Capítulo 3

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Saí na rua para ver o que estava a acontecer, foi aí que vi uma nuvem vermelha sobre a lua, o sul da vila estava toda num tom vermelho sangue não se via nada nem mesmo uma árvore.

Corri para casa do Sr. Carlos chamei-o, pegamos nas nossas lanternas e fomos andando no meio da vermelhidão, chegando lá , não vimos nada de anormal, então pensamos que talvez fosse apenas a passagem de um furacão mas, em Cabo Verde nunca tivemos tal acontecimento.

Quando voltávamos para nossas as casas, a meio do caminho vimos uma criança brincar.

Ela saltava e rodava seu vestido, o vento balançava seus cabelos cacheados e negros.

Uns três metros longe dela, ela parou com a cabeça abaixada
e começou a cantar, assim com essas palavras,lá lá,lá,lá lá lá,lá,lá lá lá,lá,lá lá lá,lá,lá, e depois ãh,ãh,ãh ãããaããh, num ritmo bem lento e suave.

Não sabíamos o que fazer ela parecia tão inocente, sr. Carlos chegou um pouco mais perto dela: então princesinha, o que fazes na rua a esta hora da noite? A intenção era levá-la para casa.

Ela deu uma gargalhada bem alto, que ecoou na vila toda, em
segundos estripou o Carlos com as suas mãos, levantou os olhos negros pra mim com
as mãos cheias de sangue e restos de Carlos, riu e se transformou num monstro
horrível, comecei a tremer.

Caí no chão,senti o mundo desabafar ,minha cabeça tremia,pensei, se é um pesadelo quero acordar agora.

Mas não era então comecei a gritar para ela:

_ Saí satanás, saia daqui, vai te embora, corri para minha loja gritando socorro.

Entrei e fechei a porta, a minha casa começou a tremer, tudo nas estantes começaram a cair no chão.

Sentei-me embaixo do balcão da loja e comecei a orar, e lá fora ela cantava, é o pai do céuu, vou comer o cristooo, lá,lá,lá,láláaaa. Que macabra
pensei.

Ouvindo isso, achei que para mim era o fim, rezei pai-nosso, pedi misericórdia a deus com todo o meu coração, entreguei a minha alma a deus, pedindo ajuda. Senti alguma coisa cair no chão com muita força, achei que ela tivesse arrebentado o teto, mas não.

Fui ver o que era , com as pernas bambas, encontrei o livro de orações do meu pai. Lembrei-me que nele tinha muitas orações contra diabos e demónios, então comecei a desfolhar o livro mas a diabinha não me deixava concentrar.

_A cuca vai pegaaaaaar.

Desgraçada, digo e abri o livro encontrei a oração que precisava, e começei a citar as palavras:

"spiritus dei ferebatur super aquas, et inspiravit in facien hominis spiraculus vitae. Sit michael dux meus, et sabtabiel servus meus in luce et per lucem. Fait verbum halitus meus; et imperabo spiritus aeris hujus, et refrenabo equos solis voluntate cordis meis, et cogitatione mentis mede et mutu oculi dextri. Exorciso igitur te, creatura aeris, per pentagrammaton et in nomine tetragrammaton, in quibus sunt voluntas firma et fides recta. Amen. Selah. Fiat."

Com essas palavras, ouvia gritos, choros, risos, cantares,tremores e muito vento batia nas paredes velhas da minha casa, sentia que algo lutava contra a vida lá fora.

Minutos depois uma pequena explosão fez-se e o brilho da lua entrou pelos buracos deixados no teto da minha casa. Abri a porta e vi a velha e antiga casa se
evaporar, um vermelho sujo que conforme subia ia desaparecendo dando lugar ao
velho acinzentado da casa, e o verde e castanho da nossa pequena vila.

E tudo isso pequena aconteceu numa Sexta-feira 13. FIM!


Para uns Sexta 13 é dia de azar, para outros é só um mito, por isso não adianta tentar convencer seus amigos do contrário.

A PEQUENA  VILAOnde histórias criam vida. Descubra agora