Hahahaha aí nossa sua trouxa que engraçado. Vai tomar no meio do seu rabo." - resmungou Bruno.
"Tá pensando que eu não sei zoar"-disse Teresa.
"Quando eu te zoar você não vai aguentar"- respondeu Arturo.
"Eu não estou gostando nada disso." - disse Aurora, a mais franzina e medrosa da turma.
"Calma gente, só uma brincadeirinha pra descontrair, vamos começar de novo. Dessa
vez é sério e sem brincadeira." - respondeu Teresa.
Todos se sentaram novamente em volta do tabuleiro e colocaram as mãos sobre a peça.
"Há algum espírito entre nós?" - Perguntou Arturo.
O objeto começou a mover-se lentamente e foi arrastando até a seta apontar para a palavra "SIM". Eles arregalaram os olhos.
"Não sou eu, se alguém estiver brincando agora é hora de parar." - disse Teresa.
"Você pode dar alguma outra manifestação da sua presença?" - perguntou de novo Arturo.
Uma pancada alta vinda da janela fizeram todos se assustar. Arturo arregalou os olhos e sorrindo continuou.
"A Teresa vai passar de ano?"
A peça se moveu lentamente para a palavra NÃO.
"A esse ponto do ano e com as minhas notas eu não preciso de espírito nenhum me dizer isso. Agora eu vou perguntar algo sobre você.
Espírito, o Arturo vai ter uma morte lenta e dolorosa?"
A peça lentamente se moveu para a palavra SIM.
"Você esta passando dos limites Teresa." - reclamou Arturo franzindo a testa, enquanto os outros tremiam de medo "Você pode nos dizer seu nome, ou te chamamos de espírito?"
A peça novamente começou a mover.
Primeiro, moveu-se lentamente até a letra M,depois a letra E, depois S e com uma velocidade anormal completou com as letras TRE.
"Mestre?" - perguntou Teresa. "Está de sacanagem." - completou.
"Você não quer deixar o espírito bravo." - disse Arturo. "Mestre, você pode nos responder tudo que queremos?"
Outra vez a peça moveu-se demasiadamente rápido. Todos olhavam com olhos arregalados para o tabuleiro lendo, AQUI NÃO.
"Onde então?" Perguntou Arturo.
Teresa e os outros garotos retiraram suas mãos do objeto. Arturo por fim retirou sua mão também e antes que ele pudesse dizer qualquer coisa a peça moveu por si própria.
Em um ritmo acelerado o objeto soletrou "CAVE".
Arturo sorriu. Cave era como os adolescentes chamavam uma caverna que ficava em um parque da cidade. Apesar de ser proibido entrar nessa caverna os jovens sempre se reuniam lá para usar drogas ou outros atos de promiscuidade. O lugar em si tinha uma energia negativa que assustava Teresa que havia ido ao local pouquíssimas vezes.
"Nunca que eu vou entrar na cave pra fazer essa brincadeira estúpida. E vocês também não deveriam. Eu já escutei muitas histórias onde as pessoas se deram mal. A gente não sabe quem ou o que está nos respondendo."
"Você não quer deixar o espírito bravo, quer Tere..."?
Antes mesmo que Arturo pudesse terminar de pronunciar o nome de Teresa as cortinas do auditório se fecharam. A escuridão no auditório era completa e o terror começou.
Teresa sentiu duas mãos tocarem seus ombros com força e arremessando-a longe.
Ela foi escorregando no piso de madeira encerado, um de seus tênis voando para o lado. Ela gritou alto, queria falar, mas não encontrava palavras. Ela sabia que não havia sido empurrada por um de seus amigos , nenhum deles tinha tamanha força.
As mãos outra vez lhe tocam, desta vez nos braços. Ela foi puxada, distanciando ainda mais de seus amigos que gritavam seu nome desesperadamente. Teresa rolou e ficou de bruços para tentar levantar, mas foi detida por uma mão em sua cabeça que puxando seus cabelos, elevou sua cabeça alguns centímetros e logo depois arremessou-a contra o piso. Sangue escorria misturado com suas lágrimas e saliva. Em choque, com dor e sem forças ela se entrega e para de se
debater.
Teresa havia aceitado sua morte, começou a rezar para que a morte fosse rápida para que seu tormento acabasse. Ela pensou em seus pais, sendo filha única o sofrimento deles seria insuportável, especialmente para sua mãe. Novamente ela sentiu uma dor excruciante, agora em suas costas. A dor foi seguida de um barulho de chicote. As chicotadas continuaram até que ela, não suportando mais, desmaiou.
O resto da turma não via nada, mas ouvia tudo. Aterrorizados, eles correram para a sala adjacente onde se encontrava a porta de vidro grande que dava para fora da escola. Gritando e esmurrando a porta eles conseguiram a atenção de alguém que passava na rua.
"Moço, socorro. Estamos trancados aqui, avise na secretaria e peça que alguém venha abrir para nós. Uma de minhas amigas está machucada."- gritou Arturo para o homem do lado de fora.
Ele fez um sinal de positivo com o polegar e saiu em direção a entrada da escola.
Passado alguns minutos eles escutaram mais barulho no auditório e foram ver se era a ajuda chegando. A diretora, seguida da coordenadora e do zelador entraram furiosos e quando viram Teresa no chão foram a seu socorro tirando sua atenção dos demais.
Aproveitando o momento Arturo enfiou o tabuleiro em sua mochila.
O zelador correu para cima do palco e desaparecendo atrás da cortina acendeu as luzes. A coordenadora e a diretora se ajoelharam ao redor de Teresa.
"O que aconteceu aqui?" - perguntou a diretora.
"Nós só estávamos brincando. Fechamos a cortinas e a Teresa começou a gritar. Pela escuridão não conseguimos encontrar a porta. Acho que ela teve um ataque e caiu." -respondeu Arturo, recebendo olhares fulminantes de Bruno e Aurora.
"Direto para a diretoria, os três." - resmungou a coordenadora.
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Ouija
ParanormalArturo é um adolescente que todos consideram mentiroso, desafiador, problemático e enxerido. Ele está sempre se metendo em encrenca e levando os outros junto. Ele gosta de invadir casas abandonadas, ir a lugares proibidos e fazer tudo que os adultos...