- É um garoto saudável, dona Encarnação - Dizia a parteira -, digo já que teu filho te trará orgulho. - Especulou a moça que parecia ter 16 anos.
Logo a parteira de olhos negros pôs-se a dar o garoto sangrento nas mãos carinhosas de Maria Paula.
- Seu nome... - Engasgou - Joaquim José - Disse com o maior tom de voz que conseguia falar -, este me trará grandes orgulhos, não é mesmo...
- Desmaiou - Apontou a parteira que logo direcionou palavras reconfortantes a Domingos.
Sem forças Encarnação desmaia de dor na cama de algodão.O amanhecer parecia feliz para Maria, mas era apenas mais um dia. Seu corpo pálido era cuidadosamente deitado sobre grossos panos no fundo de uma carruagem a qual logo era agarrada as rédeas. Os cascos do cavalo tropeavam no chão de barro que estendia de Santa Rita até Rio de Janeiro. Encarnação acordava toda madrugada com olhos tão abertos como o de uma coruja, Xavier não entendeu por muito mas, em uma madrugada qualquer enquanto o garanhão trotava, suspirou, fechou olhos, abriu-os e enxergou: mãos, pés e cabeças decoravam postes e placas ao longo da estrada, a imagem assustava Maria, Domingos não se importava a ponto de não enxergar a morte pairando sobre o percurso.
- Não quero que José se lembre destas cenas. - Lágrimas escorriam.
- Não se lembrará. - Respondeu.
Pôs-se a descer da carruagem e começar a tirar as mutilações, arrancou dois pedaços grandes de madeira de sua carruagem e transformou-as em uma cruz o qual o centro foi entrelaçado com panos rasgados, cavou uma cova não tão funda e não tão rasa, jogou os pedaços do corpo, cobriu e fincou a cruz. Se benzeu. Maria sorriu alegremente. O cavalo galopou.Fidalgos decoravam as avenidas e ruas de todo o Rio. Maria observava deitada os rios que se estendiam e seguiam as ruas do Rio, seu pai uma vez viajara para Europa á trabalho e lhe contara que lindos canais se estendiam na Holanda como na capital. Encarnação sempre sorria quando relembrava a infância com seu pai.
- São novos aqui? - Perguntou um garoto de rua que se aproximava da carruagem.
- Me diga, onde fica a igreja. - Exigiu
- Prata. - Disse o garoto aproveitador. Domingos franziu a testa ao ouvir aquela palavra mas logo puxou 3 moedas de prata do fundo do bolso da calça sem muito esforço e deu raivosamente na mão do garoto, ele sorriu.
- Segunda á direita. - Informou.O cavalo trotou até a segunda á direita, uma ponte se formava, fidalgos e carruagens decoravam a ponte de madeira larga.
A igreja era grande como Notre Dame. Xavier em poucos instantes pulou da carruagem e foi até Maria que parecia saudável como um touro.
- Consegue se levantar? - Perguntou carinhosamente Xavier á Maria. E respondeu.
- Sim, Domingos.Encarnação vestia uma saia azul que ganhara a muito tempo de seu marido, cobria toda sua perna e seus pequenos pés, seu tronco era coberto por panos brancos que não mais eram tão brancos, sua beleza disfarçava a sujeira de seus panos.
- Saiam negros, saiam! - Expulsava o padre, que vinha ao encontro dos dois. - São novos aqui? - Não esperou a resposta - Sou o padre Tiago. - Informou.
- Olá padre - Disse como se nunca tivesse conversado com um padre -, meu nome é Domingos, essa é minha esposa Maria - Apontou -, meu filho nasceu a poucos dias em Minas...
- Querem batizá-lo na cidade maravilhosa... Estou de saída mas, não recuso apresentar um filho de Deus ao senhor, tragam-no. E assim foram, sob a cruz o padre derramou água pura sobre a cabeça do menino.- Seu nome? - Perguntou.
- Jo... - Gaguejou pela emoção - É Joaquim. - Disse Maria.