V

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Eu não estava mais em queda, eu nunca atingi as pedras. Eu abri meus olhos e olhei em volta. Eu estava de pé sobre os pisos de madeira familiar da casa. O zumbido se foi e o silêncio tomou seu lugar. Eu consegui! Eu estava no quarto “5”. Eu não sei como isso aconteceu, mas eu estava lá. O sentimento de medo se foi, e  estava incrivelmente feliz por estar viva. Depois de alguns momentos me recompondo e decidi olhar em volta para o resto da sala.

Minha felicidade durou pouco.

O quarto estava vazio, as paredes combinavam com o chão, e o teto combinava com as paredes, e nas paredes não havia portas ou janelas. Eu estava em uma caixa selada.

Eu não sabia como cheguei aqui, mas não havia forma de sair!

Naquele momento eu me perguntei se David tinha estado nesta sala, eu me perguntei se ele tinha saltado do penhasco e acabou nessa sala. E se ele fez, significa que ele conseguiu sair. Ele não estava aqui, eu estava sozinha. Ele conseguiu sair e eu faria o mesmo.

O pensamento de que David conseguiu escapar era minha única fonte de confiança que encontrei. Eu estava indo para encontrar um jeito de sair dessa sala, encontrar David e tira-lo para fora daqui. Eu andei por todo quarto, perímetro por perímetro passando minhas mãos pelas paredes para sentir qualquer coisa diferente que pudesse revelar a saída.

Nada.

As paredes eram impecáveis, apenas alguns arranhões, mas nada de uma passagem secreta. Comecei a bater em alguns lugares aleatórios nas paredes, Mas tudo era completamente sólido. A confiança começou a diminuir, eu estava começando a ficar sem ideias.

E foi ai que ela falou comigo.

- Maggie, você não deveria ter vindo aqui, Maggie.

Minha pele quase saltou de mim se fosse possível. Eu ainda estava de frente para a parede e a voz tinha vindo do meio da sala. Era uma voz de uma garotinha, pelo menos era o que parecia.

Eu me virei lentamente.

Eu estava certa, era uma menina loira, não mais que sete anos de idade, com os olhos azuis e um longo vestido branco. Ela sorriu para mim e falou novamente.

- Mas agora que você está aqui, vamos jogar um jogo.

Havia algo horrível sobre aquela menina. Ela não era assustadora como aquelas garotas de filmes de terror japoneses, ela parecia completamente normal. Se eu a visse na rua passaria despercebido. Mas olhando em seus olhos, senti um terror completo. Saltar do penhasco foi assustador, mas eu pularia de vinte vezes mais alto do que ficar sendo encarada por um minuto com aquele olhar em seus olhos sem alma. Depois de um momento de olhar, eu finalmente falei.

- Que jogo? Quem é você? – Eu murmurei.

- Se você perder, você morre.

- E se eu ganhar?

- Ele morre.

Meu coração se afundou, eu não podia acreditar no que eu estava ouvindo, mas eu sabia que ela estava dizendo a verdade.

- O que vai ser? – Ela sorriu

- Nada – Eu não sei onde encontrei coragem para responder esta criança demônio, mas eu não vim de tão longe simplesmente para deixar David morrer, e se eu morresse tudo isso foi em vão.

Eu escolhi não jogar.

Mas então eu vi.
A razão pela qual a menina me aterrorizava. Ela era mais do que uma criança. Olhando para ela, eu também vi o que parecia ser um homem grande coberto de fumaça, com a cabeça de um carneiro. Era uma visão horrível. Eu não podia ver um sem deixar de ver o outro. A menina ficou a frente de mim, mas eu sabia qual era sua verdadeira forma.

Foi a pior visão que eu já tinha visto.

- Péssima escolha – E com isso ela se foi.

Eu estava sozinha novamente em uma sala vazia e silenciosa. Só que dessa vez algo foi adicionado. Uma pequena mesa apareceu do nada, como se estivesse lá o tempo todo. Havia algo sobre ela, mas eu não podia ver de onde eu estava. Fui até a mesa e olhei par ao pequeno objeto.

Era uma pequena navalha, como uma que você encontraria em um estilete. Estendi a mão e peguei então um grito saiu de minha boca.

Quando estiquei minha mão, vi algo que nunca existiu antes. Havia uma marca no meu pulso, parecia uma tatuagem verdadeira com um único número “6”. Eu olhei de volta para a navalha e notei uma etiqueta fixada nela dizendo:

Do Gerente - Para Maggie
*Pensei que precisaria disso*

Depois de ler a nota, eu comecei a chorar incontrolavelmente. Lágrimas pesadas corriam pelo meu rosto de uma forma que nunca aconteceu em toda minha vida.
Eu caí no chão, permaneci lá por horas chorando. Não sabia mais se se tratava sobre David ou sobre me manter viva, não havia mais portas nessa sala, eu ainda estava presa. Mas ainda não era por isso que eu estava triste. Eu estava em depressão mais profunda possível. Completa depressão sem emoção. Eu me sentia vazia, e arranhei meu caminho até a mesa. Meus olhos caíram sobre a navalha, eu a peguei.

Eu ia me matar! Eu não podia lidar mais com isso! David provavelmente já estava morto! Eu estava presa aqui! Este era o fim!

Eu pressionei a lâmina contra meu pulso, logo acima do “6” que tinha aparecido na minha pele. Meus soluços voltaram, e eu fiquei sobre aquela dor agoniante e chorando coma a navalha pressionando contra meu pulso. David estava morto, e eu estava prestes a morrer. Nada mais importava e com um corte profundo eu passei a lâmina no braço.

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