Capítulo 2 - As economias capitalistas são realmente baseadas em livre comércio?

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A ideia de que todos fazemos escolhas livres o tempo todo precisa ser analisada com cautela, pois não se trata de uma verdade. Nossas escolhas não podem sem consideradas livres quando são atreladas às pressões da competição. Como seres humanos, nos sentimos exaustos, sozinhos e em busca de um significado para vida, como se não estivéssemos no controle dela. E realmente não estamos, mas o mercado está. Esse pode parecer um cenário bastante pessimista, mas é mais verdadeiro do que pensarmos que tudo está muito bem do jeito que está.

Basta lembrarmos que o capitalismo teve início quando o acesso à terra foram retirados dos camponeses britânicos e, com isso, seus meios de subsistência, tornando-os dependentes do mercado para sobreviver. Sem propriedades, foram obrigados a vender a única coisa que tinham à disposição: sua força de trabalho. E tudo isso acaba virando um círculo vicioso, pois até os donos dos meios de produção não são livres, vez que o mercado impõe o imperativo de acumular capital ou "quebrar".

E onde o consumismo entra nisso tudo?

Você compraria algo (que não precisa) apenas pela simples vontade ou desejo de possuir este objeto? Até que ponto seus desejos manipulam suas ações? Como a sociedade tem se transformado, cada vez mais, em uma sociedade de consumo?

Não consigo imaginar um lugar mais propício para o afloramento dos desejos de consumismo que um Shopping Center. As lojas com suas vitrines iluminadas, anúncios de promoções e descontos e suas fachadas chamativas são uma verdadeira tentação para pessoas que gostam de comprar pela simples vontade de matar um desejo consumista. É o comprar pela vontade de comprar, sem nenhuma necessidade objetiva do objeto desejado.

Mas talvez belas lojas e vitrines enfeitadas não chamem sua atenção. Mas o ponto aqui não são as lojas, nem o consumo em si, mas a questão do desejo. Quem sabe, diferente de muitas pessoas, seu ponto fraco não seja o consumismo. Quem sabe você é daqueles que não abre mão de sair todas as noites para se divertir, ou não resiste a um belo e apetitoso jantar.

Será que nossos desejos nos manipulam, nos fazendo tomar determinadas decisões que não tomaríamos caso esse desejo não existisse? Será que o (aparente) inofensivo desejo de possuir algo condiciona nosso estilo de vida, os lugares que frequentamos e nosso circulo de relacionamentos?

Será que nossos desejos nos manipulam, nos fazendo tomar determinadas decisões que não tomaríamos caso esse desejo não existisse? Será que o (aparente) inofensivo desejo de possuir algo condiciona nosso estilo de vida, os lugares que frequentamos ...

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Para o filósofo Arthur Schopenhauer é exatamente isso que acontece. Para ele, somos marionetes de nossos próprios desejos. E, para nossa infelicidade, não há muita coisa que possamos fazer para mudar isso.

Schopenhauer nasceu em 1788, em Danzig, na Prússia, e sua filosofia é comumente associada à própria imagem de seu criador: uma pessoa com personalidade forte e palavras amargas sobre a vida e a condição humana. Se desagradável como pessoa, Schopenhauer tem um escrita fascinante.

Escreveu sua principal obra aos 30 anos, intitulada O Mundo como Vontade e Representação, mas sem lograr êxito no início (livro que, após sua morte, passou a ser considerado uma das obras chave da filosofia ocidental). Durante anos, Schopenhauer não parou de atualizar sua obra, que ganhou uma nova versão com um segundo volume de notas e aditamentos em 1844.

No livro, Schopenhauer declara que a realidade tem dois aspectos, vontade e representação, sendo a primeira a força cega encontrada em todas as coisas e a representação, a construção da realidade em nossa mente, ou seja, a maneira que encontramos para dar um sentido a todas as coisas que nos cercam. O conceito de representação se encontra na filosofia de Kant com outro nome, o "mundo fenomênico".

A vontade é cega, pois não a controlamos. É uma força única por trás de tudo. Em nada tem a ver com a ideia de Deus ou de um ser superior. Para Schopenhauer, não há alguém que a direcione. Já a representação é o mundo em que vivemos, como vivenciamos e sentimos nossas experiências.

Mas ainda que tenhamos, segundo o filósofo, esta propensão ao consumismo, ele é potencializado pela mídia, presente num sistema dominado pelas preocupações de ordem material, em que os apelos do capitalismo saltam aos olhos. Não à toa, nossa sociedade é conhecida como a sociedade de consumo, em que o período pós-Revolução Industrial proporcionou um grande aumento da escala de produção e circulação de mercadorias, modificando o mundo significativamente.

Vilão para muitos e salvador para outros, ao longo do tempo, o capitalismo se apresentou de diferentes formas, o que acarretou em profundas transformações no espaço geográfico das sociedades. Passando pelo capitalismo comercial, industrial e financeiro, estamos diante, desde os anos finais do século XX, do chamado Capitalismo Cultural.

Consumismo: O que não nos contaram sobre o CapitalismoOnde histórias criam vida. Descubra agora