capítulo 2

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Acordo com alguém mexendo nos meus cabelos, não consigo ver nada está escuro, tento me mover mas estou presa, tento chamar a mamãe mas tem algo tampando minha boca, começo a chorar estou assustada, cade a mamãe.
- shhh seja uma boa menina - escuto a voz do homem mau, mamãe não gosta quando o chamo assim, mas ele me machuca.
Ele segura meus cabelos e os puxa pra trás, grito por causa da dor e ele bate em meu rosto, me encolho e mordo o lábio com força para não gritar de novo, isso o deixa com raiva.
- o que está fazendo ? - ouço a voz da mamãe gritando, graças a Deus mamãe está aqui agora ela vai me salvar do homem mau.
- não se meta nisso vadia - berra o homem.
Escuto os saltos da mamãe fazerem toc, toc no chão e sei que ela está vindo até mim.
- solte-a agora mesmo, seu bêbado.
Com isso o homem solta meus cabelos, sinto as mãos macias e frias da mamãe em meu rosto.
- querida você está bem ? - mamãe pergunta, balanço a cabeça concordando para ela, quero falar para ela que o homem me machucou de novo, mas ela chora muito quando falo isso, não gosto de ver a mamãe chorando.
Me assusto com um grito que escapa dos lábios da mamãe.
Ela solta meu rosto, queria ver o que está acontecendo, quero ajudar a mamãe, mas não consigo.
Me assusto com o barulho alto de coisas quebrando e os gritos da mamãe machucam meu ouvidos, queria tampa los mas estou amarada.
- eu falei para não se meter vadia estúpida.
Outro barulho.
- pa- para por- favor... - mamãe está chorando, a não, por que ela está chorando?
Sinto as mãos do homem tirando o pano do meu rosto.
- quero que ela veja tudo isso.
- nãoo - mamãe está jogada no chão com várias coisas quebradas ao seu redor, incluindo o seu abajur favorito, ele esta todo despedaçado, será que é por isso que ela esta chorando? Olho para seu braço, está sangrando, mamãe deve estar com muita dor, não consigo mais ver a mamãe, minhas lágrimas não deixam.
Aperto meus olhos deixando cair as lágrimas nas minhas perninhas que arde um pouco por causa dos cortes que o homem fez, ainda não sarou mesmo a mamãe cuidando.
Agora posso ver a mamãe ela está muito triste, o homem está indo até ela, ele bate com força nela, e ela cai no chão, eu tento gritar mas não sai som algum começo a soluçar de desespero, ele puxa a mamãe e a joga de novo, ela grita sem parar.
- nãooo, nãoo - quero ajudar, mas não consigo - querida, querida - mamãe está me chamando - feche os olhos, agora meu anjinho, obedeça a mamãe - faço o que ela pede, aperto com força meus olhos, sem os abrir em momento algum.
Acordo suada e no chão do meu quarto, tremendo compulsivamente, lágrimas escorrem dos meus olhos sem parar, me sento e abraço meus joelhos, está tudo bem, foi só um pesadelo, está tudo bem, foi só um pesadelo... Fico repetindo sem parar essas palavras em minha mente, até abrirem a porta do meu quarto, não olho para ver quem é, não me importo.
- Maia, ei, ei olha pra mim - meu tio me sacode - foi um pesadelo? - ele pergunta me encarando, confirmo com a cabeça, e ele me cobre com o cobertor me abraçando, até então não havia percebido que estava nua.
- calma está tudo bem - murmura esfregando a mão em minhas costas.
Vejo Melina entrar no quarto com uma xícara de chá, depois de muita persistência da parte do meu tio e de sua filha tomei o chá e um comprimido para dormir.
Os pesadelos não só voltaram como estão piores.
E se não fosse pelo comprimido eu teria passado o resto da noite relembrando aquela noite horrível.
Assim que acordo, me lembro dos acontecimentos, Paul está morto, a minha salvação, e a cura dos meus pesadelos se foi, e deixou tudo pior.
Me obrigo a levantar, lavo o rosto e me visto com a mesma roupa da semana passada, graças ao meu tio estão limpas de novo, eu o amaldiçoou em segredo por tirar o cheiro de Paul.
Desço as escadas prendendo meus cabelos, não estou a fim de pentear. Ao chegar na cozinha ouço Melina falar com meu tio.
- eu sei pai mas temos que fazer alguma coisa ela está se drogando e isso é horrível - como ela sabe disso? E que exagero eu posso parar se querer.
- a morte dele mexeu muito com ela... Ela não tinha mais pesadelos, e agora... Agora voltou tudo como era antes - meu tio sempre me defendeu, dez de pequena, acho que ele sente pena.
