Vozes

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   Martin acordou no meio da noite, depois de algumas horas de pesadelos intermináveis. Ofegante, olhou pela janela e viu os pingos de água que escorriam pela mesma.

- Ainda não é hora. - Falou o jovem, no quarto vazio. - Ainda não.

   Durante os últimos dias, o garoto vinha sendo perturbado constantemente por vozes em sua mente.

-Você precisa se livrar deles, de todos eles, eles atrasam sua vida... - Diziam as vozes, tentando convencer seu consciente de que isso era o correto a fazer.

   O menino se sentou na cama e encarou a janela. A luz da lua entrava de leve pela abertura, deixando o quarto com uma claridade sombria.

- Eu não posso fazer isso. - Afirmou ele, fechando os olhos com força. - Eu não consigo.

- Faça! - as vozes repetiam dezenas de vezes simultaneamente. - Agora!

- Chega! - Gritou ele, acordando seus pais.

   Martin se levantou e foi até a cômoda, que ficava do outro lado do quarto. Abriu uma gaveta, e dela tirou um par de luvas e um canivete que havia guardado alguns dias antes.

   Ele vestiu as luvas, pensando em impressões digitais, que poderiam ser encontradas posteriormente. Guardou o canivete no bolso e ficou paralisado por alguns segundos.

- Agora! - Repetiam as vozes, fazendo ele tremer.

   O jovem foi em direção à porta e andou até perto da escada. Ele caminhou em direção ao quarto dos pais, mas no meio do caminho, próximo à escada, encontrou seu pai.

- Meu filho, ouvimos você gritar, o que aconteceu? - Perguntou o homem.

- Nada de importante. - Respondeu Martin, com os dentes cerrados. - Me desculpe.

   O menino pôs suas mãos no peito de seu pai e o empurrou em direção à escada. O senhor caiu de costas, em silêncio, com uma expressão incrédula, batendo a cabeça no chão, no fim da escadaria.

- Continue! - Repetiam as vozes, incansavelmente. - Termine o que começou!

   Martin foi até o quarto onde sua mãe estava, abrindo a porta lentamente. Andou até a cama e encarou a mulher que estava deitada no lugar.

- O que há de errado, meu filho? - Perguntou ela, olhando em seus olhos.

   O garoto a abraçou e ficou em silêncio por alguns segundos. Tirou o canivete do bolso e o segurou n mão direita, sem que sua mãe visse.

- Faça! - Diziam as vozes, agressivamente.

   O garoto passou a lâmina com força pela garganta da mulher, deixando-a sem fala. Ele se levantou, evitando que se sujasse com o sangue, e voltou pelo mesmo caminho de antes.

   As vozes finalmente estavam diminuindo, acalmando sua mente, deixando-a livre para pensar corretamente. Martin desceu as escadas, até o lugar onde seu pai estava caído, então colocou o canivete em sua mão esquerda.

- Eu não estou arrependido. - Repetiu algumas vezes para si mesmo, antes de correr pela porta da frente até a casa da vizinha mais próxima.

   A polícia investigou o caso, mas acabou entendendo que o pai havia matado a mãe, corrido e escorregado na escada, onde também acabou morrendo. Os depoimentos de Martin favoreceram a história, já que disse que ouvira um grito, sons de passos apressados e logo depois alguém caindo da escada.

   As vozes diminuíram nos dias seguintes, fazendo-o entender que essa era a intenção delas. E o garoto estava pronto para satisfazê-las.

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