Fiquei um pouco constrangida com o que tinha acontecido e deitei a minha cabeça na almofada ficando assim a olhar para o teto... Espera aí!, estava numa casa, com teto!!!! Já estava à tanto tempo sem ver pessoas e casas que agora até um teto era uma coisa importante para mim! Depois lembrei-me: qual a coisa da qual sentes mais saudades (sem ser falar com outra pessoa, óbvio!)? CHOCOLATE! E então levantei-me devagar para não me magoar e corri a pé coxinho até a uma sala que julguei ser a cozinha. Procurei, vasculhei e desarrumei tudo em todas as prateleiras e gavetas e não encontrei nada a não ser talheres, guardanapos e frutas. A minha busca tinha sido em vão.
Estava tão comprometida nos meus pensamentos que nem reparei na pessoa que estava à minha trás, uma mulher com os lábios gretados e um olhar cínico, estava vestida com um macacão laranja que, surpreendentemente lhe ficava bem, olhava para mim como se tivesse feito algo de mal, o que não compreendi, e esperei pelo que ela ia dizer:
-Então, sua rapariga das cavernas, eu tive de abdicar do meu quarto pra estares aí a sujar os meus talheres com as tuas mãos ensebadas? Ingrata...
Eu nem fiquei zangada com o seu tom de voz frio porque não fazia ideia do significado de "abdicar","ensebadas" e muito menos sabia o que significava "ingrata", eu nem estava concentrada no que saía da sua boca, estava era a tentar entender se ela era ou uma mulher muito peluda ou um macaco ligeiamente careca. Deixei-a a falar sozinha enquanto abandonava aquela cozinha vazia.
-Vais obrigar-me a limpar a trapalhada que fizeste?
E abafei o som daquela voz esganiçada com o bater da porta do quarto em que entrei. dirigi-me à cama que se encontrava perfeitamente a meio do quarto, e deixei-me cair naquela cama com um cheiro que me deixava à vontade, foi aí que me apercebi que estava no quarto errado, mas não me importei, fechei os olhos e fiquei a pensar que até que me podia habituar a viver assim, e adormeci.
....................................................Meia Hora Depois.....................................................
Oiço o som da chuva a cair e apercebo-me que já é de noite, fico a olhar pela janela, onde no exterior é possível ver uma pequena plantação de batatas, e é quando uma memória antiga surge: "Estava a brincar com a minha boneca, que estava toda coberta de terra e o cabelo estava todo despenteado, mas não parecia me importar, e antes de uma mão me cobrir a boca com um pano mal cheiroso, a última coisa que vi foi uma casa velha com uma pequena plantação de batatas e alface."
Levanto-me com cuidado para não cair, o que me fez perceber que alguém me tinha abafado com um cobertor cinzento, e ao sair do quarto não consegui evitar tropeçar numa chinela. Paro e espero para que ninguém me tenha ouvido, e depois segui pelo corredor que ia dar à cozinha, pois tinha fome.
Lembrei-me do cacho de bananas que tinha descoberto mais cedo numa prateleira à minha esquerda e arranco duas delas, as que pareciam menos verdes e dou meia volta para voltar ao quarto onde tinha adormecido, mas foi aí que me apercebi da porta de outro quarto que estava escancarada...
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Abandonada
AdventureEsta é a vida de Vanessa, uma rapariga selvagem e apaixonada que é mais do que parece enquanto sobrevive aos contratempos inevitáveis da sua vida...