- eu não diria que está como antes, esta pior, muito pior e eu não duvido que seja por causa das drogas - Melina deve ter mexido nas minhas coisas de novo, xereta ela não sabe nem da metade das  coisas que passei, não sabe a  merda que era minha vida, das milhares de noites que passei me escondendo para que o cretino não me bate se de novo, ou eu desse a ele mais um motivo para ficar bravo e espancar minha mãe até a morte enquanto ela tentava me defender, não sabe os motivos dos meus pesadelos, não sabe o vazio que sinto por saber que Paul esta morto, assim como minha mãe, mesmo assim a dor de saber que nunca mais irei velo consegue ser pior do que a perda da minha mãe, não por que eu a amava menos, mas por que eu era muito pequena para entender toda aquela situação.
Aquele merda de situação...
Para mim chega, saio pelos fundos colocando o capuz.
Começo a correr, correr muito até esquecer dos pesadelos, dos xeretas que se metem na minha vida e das vozes alto destrutivas que não saem da minha cabeça.
Quando vejo estou na frente da casa de Paul, por todo o gramado tem homenagens, fotos, flores, cartas que ele jamais poderá ler, ver ou até sentir.
Abro a porta e entro na casa, este lugar não me trás a paz de antes nem o conforto, agora só serve para acumular poeira e guardar recordações dolorosas.
Vou até sua estante e ligo o som, deixando que a nossa música preenche o local, olho para sala, aonde afastava -mos os móveis e dançávamos.
Começo a caminhar até seu quarto, e o tempo todo sendo bombardeada com lembranças felizes, até mesmo as brigas que sempre acabavam em beijos.
Mas paro no meio do caminho, talvez por hábito, não sei dizer, abro a porta e é como se ele ainda estivesse aqui, sua cama mal arrumada, sua guitarra num canto guardada em perfeito estado, e uma fotografia minha roubada, Paul havia procurado por dias está fotografia, mas Trevis fez questão de esconder, ele dizia que as luzes o favoreciam nessa imagem, mas eu sei que ele gostou dessa foto porque foi a partir deste dia que descobri uma paixão por música, e foi graças a ele, Trevis ama se gabar por isso, descobri um talento inato, dizia ele. Saio do quarto e fecho a porta.
Quando chego em frete o quarto de Paul, fecho os olhos, acho que uma parte de mim ainda tem esperança de encontra lo deitado na cama com aquele sorriso nos lábios, os cabelos bagunçados e os olhos sonolentos, aqueles mesmos olhos em que eu me perdia.
Mas quando abro a porta tudo que vejo é uma cama vazia e fria.
Olho ao redor e vejo nossas fotos juntos, abraçados e sorrindo, seu perfume suas roupas, seus lençóis, tudo.
É como se arrancasse meu coração toda vez que tento respirar.
Tiro minhas roupas e me visto com as dele, passo seu perfume e abraço sua fotografia, enquanto deito do seu lado da cama e chorro até adormecer.
- isso não é real Maia, você não pode viver num mundo de fantasia para sempre - susurra Paul me abraçando com mais força, olho para ele sem entender - estou morto Maia, você não, então não haja como se estivesse.
- é como me sinto Paul, não quero viver sem você, não posso.
- você não irá, em quanto precisar estarei ao seu lado.
Acordo calma, mas triste, gostaria de nunca mais acordar desse sonho, assim poderia ficar com Paul, já que o único lugar que me fazia sentir segura também me dá pesadelos.
Olho ao redor e não vejo nada que mostre a presença dele, a não ser suas fotos, me levanto a corro em direção a elas, pego uma de cada vez, olho para elas, gravando as imagens uma de cada vez em minha alma, e em um ataque de raiva começo a joga las contra a parede, jogo todas, depois viro a cômoda derrubando tudo em cima dela no chão, jogo suas roupas por toda parte, preciso me livrar dessas lembranças, dói de mais telas, abro uma garafa de uísque, e a bebo enquanto danço pela casa.
- você disse que não me deixaria querido, você prometeu, e cade você agora, me deixou sozinha nesse inferno - passo as mãos derrubando tudo que vejo pela frente.
Quando estou na metade da garafa já não consigo distinguir um quadro da televisão, começo a ficar fraca em quanto a sala começa a girar, quando percebo estou no chão, com as mãos sangrando e uma garafa vazia, com esperança de que Paul entre pela porta e corra até mim, ou acordar ao lado dele e perceber que tudo não passou de um pesadelo, a como eu queria isso, mas Paul tem razão, não posso viver num faz de conta, ele se foi e não vai mais voltar, até o meu subi consciente já sabe disso e eu não.
Olho ao redor, observando a bagunça que fiz, sorrio por imaginar a bronca que receberia de Paul.
- a culpa é sua... - Acho que já posso falar que estou no segundo estágio do luto.

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