II - Semelhança Cultural

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Enviar nova mensagem
<Akira...>
<Perdoa meus dramas e não desiste de mim :P Sério, se nós estivéssemos em um filme dramático de verdade eu já estaria chorando e soluçando apoiada no seu ombro nesse exato instante, nós dois sob a luz melancólica do luar>

Nova mensagem de "Akira, seu lindo"

<O que aconteceu? PS: Sorte que está nublado>

***

Sorrio ao ver a mensagem de Akira. Podemos até ter ficado chateados um com o outro horas atrás, mas sua preocupação se sobrepõe a qualquer outro sentimento. Faço uma panela de brigadeiro, colocando o doce em uma vasilha antes mesmo de esfriar, e aviso papai de que estou saindo.

— De novo, filha? Você diz que vem nos visitar, mas nem para em casa — ele faz bico, falsamente magoado, e rio, beijando sua bochecha.

A caminhada até a casa dos avós de Akira não é longa, e logo já estou diante do número 194 da Rua Magnólia. Abro o portão, usando a chave de emergência que fica com nossa família, e me esgueiro até sua janela, dando três batidas rápidas no vidro.

— Akira? — sussurro, levantando a esquadria de madeira e afastando as cortinas, passando uma perna para dentro do quarto.

— Júlia, querida! — exclama a avó de Akira, sorrindo, interrompendo a dobra de uma camisa sobre a cama para me abraçar — Que surpresa boa, por que você não entrou pela porta da frente?

— Fiquei com medo de que os senhores estivessem dormindo — digo, levantando os ombros e sorrindo também.

— Ah, você nunca atrapalha — ela ralha carinhosamente, colocando as mãos na cintura — Vamos lá para a varanda, que os rapazes estão tomando chá.

— Obrigada — agradeço, hesitante, tentando espiar o humor de meu amigo antes de sair do quarto por completo.

— Aconteceu alguma coisa, criança? Júlia parece preocupada.

— Nada não, obatchan — tento sorrir para minha avó postiça, passando a vasilha com brigadeiro de uma mão para outra — foi uma confusão com meu namorado. Ex namorado — corrijo, contendo a vontade de revirar os olhos, ao mesmo tempo que meu celular emite um bipe de nova mensagem.

Nova mensagem de "Ryota"
<Minha mãe queria conversar. Ela já reservou um jantar de noivado no restaurante onde aquele seu amigo trabalha, lá em Brasília, e não pode mais desmarcar>

— Julinha, Julinha — a velha senhora balança a cabeça observando a careta que faço ao ler a mensagem — Ryota, não é?

***

Após uma xícara de chá verde — do qual nunca gostei muito, mas o avô de Akira fazia questão — termino a noite tendo meus pensamentos esclarecidos por sua esposa gentil, maravilhosa e aficcionada por brigadeiro, assim como o neto.

— Querida, de acordo com ponto de vista tradicional, os Tanaka estão certos — ela se pronuncia, balançando uma colher cheia de doce no ar — Detesto admitir isso, até porque eles foram bem diretos, mas é um raciocínio mais ou menos assim: se você tem filhos, deve cuidar deles e colaborar para seu crescimento, não deixando tudo nas mãos de alguma... Como que se chama aquele emprego mesmo, Akira?

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