continuação 2

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Era necessário aprisionar um demônio e, se feito como devia ser, seria bastante

simples. Eu vira já o Mago fazê-lo duas vezes. De cada uma delas, contratara

bons homens para ajudarem na tarefa e correra tudo sem problemas. Mas este

trabalho era um pouco diferente. Havia complicações.

Sabem, é que o padre era irmão do próprio Mago.

Eu vira-o apenas uma vez quando tínhamos estado de visita a Horshaw na

Primavera. Ele deitara-nos um olhar fuzilante e fizera um enorme sinal da cruz.
no ar, o seu rosto distorcido pela raiva. O Mago nem sequer olhara na direção

dele porque sempre se haviam detestado e não se falavam há mais de quarenta

anos. Mas o sangue falava mais forte e ele acabou por me enviar a Horshaw.

- Padres! - bradara o Mago. - Por que não se limitam àquilo que sabem

fazer? Por que têm sempre de interferir? Qual era a idéia dele, ao tentar

enfrentar um estripador? Deixem-me fazer o meu trabalho e os outros que

façam o seu.

Por fim acalmara-se e passara horas a dar-me instruções pormenorizadas sobre

o que havia a fazer e indicando-me os nomes e moradas do aparelhador e do

pedreiro que eu tinha de contratar. Chamara também um médico, insistindo que

só ele serviria. Eis outra contrariedade, porque o médico vivia a alguma

distância. Tive de mandar recado e só esperava que ele viesse imediatamente.

Olhei para a mulher, que limpava delicadamente a testa do padre com um pano.

O seu cabelo branco, liso e engordurado fora afastado do rosto e revirava os

olhos febrilmente. Não chegara a saber que a mulher pedira a ajuda do Mago. Se

assim fosse, ter-se-ia oposto, por isso ainda bem que ele não me conseguia ver

naquele momento. As lágrimas escorriam dos olhos da mulher e brilhavam à luz

das velas. Era a governanta, nem sequer da família, e lembro-me de pensar que

ele devia ser realmente muito bom para ela estar tão transtornada.

- O médico não tarda a chegar - disse-lhe -, e ele vai dar-lhe algo para as

dores.

- Toda a vida sofreu - respondeu-me ela. -

Também tenho sido um grande incômodo para ele. Vive apavorado com a idéia

da morte. Ele é um pecador e sabe o que o espera.

O que quer que fosse que tivesse feito, o velho padre não merecia isto. Ninguém

merecia. Era sem dúvida um homem corajoso. Ou corajoso, ou muito estúpido.

Quando o demônio começara a fazer das suas, ele tentara enfrentá-lo sozinho

usando as ferramentas de um padre: o sino, o livro e a vela. Mas não é assim que

se lida com o escuro. Na maior parte dos casos não teria feito diferença, porque

o demônio limitar-se-ia a ignorar o padre e o seu exorcismo. Ele acabaria por se

ir embora e o padre, como sucede com frequência, ficaria com os louros.

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⏰ Última atualização: May 12, 2016 ⏰

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