O Regimento

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    Pelas ruas de Vila Velha ratos corriam em busca de carcaças e frutas podres, seus ossos, repentinamente, são esmagados por crianças brincalhonas, entre elas estava um garoto chamado Afonso, cujos olhos eram claros como a lua refletida.
Em sua praça, um grande palco de madeira trabalhada. Pessoas de todas as classes se amontoavam em sua volta. Quatro homens bem trajados com meias brancas e longas oravam. Em suas costas um gigantesco estandarte se encontrava, cujas as bordas eram douradas. ⅔ de todo pano era vermelho e amarelo e em seu centro estava bordado uma águia de asas abertas frontalmente e, debaixo de suas douradas asas estava um grande triângulo vermelho com pontas pretas e em seu meio um círculo dourado. Os quatros bem trajados gritavam em mesma proporção palavras feias e bonitas que descreviam o modo como a coroa tratava a pátria brasileira.
- Ei! Malditos! O que pensam estar fazendo. - Gritava -
Instantaneamente toda a atenção do palco redirecionou-se para sete homens com uniformes do regimento, que andavam sem pressa em direção aos homens bem vestidos. Logo o lugar é tomado pelo caos incessante.
- Venha logo Simplício, a rainha não nos perdoará novamente - disse Cipriano parado em frente a um homem morto.
- Se não for eu... Quem... Quem será esse que terá coragem suficiente para bater no peito e dizer: " eu sou um verdadeiro brasileiro"!?
- Não se engane, não viverá em uma nação livre apenas proferindo palavras e frases bonitas.
- Pois que vá, tu não é um brasileiro de verdade.
Com caras feias e raivosas, corriam os setes homens de casacas azuis.
- Lhe avisamos traidor, majestade não mais terá piedade de sua cabeça. - O carrancudo tenente apontou-lhe a ponta de sua pistola para seu queixo, pressionou e destravou, um soldado de peruca branca logo intervém. Caiam pingos de suor do rosto do orador.
- Maldito o que pensas que faz!? - Perguntou raivosamente o tenente.

- Senhor... - Gaguejou - Senhora rainha não autorizou! - Disse o jovem de dentes saudáveis.
- Hahaha - Gargalhou cuspindo -, a rainha me agradecerá.
- Não! - Gritou o garoto de olhos de claros mas, seus gritos apenas ecoaram num vácuo eterno. Seu pequeno corpo foi agarrado por braços frágeis de mulher e, sua cabeça foi levada para baixo de asas de coruja.
Um único disparo foi ouvido nas ruas de Vila Rica, uma fumaça mal-cheirosa pairou num céu sem nuvens. O sangue respingou violentamente nos rostos e nas fardas dos soldados, por poucos instantes o jovem de cabelos brancos ficou perplexo ao ver o homem se debater por poucos segundos com seu queixo despedaçado.
- Queimem logo esse monte de lixo e joguem no lugar mais amaldiçoado deste mundo! - Ordenou o tenente.

Naquela tarde os setes homens com excessão do jovem, amaldiçoava o cadáver que era tomado pelo fogo e na madrugada suas cinzas eram jogadas num grande buraco de cheiro horrível.

No amanhecer, Vila Velha foi tomada pelo silêncio tedioso da população, apenas as botas dos fidalgos, calçados dos camponeses e os pés nus que batiam a terra eram ouvidos.

Enquanto as casas, bordeis, comércios se estendiam, no seu extremo se erguia uma gigantesca igreja cujos sinos balançavam incessantemente.

Os Contos de JoaquimWhere stories live. Discover now