Conto 1: Na espreita

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Tadaoki-Ren* e Takeda-Ren caminhavam ao lado da muralha marítima. O som das ondas gigantes quebrando contra a irredutível parede de pedra poderia assustar transeuntes que não fossem acostumados a tal ruído, no entanto, os Ren despertavam assim que o mar revolto começasse a confrontar as pedras.

-Tadaoki? –Murmurou Takeda, ele era um jovem arqueiro e tinha como dever conter as primeiras ondas de invasores junto com seus "irmãos de Arco." Só até as tropas terem tempo se prepararem e partir ao encontro dos inimigos. Apesar de ter sido aprovado com louvor na seleção das forças de defesa, ele ainda era jovem. Portanto, cheio de medos e insegurança.

Takeda? –Respondeu Tadaoki, Tadaoki era um espadachim e alto funcionário do império. Estava sempre nas linhas de frente junto com seus comandados, disposto a dilacerar membros de qualquer um que se atrevesse a ir contra os ideais de sua nação. Era o oposto de Takeda, em alguns dias ele entraria na "meia idade".

-Ontem vi uma embarcação antes de me retirar de meus deveres. Não creio que seja "dos nossos".

-Tem certeza? Bom, você já começou a beber? Pode ter sido nada além de...

-Eu juro! Não foi uma visagem ou alucinação minha.

O Ren mais velho suspirou e se sentou em uma pedra abaixo de um velho pinheiro, tirou o capacete e deixou os cabelos pretos e arrepiados transparecerem, alguns fios brancos pontuavam a negritude de sua cabeça.

-Todo nosso domínio marítimo é protegido por um acordo centenário e por nossas Naus, Takeda, não há nada que temer. Somos conhecidos por não perder guerras.

O jovem Ren silenciou e continuou a ouvir o homem.

-Mas muito sangue foi derramado no mar, é uma surpresa que ele não seja vermelho nos dias de hoje... O navio que vistes noite passada, pode ser apenas uma assombração. A crueldade foi tanta naqueles tempos que eu posso jurar que os espíritos ainda não têm consciência de que já não pertencem a este plano. Ou então é só uma Nau de patrulha, o barco estava com as luzes apagadas?

-Não totalmente, pude ver alguns lampejos de luz na proa, acho que podiam ser velas ou uma fonte menor de luz.

-O barco se movia?

-Se estava se movendo então com certeza estava numa velocidade muito reduzida.

-Ah! –Assentiu Tadaoki. –Deve ser uma Nau de patrulha, muitas vezes eles navegam com as luzes apagadas, eles levam homens pálidos que enxergam no escuro como tripulação, assim não se perdem ou quebram o navio.

-Hum. –Finalizou Takeda.

-Mas... –Continuou o homem de meia idade. –Você não deveria ignorar os seus instintos de guerreiro, se acha que o navio era suspeito então reporte a intendência de guerra marinha, eles verão o que fazer, caso contrário paciência.

-Sim senhor. –Completou o arqueiro.

-Quer fazer isso agora?

-Tenho meus afazeres por agora senhor.

-Esse é o espírito. –Disse o homem, ele se levantou da pedra e pôs o capacete, ajustou a bainha com espada e seguiu o jovem até as baias onde ficavam os cavalos.

Em breve embarcariam para terras distantes acompanhando o imperador em negociações. O hipismo era um hobby comum aos dois homens e os faria esquecer que mais sangue seria derramado para assinar esse papel, que em questão de tempo seria comido pelas traças e esquecido junto com a alma dos soldados.

Enquanto montavam os cavalos, uma pequena esquadra de combate guiava uma nau estrangeira até o porto de Shinkata.

-

*Ren – Classe militar do Arquipélago do Dragão, eles fazem as vezes de polícia e exército do local, além de serem responsáveis pela defesa do imperador. Ren também pode denominar um ex militar que se tornou sacerdote.

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