My Little Love

Capítulo 1 e único.

🎧 Leia ouvindo a música do capítulo 🎧
Conheci Jason no verão de 1970.Ele, dois anos mais velho.
Talvez,por seu carisma ou por seu senso de humor, me apaixonei tão rápido.
Nós eramos o oposto,eu adorava casas no campo,ele odiava qualquer coisa relacionada a natureza, eu amava tempestades e barulho de chuva, já ele, amava dia ensolarados e quentes ; amava filmes de ação, já Jason preferia séries de ficção científica.
Tantas oportunidades de dar errado,tantas chances de não funcionar,mas... era apenas nós...
Seus olhos azuis sempre sorrindo, seu jeito sempre otimista e preocupado me encantaram de um jeito nunca imaginável.
Como se nos conhecêssemos a anos.
Abdicaria de tudo por ele.
Um amor puro,com sofrimento e suas brigas, mas sempre presente.
Ainda me lembro da textura de sua voz aveludada,como me tocava com suas mãos calejadas ou como toda sexta a noite trazia gardênias laranjas para mim.Ainda me lembro de suas manias mais esquisitas,como sempre ler segurando o livro na mão esquerda ou adorar tomar café ouvindo música clássica.
É tudo tão real,as lembranças são tão reais,que ainda me pego esperando ele chegar gritando como foi meu dia.
Ainda me lembro de nossos passeios em cima de sua moto velha, ou de nossos perrengues para conseguir pagar um mísero cinema.
Nossas conversas de fim de tarde, ou nossas intermináveis ligações onde a vontade de desligar nunca existia, nossas conversas despretensiosas, de suas mãos passando em meus cabelos quando estava doente ou um ombro para chorar por um ente querido que se foi ou até mesmo por um personagem que não existia. Nossas reuniões em dias chuvosos debaixo da coberta. Seu olhar brilhando quando me via chegar. Suas mãos passando por meu corpo em quanto me beijava devagar, sem pressa, como se tivéssemos todo o tempo do mundo, o mundo inteiro de possibilidades
Ainda me lembro quando se ajoelhou em minha frente no meio do campo de gardênias com todos nos olhando, tirou uma pequena caixa prata de seu bolso e ali me perguntou se gostaria de levar seu sobrenome para o resto dos meus dias.E naquele mesmo lugar,naquele campo de gardênias,com um anel simples- para mim o mais bonito ja feito-aceitei ser sua mulher por completo,sem barreiras ou medos.
Era tudo tão... fácil,simples.
Tinhamos problemas,mas parecia tudo tão banal.
Levamos cerca de quatro anos para conseguir dinheiro suficiente para pagar uma pequena cerimônia.
Então...
Tudo mudou.
Conseguimos abrir nosso próprio negócio. Prosperou.
Suas viagens começaram a ficar mais frequentes. Mais duradouras.
Minhas gardênias já não chegavam mais.
Seu senso de humor desaparecerá.
Suas mãos já não eram mais calejadas.
As brigas se tornavam mais frequentes.
Seus olhos azuis não tinham mais aquele calor,só existia frio e imparciabilidade.
Saia em capas de revistas de negócios.
A solidão havia me tomado.
Já não nos conhecíamos mais.
Então depois de dois filhos, e doze anos seus olhos azuis já não existiam.
Não consigo entender como uma coisa tão bonita, como duas pessoas que fizeram juras de amor, que não conseguiam se manter separaras,  que juntavam dinheiro o mês todo para comprar um presente, que pensavam em um futuro juntos, pode se tornar apenas uma lembrança, apenas um resquício do que um dia foram.
Como pode-se mudar tanto?
Talvez, por falta de cuidado,mentiras, desconfiança, falta de tempo, pode ter sido tantas coisas que não consigo mais me lembrar.
Não consigo lembrar quando todos estes sentimentos se esconderam em baixo de colares e mansões.
Apenas...
Aconteceu

Onde erramos?
Onde deixamos tudo para trás?
Onde nos perdemos?
Onde já não nos conhecíamos mais?
Talvez, nunca entenda, ou saiba como tudo isso ruiu.

-É isso o que deseja Leia? Não posso perder meu tempo com mais um de seus caprichos
Ouço Jason falar.
Levanto minha cabeça dos papeis que estava assinando. Nosso divórcio. Olho ao redor da sala. Seu advogado, ao lado de fora da porta de vidro, enquanto fala ao telefone.
A sala que um dia fora palco de nossas noites de amor,está do mesmo jeito de 8 anos atrás.
A não ser pelo grande quadro de um pintor renomado que não me lembro o nome, um de meus "caprichos", é uma das tentativas para chamar atenção de meu marido.
Volto a olhar para Jason
-É isso o que você quer?
Devolvo a pergunta
O silêncio reina no ambiente, posso ver sua cabeça pensando.
Vamos Jason, por favor, só preciso de uma palavra.
-Eu... Termine logo com isso. Preciso voltar ao escritório.
Olho mais uma vez em seus olhos.
Posso ver a tempestade em seus olhos azuis, posso ver sua hesitação, posso ver sua angústia.
Mas eu preciso mais
Eu necessito de mais
Eu preciso mais que olhares
Eu preciso de palavras
Eu preciso de mudanças
Eu preciso ser amada
-Como queira
Meu nome de solteira é assinado em um papel caro.

                                  —-——————

Naquele mesmo dia  Jason Carehkye morreu 7 horas depois de se divorciar, após sofrer um grave acidente de carro a caminho de sua antiga mansão. O motivo foi seu celular, recuperam os dados, vendo que o último numero discado havia sido sua ex-esposa.
Tantas palavras não ditas
Talvez, esquecerá algo
Talvez estava com saudades
Talvez se arrependera de tudo o que havia feito
Talvez... só queria uma segunda chance
Talvez.

Nunca soube o que realmente aconteceu
Ou o que realmente ele teria me dito

Talvez, se tivéssemos tido mais tempo, se tivéssemos mais coragem, menos medo.
Se tivéssemos dito o que pensávamos, se não tivéssemos nos escondido, se tivéssemos sido  apenas nós, se não tivéssemos perdido nossa essência, se não tivéssemos dado mais desculpas e menos ações,talvez se pensássemos que tudo o que fazemos afeta ao nosso redor, talvez se tivéssemos lutado por nossos sonhos, por nossos objetivos... talvez se não tivéssemos desistido.

Talvez, tudo teria sido diferente