Betrayed

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Meses já haviam se passado desde o meu quase suicídio.

Eu ainda não tinha descoberto quem tinha me salvado.

E estava começando a aceitar o fato de que não iria descobrir.

Mas seja lá quem fosse, eu era muito agradecida.


🌊


Alguns dias depois da minha tentativa de suicídio, eu havia começado a visitar a praia. Saia só para pensar. Eu já estava ficando de saco cheio. Eu precisava tomar atitudes sobre meus pais. Sobre mim mesma. Depois do meu surto, tudo que conseguia pensar era a prisão que eu havia vivido todos aqueles anos, e o quanto eu queria me libertar dela.

E acho que foi aí que Marcos entrou em minha vida. O salva-vidas que havia feito parte do trabalho de me salvar. Sempre que eu ia a praia para pensar, ele estava lá. Então começamos a conversar sobre quem poderia ter me salvado ou, em outras hipóteses; como eu mesma ter conseguido sair da água, e não me lembrar. Depois de muitas conversas, eu já não sabia de mais nada. Estava confusa demais em relação a tudo isso, com tantas suposições a solta.

E depois que algum tempo se passou, eu e Marcos acabamos criando certa intimidade. Ele foi a primeira pessoa para quem contei tudo sobre meus pais, sobre minha vida, sobre mim e sobre tudo.

Passamos a nos ver em lugares que já não eram mais a praia. Marcos demonstrou querer mais que amizade. E as coisas começaram a ficar mais sérias.

Para falar a verdade, ele me deu o que eu queria. Ele me deu felicidade. Eu estava cansada de ficar dentro de casa, estudando, e me esforçando tanto. Eu queria experiências novas, queria me divertir. Marcos me deu aquilo. E foi no momento certo. Eu não poderia não ficar apaixonada por ele.

E foi então que começamos a namorar. Eu ainda não havia contado nada a meus pais, e muitas vezes fingia que estava estudando, quando na verdade conversava com Marcos. Aquilo era novo pra mim. E eu era tão ingênua. Estava tão animada com todas as coisas novas que estavam vindo, todos esses sentimentos. Aqueles sentimentos eram bons. Eu passava dias sorrindo. E eu havia até conseguido entrar na faculdade de medicina, tão desejada. Foi no dia que entrei, que contei a meus pais que estava com alguém.

No começo eles não haviam aceitado direito. Eles ainda não haviam descoberto sobre o que tinha acontecido depois da briga daquele dia. Eles continuavam me mandando. Então brigamos mais feio. Só que senti que naquela briga, de alguma forma, eu tinha sei lá, ganhado. Eu já havia passado na desejada faculdade. O que mais eles queriam?

Então as coisas ficaram assim. Eles ficaram mais afastados que nunca. E eu os mantinha lá, afastados. Eu queria assim. Tudo em que pensava era Marcos. Eu podia ter dezoito anos, mas ele era minha primeira paixão. Eu estava tão boba como uma menina de quatorze anos. Não conseguia me controlar. E eu era tão fraca.


🌊


– Então, o que vai fazer hoje à noite? – perguntei, enquanto chegava com a comida do café.

– Infelizmente, estudar. – Marcos disse, bufando. - Tenho uma prova importante amanhã.

– Ah... - falei, desanimando. – E você sabe que dia é amanhã?

– Sexta. – ele disse, dando de ombros. Revirei os olhos. – Não fique assim – Ele riu. – Eu sei que dia é amanhã.

– Ah... – Dei um sorriso enquanto ajeitava a comida – Só estava pensando em nós dois fazermos uma...comemoração adiantada. – Então dei um rápido beijo em sua testa, e saí de cena. Pude ouvi-lo bufar, desanimado. Ri comigo mesma. Era engraçado provocá-lo.

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