Depois de muito ler e reler as cartas que Edu mandava pra ela, Mônica se senta novamente em sua cama e se deixa envolver com a música que toca em seu walkman:
" Nossas meninas estão longe daqui
Não temos com quem chorar e nem pra onde ir
Se lembra quando era só brincadeira?
Fingir ser soldado a tarde inteira?
Mas agora a coragem que temos no coração
Parece medo da morte, mas não era então
Tenho medo de lhe dizer o que eu quero tanto
Tenho medo e eu sei por que: Estamos esperando... "E suas lágrimas escorrem por seu rosto ao som de mais uma música.Neste instante, Andréa entra em seu quarto e fala:
- Tá na hora, M...
- Já estou indo!!!! Não precisa repetir! - Diz Mônica exaltada.
Andréa a olha admirada como Mônica em alguns momentos está um doce e extremamente frágil e em outros se torna tão agressiva.
Ela se levanta deixando o walkman na cama e segue com sua irmã pelo corredor da casa. Para ela que vivia a maior parte do tempo dentro do quarto parecia que aqueles corredores ficavam cada vez mais longo. Com aquelas paredes frias, brancas...
- Aqui, o João já tá te esperando.- diz Andréa
Mônica entra na sala e fica olhando para João, seu tio.
- Não vai sentar? - pergunta ele.
- Vou sim, tio.
João dá um sorriso e comenta :
- Vejo que você está um pouco angustiada. O que aconteceu?
- Tio, não quero conversar sobre nada!!!
- Eu sei...Mas você precisa se abrir, você precisa confiar em alguém!!! É por que não em seu TIO? - diz com um sorriso.
- Porque não quero falar com NINGUÉM!!! Você não pode me obrigar a NADA! - grita Mônica
- Marta, controle-se!!! - Diz João
- Eu não sou Marta!!! - Diz Mônica tentando se levantar
João a segura e grita :
- Andréa, por favor!!
Andréa entra na sala.
- Por favor me ajude com Marta. Ela está super-exaltada.
- Mas doutor... Eu já deu o tranquilizante dela há um tempo.
- Então a contenha enquanto sigo minha conversa com ela. Marta precisa encarar a realidade. Não podemos ela seguir pensando que é Mônica. Que você é sua irmã e eu seu tio.
- Pareeeee!!! - grita Marta se debatendo - Eu não sou MARTA, sou MÔNICA!!!
João fica de frente pra ela enquanto e fala calmo enquanto ela é contida por Andréa.
- Eu sou João, mas não sou o seu tio. Sou o seu psiquiatra. Andréa não é sua irmã, é a enfermeira. Aqui não é sua casa, é um Centro psiquiátrico. Você não é Mônica, é Marta.
- Paremmmmm, por que estão fazendo isso comigooooo?? Por que??Vocês se aproveitam que o Eduardo está longe e não pode me tirar daqui e fazem isso comigo!!!
- Marta, presta atenção: Eduardo, Du ou Dudu, o quê você resolver chamá -lo, ele não existe. É invenção da sua cabeça. Você idealizou um romance com um personagem de uma música. E também se transformou em um personagem.
Marta OLHA assustada para seu psiquiatra e pergunta :
- E as cartas que ele me manda sempre? - Diz conseguindo se libertar dos braços da enfermeira Andréa.
Ela corre para seu quarto sendo seguida tanto por João quanto por Andréa.
- MARTAaaaa!!
Quando chegam ao quarto de Marta, ela já está com um monte de cartas em seus braços.
- Aquiiiii, as cartas!!! Vocês querem me convencer que Eduardo não existe???? Como se ele me manda cartas sempre! SEMPRE!!! - Diz com os olhos esbugalhados para os dois funcionários da clínica psiquiátrica.
- Você as escreve, Marta. Você senta e pega seus papéis de cartas e escreve cada uma delas enquanto escuta suas músicas no walkman. - explica Andréa.
Marta encara os dois assustada e pega as cartas de Eduardo, ou melhor, dela e começa a reler uma por uma e notar que realmente as letras das cartas são iguais as suas.
- Como pode isso, Doutor??? - pergunta chorando.
- Nossa mente, Marta. Algumas vezes prega peças na gente.Você vai vê que com as novas medicações que passei pra você, a realidade vai fazer mais sentido do que o mundo que você criou.
Andréa toma Marta nos braços e a ajuda deitar em sua cama. Enquanto Marta chora silenciosamente.
- Vai ser difícil pra ela aceitar que o romance entre Eduardo e Mônica era só uma música, Doutor- comenta Andréa a João.
- Verdade, mas não podíamos permitir que ela continuasse vivendo a partir de músicas que escutava...
- Mas se a fazia feliz, Doutor??
- Infelizmente não mais, Andréa. Quando ela veio pra cá, sua família havia avisado que ela já estava perdendo a noção da realidade. Mas ainda estava bem; agora, se percebe que estava deprimida. E isso não podemos permir. Eu sou o Dr. João. Não posso ser o tio João do Santo Cristo. Você também não pode ser Andréa Doria.
- Verdade, Doutor. Melhor deixarmos ela dormir.
Quando estavam saindo, Marta se vira para eles e pergunta :
- E a tia Maria Lúcia como está?
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Quando me lembro de você... (COMPLETO )
Short StoryMônica é uma jovem, que nos meados dos anos 90, passa seus dias lendo e relendo cartas do grande amor de sua vida.O que será que os impede de ficarem juntos?