção. Atrativo, tentador e eficaz. Bastava ter o capital para investir. O problema é que poucos detinham esse capital, fruto de um sistema que já vinha se perpetuando desde o final do período do medievo. Não raras as exceções, algumas pessoas conseguiam mudar de status e alcançavam certa projeção num sistema quase que estamental.
Mas no cenário ainda germinativo do Capitalismo, uma grande ideia, chamada Liberalismo, foi essencial para sua bem sucedida implantação. A doutrina liberal defende a liberdade política e econômica, ou seja, é contra o controle do Estado na economia e na vida dos indivíduos. Nesse sentido, o Estado deve conceder liberdade às pessoas e agir somente quando há lesão por parte de algum dos membros da sociedade (chamado de Princípio do Dano).
As raízes do Liberalismo surgiram no século XVII, quando ainda vigorava o Absolutismo como regime político em praticamente todos os governos do continente europeu, em que o rei era considerado o legítimo representante de Deus na terra, tendo primazia para decidir sobre todas as questões que envolvessem o reino. Gradualmente, as ideias iluministas foram ganhando espaço num cenário em que a burguesia se lançava ao mundo para o comércio e fazia uso de seus próprios recursos para atingir seus objetivos, abrindo novas possibilidades de relações de comércio e fugindo também do jugo religioso, ainda presente.
A Revolução Burguesa do século XVII fez surgir uma nova realidade em que a organização da sociedade era baseada na propriedade privada. Diversos pensadores da época se esforçaram em criar teorias que justificassem o mundo que se transformava, surgindo um ponto essencial do pensamento liberal: a ideia de que as pessoas já tinham sua individualidade formada antes de perceber sua existência na sociedade. Assim, para o pensamento liberal, o homem estabelecia uma relação entre seus próprios valores e a sociedade.
A nova ordem liberal trouxe a proposta de que todos podem alcançar um alto nível de prosperidade de acordo com seu potencial, aplicando seus valores e conhecimentos, com elevado grau de liberdade, numa sociedade que reduza os níveis de conflitos sociais.
Mas como justificar isso? A justificativa encontrada pelos pensadores da época encontra guarida no fato de que os governos não são capazes de representar os interesses de toda a sociedade, defendendo, portanto, apenas os interesses de determinados grupos de pressão.
O liberalismo que descrevemos aqui, chamado clássico, prevaleceu nos países mais desenvolvidos durante todo o século XIX e início do XX. Mas devido à quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929, o regime antes preferido por essas nações ficou em segundo plano, ofuscado em parte pela doutrina revolucionária socialista, para reaparecer no final do século como Neo Liberalismo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Consumismo: O que não nos contaram sobre o Capitalismo
Non-FictionSerá que nossos desejos nos manipulam, nos fazendo tomar determinadas decisões que não tomaríamos caso esse desejo não existisse? Será que o (aparente) inofensivo desejo de possuir algo condiciona nosso estilo de vida, os lugares que frequentamos e...