O Avô

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  Hoje é mais um dia que eu preciso levantar para ir a escola, só de pensar eu nem tenho vontade de sair da cama, ainda mais com os sonhos que eu tenho tido ultimamente.
 
  Me levanto e entro no banheiro do meu quarto, tiro as roupas e abro o chuveiro, a água quente escorrendo pelo meu corpo, embaçando o box do chuveiro, me fez parar para refletir, passo o shampoo no cabelo e tiro, mas quando eu abro meus olhos vejo uma sombra pelo box embaçado do chuveiro, daí eu grito:

- Mãe é você?

Mas fico sem resposta, e então repito.

- Mãe é você? Você quer me assustar?

  E continuo sem resposta, então termino de tirar o shampoo do rosto e do cabelo para tentar enxergar, eu desligo o chuveiro e fico observando a sombra através do box do chuveiro para ver se é minha mãe, então eu decido abrir o box para ver quem era, abri o box e não tinha ninguém no banheiro.
  Peguei a toalha, vesti as roupas e sai de lá rapidamente, fiquei de frente ao espelho do meu quarto e peguei o secador para secar meu cabelo, enquanto eu secava o meu cabelo eu vi na janela do quarto uma sombra, achei que tudo fosse minha imaginação por conta do meu sonho, e ignorei.
Desci as escadas e minha mãe estava lá fazendo panquecas para o café da manhã.

- Mãe você foi no banheiro?

- Que horas?

-Quase agora, quando eu estava lá.

-Não, por quê? Aconteceu alguma coisa.
A voz dela estava com o tom de preocupação.

- Nada, só pra saber.

Ignorei e mudei de assunto antes que ela perguntasse mais.

- Que cheiro bom, tem calda de chocolate?

-Claro que sim, que panqueca é panqueca sem calda?
Ela deu uma risada.

- Concordo.
Também ri.

- Cadê a Jacqueline ainda dormindo?
Jacqueline era minha irmã mais nova, tinha apenas dois anos, eramos as únicas filhas de minha mãe.

- Sim, dorme feito um bicho preguiça, dorme tanto que não acorda nem pela fome.

- E meu pai já foi trabalhar?

- Na verdade não ele foi resolver alguns assuntos.
Ela falou sem jeito, tentando disfarçar.

- Aconteceu algo mãe?

- Não, não se preocupe.

  Percebi que ela não queria falar do assunto e então perguntei se o café não ia sair, ela detestava quando eu falava com ela como se ela fosse uma garçonete.

- Por favor uma panqueca a modo da casa.

- Você sabe que eu não gosto, de quando fala assim, quer me estressar?

  Eu ri, enquanto ela colocava a panqueca no prato, coloquei a calda por cima da panqueca.
  Queria que minha amiga chegasse logo para irmos à escola, mas parece que a cada mordida que eu dava, a hora demorava mais para passar.
Ouvi a buzina do lado de fora da casa e sai levando um pouco de panqueca em um saco de papel.

- Até que fim chegou Mariah.
Disse eu enquanto andava em direção ao carro.

- Não me culpe Emily, não é fácil dirigir com fome.

- Me pergunto como você tem um carro.

- Se não fosse minha mãe eu não teria, se aquela ridícula fizesse uma comida que prestasse eu não ficaria com fome.
Disse ela se referindo a sua madrasta.

- Ela não é chata, toma trouxe panqueca.

- Ela pode até não ser chata, mas é uma péssima cozinheira, por que meu pai não fica com mulheres que sabem cozinhar?

- Você vai ter que perguntar pra ele.

- Como você sabia que eu ia querer panqueca?
Disse ela surpresa.

- Eu sou sua melhor amiga né. Eu tenho que saber essas coisas.

  Ela já dirigia o carro e eu olhava para fora do carro, olhei para uma loja e vi meu avô lá dentro, instantaneamente falei para ela parar o carro, ela parou e me perguntou o que foi.
Eu saí do carro e corri para a loja, quando entrei lá dentro olhei para todos os lados e não vi ninguém, perguntei a uma atendente e ela não disse nada.
Mariah entrou na loja e me perguntou:

- O que aconteceu?

- Nada pensei ter visto uma pessoa que eu conheço.
Falei quase tão branca quanto a neve

- Vamos para a escola, sua malocada.

Voltamos ao carro e durante a viagem não parei de pensar nisso, eu havia visto meu avô na loja, mas ele morreu a dois anos, eu só podia estar maluca.

- Vamos, já chegamos. Onde está? Nas nuvens?
Falou Mariah notando que eu não estava bem.

- Estava pensando.

- No que?

- Nada.

- Acho que esse é seu problema, talvez deveria pensar em alguma coisa.

  Entramos na escola e encontramos nossas amigas, finalmente aquele dia estava parecendo normal, a escola sendo chata, as aulas sendo chatas, e quando tudo parecia melhorar na aula de história, olhei pela janela da escola e vi um velho do lado de fora, me levantei.

- Algum problema Emily?
Perguntou o professor e todos da sala olharam para mim.

- P-Posso ir ao banheiro?
Ele assentiu.

  Corri para o lado de fora da escola e pude ver um velho entrando no beco da escola, enquanto me aproximava me perguntava se era mesmo meu vô, ou se eu estava louca.
Me aproximei e o velho estava de costas, e o chamei:

- Senhor, posso lhe ajudar.

  Ele se virou lentamente mas eu já tinha as minhas conclusões.

- Sim, pra começar você podia me dar um abraço.
Falou ele logo que se virou.

- Vovô, não acredito o que você tá fazendo aqui? Você não morreu?
Falei enquanto o abraçava.

- Sim, mas eu estou aqui não estou?

- Como assim você morreu, mas está aqui? Estou louca?

- Não, você não está louca só está aprendendo os dons da família.

- Que dons? Espera eu tô mesmo falando com um morto? Só pode ser brincadeira.

- Não é brincadeira, você pode falar com os mortos, você pode ver o outro lado.

- Como assim?
Perguntei sem entender.

- Você pode ver os dois lados, o lado dos vivos e o lado dos mortos, todos mortos você verá.

- E de quem eu puxei esse dom?

Antes de responder Mariah apareceu no beco me chamando:

- Emily o que você tá fazendo aqui?

Olhei para Mariah, mas não respondi nada, olhei para trás para ver meu vô, mas ele tinha sumido, me deixando a pergunta, eu enlouqueci ou eu realmente havia visto meu vô?

- Eu... Desde quando está aí?
Perguntei a Mariah.

- Desde agora, mas e você?

- Eu só precisava respirar.

- Em bêco sujo?
Mariah não entendia e nem precisava.

- Como me encontrou?

- Eu estava vendo o treino dos meninos e te vi entrar aqui.

- Vamos sair daqui okay? E esquecer isso.

- Tá bom, tudo bem?

-Sim

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