Capítulo 5

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 Era sexta-feira e eu estava decidido, viajaria naquela tarde. Não tinha contado nada pra Fernanda, queria fazer uma surpresa.

Imaginei como ela estaria, havia mudado um pouco, mas fiquei pensando se isso teria afetado exteriormente também. Não conseguiria nem imaginar Fernanda mais feminina... ou sensual. Nem pensar! Ela só tinha vinte anos, ainda era uma menina. Aquele formando ia ter que ir tirando o cavalo da chuva.

Depois da aula eu fui direto olhar o mural para anotar no celular os novos lembretes de seminários, como eu disse, estava sempre precisando de créditos extras, e uma pesquisa não ia me fazer passar direto no semestre. Passando pelo corredor, olhei, distraído, para a lanchonete e vi Nadja conversando com um cara que eu não conhecia e não consegui evitar o pensamento de que ele não parecia ser muito inteligente, e acabei esbarrando em uma lata de lixo.

Antes de descer as escadas olhei novamente para Nadja, e o cara que não parecia inteligente, e a flagrei rindo de mim. Ou seria rindo pra mim? Pensei em ir me despedi, mas descartei logo esse pensamento. Quer dizer que éramos amigos então? Eu estava confuso, então apenas sorri de volta e acenei, recomeçando a caminhar em direção as escadas. Não prestei atenção em sua expressão mas a vi acenar de volta, e eu voltei meus pensamentos a Fernanda.

                                                                          **

As horas que passei no avião passaram tão rápido que quando me dei conta já estava desembarcando, acho que todas as minhas dúvidas me deixaram ocupado. Como só tinha levado uma mala, peguei um táxi e fui direto para a faculdade. Rodei como uma barata tonta por todos os cantos do campus, perguntando: "Conoces Fernanda Ribeiro? Ella es brasileña."

Desisti e fui caminhar pela cidade, queria saber se ela era mesmo 'chique'. Nossa, como aquela palavra me irritava. Encontrei um café ao ar livre e uma risada me chamou atenção, o local estava lotado e eu fiquei ali parado, apenas girando a cabeça procurando por Fernanda em cada milímetro daquele lugar.

De repente eu notei um movimento, alguém deixara algo cair e abaixou-se para pegar, então eu a vi. O homem pegou o celular do chão e voltou sua atenção para ela. Ela. Fernanda. Estava com uma blusa preta e um grande chapéu vermelho, seus cabelos estavam mais comportados e ela estava... usando um batom vermelho! Eu comecei a me aproximar e parei de supetão quando percebi que ela colocou a mão no rosto dele, ele segurou a outra mão dela, e ambos falavam baixo.

Eles estavam trocando carícias. Ela estava trocando carícias em público. Ela, que sempre dissera que jamais faria aquilo porque era brega. Decidi ir embora, mas antes de me virar, escutei o grito de Fernanda. Afinal, não tinha mudado tanto assim.

Ela foi em minha direção e me abraçou, notei que a blusa preta na verdade era um vestido. Um vestido justo, um pouco acima do joelho. Eu achava que a encontraria de chinelos, shorts, e uma camiseta do Brasil, só pra provocar.

– Nem acredito que você tá aqui! Por que não avisou que viria?

– Era surpresa. – na verdade eu é que estava surpreso.

Ela me puxou até a mesa onde estava e me apresentou "o formando".

– Esse é Sebastian, ele tem me ajudado bastante aqui. Não basta falar espanhol para morar na Argentina, não é? – ela falou, sorrindo. Geralmente era eu que fazia aquelas piadas sem graça.

– E esse é Rodrigo, o meu melhor amigo. – ela continuou.

Ele levantou e demos um aperto de mão, que quase me desintegrou. Depois dali fomos, só nós dois, andar pela cidade. Ela pediu para Sebastian levar a minha mala em seu carro.

– Então, tava morrendo de saudade de mim, não é?

– Nem imagina. O que aconteceu com você?

– Acho que estou apaixonada. – ela nem me esperou terminar de falar.

– Por quem? – eu perguntei, porque não tinha mais nada pra falar.

– Como, por quem? Sebastian, oras!

Oras!? OK, ela foi abduzida e roubaram sua personalidade.

– Ah, você acredita que hoje eu fui pra faculdade, e esqueci de levar a mochila?

Eu tive que rir. Na verdade eu gargalhei. A minha melhor amiga ainda estava ali, e eu ainda a amava, mas não estava apaixonado por ela. Tudo o que eu sentia era saudade, e medo de perdê-la. Ela era como uma irmã, por isso não queria que crescesse logo, por isso tinha ciúme. Precisei estar ali com ela para perceber tudo aquilo, e precisava deixá-la ser feliz. Afinal, todos merecem ser felizes.

Mais tarde naquele dia, resolvi matar outra saudade, dessa vez uma saudade diferente, pois não tinha nada de fraternal ali.

– Alô. – eu ouvi sua voz, quase sussurrada.

– Nadja?

– Eu.

♥ ♥

Bom, é isso gente. Espero que tenham gostado :D

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Obrigada pela leitura ♥

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