Certa vez, um homem veio do céu e matou minha mulher. Caminho ao lado dele, agora, numa
montanha que flutua sobre o mundo. A neve cai. Ameias de pedra branca e vidro tremeluzente
se escancaram da rocha.
Ao nosso redor gira um caos de ganância. Todos os grandes Ouros de Marte descem sobre
o Instituto para reivindicar os melhores e mais brilhantes do nosso ano. Suas naves infestam o
céu matinal, cortando um mundo de neve e castelos fumegantes em direção ao Olimpo, que eu
invadi poucas horas atrás.
— Dê uma última olhada — ele me diz enquanto nos aproximamos da sua nave. — Tudo
que veio antes não passou de um sussurro do nosso mundo. Quando você sair desta montanha,
todos os laços estarão rompidos, todas as promessas terão virado pó. Você não está
preparado. Ninguém jamais está.
No meio da multidão, vejo Cassius, seu pai e os irmãos se dirigirem à nave deles. Seus
olhos nos encaram com fúria por sobre a brancura, e me lembro do som do coração de seu
irmão ao dar sua última batida. Uma mão áspera com dedos ossudos aperta meu ombro e o
agarra de modo possessivo.
Augustus mira seus inimigos.
— Os Bellona não perdoam nem se esquecem. Eles são muitos. Mas não podem te fazer
nenhum mal. — Seus olhos frios se cravam em mim, seu prêmio recém-conquistado. —
Porque você pertence a mim, Darrow, e eu protejo o que é meu.
Assim como eu protejo.
Há setecentos anos meu povo é escravizado e desprovido de voz e de esperança. Agora
sou a espada deles. E eu não perdoo. Não esqueço. Portanto, deixe que ele me conduza à sua
nave. Deixe que ele pense que me possui. Deixe que ele me receba de braços abertos na sua
casa para que eu possa destruí-la.
Mas então a filha dele segura minha mão e eu sinto todas as mentiras caírem com força
sobre meus ombros. Dizem que um reino dividido não pode se manter de pé. Mas quem diz
isso não faz nenhuma referência ao coração.