Parte 2 - Normalidade Abalada

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No terraço do Grande Hotel o ar artificial conseguia representar o clima de uma floresta. O som de alguns pássaros fez a respiração de Moses suavizar. Os jardins suspensos pareciam ser plantados no céu. No entanto, o clima ficou pesado quando uma nuvem cobriu a lua.

– Mas, Yussuf você garante que o garoto ficará do nosso lado? – Disse uma das vozes. Moses reconheceu o nome de seu pai então continuou.

– Sim, Moses é um bom garoto, irá entender. Garanto que ficará ao lado da família.

– Parece que o assunto chegou? – Brincou Moses. Chegando à clareira viu o pai e seu convidado – Dr. Mugabi, não tinha reconhecido sua voz, é um prazer revê-lo, tenho ideias para discutir com o senhor.

– Sinto, mas acho que deixaremos para amanhã. Já estou me despedindo de seu pai. Até Yussuf, aproveite o tempo com seu filho, pois amanhã levá-lo-ei comigo.

Moses achou estranha a saída do homem, mas a educação falou mais alto e ele se calou.

Pai e filho viram o homem se consumir em sombras na floresta do hotel, então Moses falou:

– Do que falavam pai?

Yussuf se embaraçou. Puxou forte o charuto e respondeu:

– Acalme-se garoto! Aproveite a festa. Quando a hora chegar, nós conversaremos.

– Mas...

– Moses, você é muito jovem para questionar as decisões de seu pai. Aproveite a festa antes que o clima fique mais pesado.

O pai abraçou-o forte e o deixou com seus pensamentos e dúvidas.

Após um tempo desceu direto para o quarto, já não tinha mais cabeça para festa. O que houve com o pai? Por que tanto mistério?

Deitou-se e só então a lembrança do que a moça falara ficou clara "embaixo do travesseiro procure a verdade sobre os meninos inocentes".

Ficou intrigado. Fez uma pesquisa rápida pelos termos: meninos, inocentes e verdade. Mas, nada achou de consistente.

Apenas um blog antigo e mal feito que não passava credibilidade. Nas pesquisas relacionadas anúncios do tipo "Saiba mais sobre teorias da conspiração? Clique".

Moses desconfiava dessas teorias, mas leu um artigo sobre desaparecimentos de crianças há mais de dez anos. O texto dizia que megaempresas estavam envolvidas, numa conspiração que usava crianças como cobaias.

Quando chegou nesse ponto fechou o projetor holográfico e soltou uma bufada de desprezo. "Que loucura, crianças como cobaias? Deve ser brincadeira, desde a invenção dos Homúnculos não precisamos mais de cobaias humanas. Quem roubaria crianças dos seus pais? Quem seria mal a esse ponto?".

Descrente, Moses foi dormir. Devido ao cansaço logo adormeceu, mas o mundo dos sonhos estava conturbado.

"Via uma mulher gritando/Ela o abraçava e chorava/Havia um homem de joelhos implorando algo, mas os mascarados armados não escutavam/Atrás viu uma moça, mais velha do que ele segurando um menino/Reparou que ele próprio era só um bebê/Então os mascarados o arrancaram da mulher e a machucaram/Ainda pode vê-la sangrando/O homem que implorava agora avançou nos mascarados, mas um deles atirou/Um feixe de luz o cegou, quando voltou a enxergar parecia que o peito do homem explodira de dentro para fora, o sangue cobria a mulher, as crianças taparam os olhos e ele sentiu alguns respingos no seu rosto".

Acordou e suava frio. Na projetação da parede eram 3am. Decidiu que levantaria e no movimento para sair da cama, sua mão esbarrou em alguma coisa embaixo do travesseiro.

Uma tira de papel com marcas em alto-relevo. "Isso é braile!". Apesar de não saber ler braile, com seu computador poderia traduzir. "Estão te enganando, fuja o mais rápido que puder. Procure por Aaron em Kibera".

– A moça deve ter deixado isso aqui "embaixo do travesseiro" Ha! Pensei que era uma metáfora!

Voltou ao artigo e reparou que os casos envolviam a empresa do Dr. Mugabi. Não podia ser coincidência. O Dr. tinha opositores é claro, mas logo quando ele estava em sua festa e quando em poucas horas seria seu chefe era estranho.

Moses e AaronOnde histórias criam vida. Descubra agora