Capítulo cinco – Agosto.
[...] O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente. – Clarice Lispector
- Srta. Collet? – Levina chamou-me após dar duas sutis batidas na porta. – Sra. Dallas no telefone. Não. Ah, não. Era tudo que se passava na mente de Alicia. O dia não podia ficar pior. Quer dizer, o dia iria ficar a partir do momento que decidisse atender aquele telefona. Já podia prever a dor de cabeça imensa que lhe causaria.
- Me diga, por favor, que é Alex... – Alicia rezou, internamente, para que fosse a noiva no telefone, contudo, as feições retorcidas no rosto de Levina denunciaram que suas preces não foram ouvidas.
- É Francesca. – Alicia respirou fundo, uma, duas, três vezes, mas nada adiantou. Já não bastava ter de lidar com Vivian Dewes e Gisele Rizzon hoje, não poderia suportar mais uma mãe da noiva surtada nesse dia. Francesca Dallas que a desculpasse. Ou não. O que estava acontecendo no mundo que existiam tantas mães malucas soltas por aí? Vivian e Gisele, com certeza, poderiam liderar o chá da tarde de mães infernais e distribuir bonecos de vodu de Ally. Até já imaginava as pautas das reuniões: "Meu filho acha que pode se livrar de mim." "Aquela lá não será minha nora." Depois de enfrentar mães assim, Alícia nunca mais reclamaria de seu pai pedindo netos. Ele era um anjo.
- Diga que estou ocupada e retorno quando puder... – Passou as mãos pelo rosto, sentindo o cansaço a dominar... E o dia mal havia começado – E depois me lembre de ligar para Alex e resolver diretamente com ela. - Muitas vezes, as próprias noivas eram mais tranquilas em relação ao casamento que mães ultra-controladoras e dominadoras. Alicia podia, certamente, imaginar Gisele e Francesca com chicotes açoitando seus funcionários. Vivian era mais ardilosa e provavelmente usaria alguma artimanha psicológica. Talvez essa também fosse uma pauta da reunião. Métodos de torturas atuais. Um arrepio lhe percorreu o corpo ao pensar.
Voltou ao trabalho, correndo para confirmar horários de entrega, recuperar atrasos e garantir o sucesso do evento de amanhã. Onde veria, outra vez, Mason Dewes. Talvez vê-lo junto a Ella a faria entender os mil motivos que tinha para esquecê-lo. Pela primeira vez, Alicia se viu sem qualquer vontade de fazer seu trabalho. Cada minuto parecia consumi-la, levando tudo de si para manter-se firme e não esperar pro qualquer passo de Mason. Ela tinha que manter-se na linha. Deveria enfrentar apenas essa noite e depois a do casamento, então, estaria livre. Esperava que, até lá, já tivesse tirado um certo executivo de olhos azuis de seu sistema.
(...)
- Sr. Mason? – Lourdes deu três batidinhas na porta, fazendo com que Mason se forçasse a levantar. – Sra. Dewes ordenou que lhe acordasse agora, para encontrá-la em seu escritório.
- É claro que ela ordenou – Mason resmungou, sabendo da atitude típica da mãe. Nem estar cumprindo parte de sua vontade no dia de hoje lhe livrava. A verdade é que Mason sentia-se sufocado. Se fechasse os olhos, podia lembrar-se de algum filme em que alguém aconselhava o personagem a não se casar. Casamento era prisão e Mason sentia-se indo para forquilha nesse momento. – Bom dia, Lou. – Beijou-lhe a face, recebendo um aceno corado em troca. Lourdes trabalhava há anos para Mason, desde que o mesmo resolveu morar sozinho, e ainda assim corava toda vez que ele lhe demonstrava afeto. A família Dewes não era tipicamente afetiva, mas Mason e Mia livraram-se tais genes. – Vou tomar café na mansão. – Avisou – E não se esqueça de comparecer para a festa, por favor. Como convidada.
- Sr. Mason, eu não creio que...
- Apenas Mason, Lou. Estarei te esperando! – Mason vestiu uma roupa casual no closet, sabendo que seu smoking já o aguardava em seu antigo quarto na mansão. Não se deu ao trabalho de tomar banho ou arrumar o cabelo, sabendo que isso também lhe aguardava por lá. Antes de ligar o carro, percebeu seu celular vibrar com uma mensagem de Mia:
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Tea, love and Nice
Lãng mạnEla o fazia sentir a paixão que há tempos não sentia. Ele a fazia duvidar de todas as suas certezas. O destino nunca quis tanto brincar com o coração de duas pessoas como fazia nesse momento, colocando a prova todos os seus princípios e conceitos. A...