Capítulo 1

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21... 28... 35... 42...

Imersa n'água, a noite é ainda mais silenciosa.

Os ruídos distantes da cidade são anulados.

A tranquilidade é plena.

49... 56... 63... 70...

Meus movimentos são lentos. Meu peso, menor. No entanto, tenho de me esforçar para afundar o mais profundamente possível, até finalmente sentir a sola de meus pés tocando o chão escorregadio da piscina.

Minhas costas descansam contra a parede atrás de mim.

Nada mais existe ao redor.

77... 84... 91... 98...

A pressão em meus pulmões, privados de ar por algum tempo, ainda é suportável. Por isso a ignoro, cerrando os olhos e deixando que somente a sequência de números preencha minha mente.

105... 112... 119... 126...

Neste exato instante, o ritmo de meus batimentos, agora nítidos ao pé do meu ouvido, se ajusta à contagem.

133... 140... 147... 154...

Entreabro os lábios por apenas um segundo, deixando que uma pequena quantidade de ar deslize por eles.

Abro os olhos para vê-la subir à superfície em forma de bolhas.

Lá, as luzes baixas refletem sobre a água, mas quase não a atravessam.

161... 168... 175... 182...

Somente quando a pressão em meus pulmões torna-se insuportável é que firmo os pés contra o piso escorregadio e me impulsiono lentamente para cima. Porém, não interrompo meu raciocínio.

189... 196... 203... 210...

Meu corpo encontra a superfície e como numa avalanche os sons mundanos me atacam por todos os lados – ainda que o deck esteja absolutamente vazio.

Somente o fato de escutar o silêncio de forma ainda mais nítida me perturba, e por conta disso, perco a contagem.

Se pudesse, viveria embaixo d'água por muito mais tempo do que era capaz.

Se pudesse, seria como um peixe, que não se renderia às limitações do próprio pulmão.

Estar dentro d'água, em profundo silêncio, acompanhada somente dos números, é feito uma benção.

São justamente eles – os números – que, tão exatos quanto o são, livram minha mente de todo e qualquer pensamento abstrato. São eles quem me relaxam por completo. É a eles a quem eu recorro quando os problemas da vida simplesmente são demais.

Como agora.

Como neste caso.

Inspirando fundo para retomar o fôlego por completo, nado lentamente até a borda e checo, sob as roupas dobradas ao chão, o horário no visor do aparelho celular.

23h52min.

Estou há quase uma hora dentro d'água.

Deixo o aparelho novamente sobre a muda de roupas, olho ao redor e decido nadar de uma ponta à outra da piscina larga por uma última vez.

Ao chegar à primeira extremidade, sinto os músculos dos meus braços e das minhas panturrilhas arderem.

Já havia algum tempo desde que não visitara o lugar, nem nadara. Praticamente saía de forma e por me dar conta disso eu me sinto ainda mais frustrada do que toda a situação por si só já me deixa.

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