Segunda-feira. Todo mundo odeia as segundas, elas são insuportáveis, não é? Parece aquele tipo de garota, nojentinha e que faz questão de jogar algo na sua cara pelo resto da vida. A segunda-feira faz isso, joga na sua cara que seu fim de semana maravilhoso, havia acabado. E bem, eu fazia o papel da garota.
Oh, céus. A filha mais nova dos O'Hare... seria ela a enviada do próprio Lúcifer?
Essas coisas sempre me faziam rir. Não era nada anormal ouvir uma asneira dessas, na verdade, era bem comunal.
"Como você pode questionar a existência de Deus? "
"Você deveria queimar na fogueira. "
"Ela deve ser uma bruxa. "
"Ela é só uma mimada que quer atenção. "
De todas as frases mundanas de meu dia, a que sempre me incomodou fora a sobre chamar atenção. Eu não precisava de nada disso para poder realmente chamar atenção de alguém. Se você espera alguém que fica tímida com elogios ou cora com qualquer comentário, esse alguém não sou eu. Sei que sou bonita, sei que eu sou gostosa, sei que meus cabelos fazem inveja a muita gente e minha bunda é maravilhosa. Aliás, tenho ótimos peitos.
Sim, como podem ver, também sou muito humilde.
Hahá.
Desci as escadas lentamente, brincando com os cachos de meu cabelo para manter minha atenção em algo, minha mãe não estava em casa e minhas irmãs provavelmente estavam fazendo algo inútil da vida delas, para variar só um pouquinho. Fui até a cozinha e enchi meu copo de leite, bebericando um pouco e indo procurar o achocolatado em algum armário. Vamos as novidades de uma linda segunda-feira, não tinha achocolatado.
– Muito esperto, Sum. – Murmurei para mim mesma, lambendo meus lábios e bebendo todo o resto do leite de uma vez só. Peguei uma balinha de menta na minha bolsa, porque eu não ia subir somente para escovar os dentes por um achocolatado mal tomado.
Saí de casa faltando alguns minutos para o horário que minha mãe havia marcado para mim na igreja. A cidade não era tão pequena, mas infelizmente, eu morava bem próxima daquele local.
A igreja não era tão ostentadora, era bem simples para falar a verdade, e até um prédio bonito, nunca havia me incomodado de forma real, meu problema era com as pessoas que estavam nela. Empurrei a porta central e adentrei o local, examinando as colunas tão conhecidas que fizeram parte dos maiores pesadelos de minha infância. Não ouvi barulho algum de movimento, então apenas encostei meu corpo numa das colunas e comecei a mexer em meu celular, abri uma rede social qualquer e fiquei passando os olhos pela vida dos outros, tentando buscar distração.
– Não pode usar esse tipo de roupa aqui. – Ouvi uma voz atrás de mim e arqueei a sobrancelha, virando o rosto lentamente para encarar o ser que havia me enviado aquela frase.
– Com licença? – Falei num tom óbvio, analisando a sombra dos pés a cabeça.
– Esse tipo de roupa é inapropriado para o local. – A sombra deu mais um passo e um sorriso malicioso se formou em meus lábios ao perceber o formato do rosto e corpo desta... e que sombra ein.
Os olhos do homem eram azuis como um céu claro, tinha um quê profundo e misterioso nesses olhos. Sua barba era alguns centímetros acima do meu quesito de apropriado, mas dava para o gasto. O cabelo era longo e castanho, batia no ombro, dava até um ar mais puro para aquela perdição. Só depois disso, que eu percebi verdadeiramente a roupa que ele estava usando. Uma blusa social, azul, dobrada até o cotovelo. Uma calça também social, escura e com uma bainha perto dos pés, estes estavam, ironicamente, vazios, tocando o chão frio de forma direta.
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O Pecado de Summer O'Hare ✔️
Literatura FemininaEla é ateia. Ele é um padre. Ela quer a prova da existência de Deus. Ele tem essa missão. Mas será que até mesmo a mais forte de toda a fé pode ser corrompida? Mesmo que seja por uma simples garota mimada que só quer o inferno?