The judgement

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Estava tenso, olhando para todos os lados, esperando algum sinal de vida. Que não fosse o dos tritões e sereias que estavam alguns metros abaixo de mim, fazendo não sei o que naquele momento. Então meu medo ficou maior, o que mais eles poderiam fazer? Será que estavam se preparando para revidar? Eu esperava que não.

Olhei para a garota. Então levei um susto: no mesmo momento, ela abriu os olhos. Nos olhamos fixamente por alguns segundos, até que ela começou a empurrar meus braços para sair. Eu estava em completo pânico. Nunca tinha feito aquele tipo de contato com qualquer humano. Ela me olhava com medo, mas percebi que depois seu olhar mudou, estava confusa.

Então outro humano chegou atrás dela, e ficou me olhando com um olhar muito pior que o dela. Esse, já me olhava aterrorizado. Como esse eu fosse uma abominação, ou algo do tipo. Como se ela tivesse acabado de sair das garras de um monstro. E talvez para ele, eu fosse isso mesmo.

Demorou alguns segundos para ela perceber sua presença, virar e encará-lo. Pude ouvir tudo que eles falaram.

– Você está vendo o que eu estou vendo? – o humano disse, me olhando apavorado. Depois, trocou o olhar para a humana.

– Estou vendo exatamente a mesma coisa. – ela respondeu num tom forte, com certeza das palavras que saíam de sua boca. Não sabia se ficava com medo daquilo, ou não. Ela continuou. – E foi essa coisa, que acabou de me salvar. – a sensação foi como se ela havia respondido todas as minhas perguntas se eu nem mesmo perguntar. Ela se sentia grata á mim. Eu não precisava ter medo.

Pelo menos não dela. Mas daquele humano sim. O olhar dos dois pousaram em mim. Eu não sabia o que dizer. Eu não podia simplesmente sair dali, eles poderiam espalhar alguma coisa. Tudo que as sereias temiam podia acontecer. Será que acreditariam neles?

Eu estava abrindo a boca para falar alguma coisa, alguma coisa que eu nem sabia, mas sentia que devia falar, quando fui puxado para baixo de novo. Me perguntei se era o mesmo tritão de antes que havia me puxado. E eu estava certo. Era ele mesmo.

– Se você disser que eu estava aqui, que eu fiz parte disso, ou por meu nome em qualquer lugar, eu juro, por Poseidon, que eu mato você. – disse, me ameaçando com ferocidade.

Pena que eu não consegui ficar com nem um pouco de medo. Se alguém descobrisse sobre o que aconteceu hoje, a primeira coisa que faria seria mencionar ele. Iria provoca-lo, mas no mesmo instante que ele terminou a frase, tinha nadado quilômetros longe dali.

Subi de volta a superfície, apenas deixando minha cabeça fora da água, para ver se os dois humanos ainda estavam lá. Eu não sabia se era sorte ou azar meu, mas eles tinham ido embora.

🌊

Chegando em casa, fiquei sem reação ao ver que minha mãe estava acordada, e muito nervosa. Cheguei de mansinho para não assustá-la, mas acho que não ajudou muito.

– Mãe? – perguntei com medo do que estava por vir.

– Arthur! Que emboscada você se meteu filho...Kiara...eu não acredito...

– Mãe... – respirei fundo. – O que quer que seja, não se preocupe, acho que Kiara é tão inocente quanto eu sou.

– Vieram do conselho. Faz alguns minutos. Eles não especificaram o porquê, mas amanhã você tem que estar na Legião. – ela respirou fundo, tomando coragem para fazer alguma pergunta, ou para ouvir a resposta. – O que você fez, Arthur? – seu tom estava entre raivoso e triste.

Engoli em seco. Não sabia o que viria pela frente. Havia acabado de cometer o pior crime que um sereiano podia, depois de matar, é claro.

E agora eu teria que ir a Legião? Eu estava muito, mas muito ferrado. Eu não queria imaginar qual tipo de pena iriam me dar por isso. Só sabia de uma coisa: qualquer que fosse minha punição, eu ia levar aquele tal tritão comigo.

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