História de Papel 2/4

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E eu me peguei parado em meio a avenida, era de madrugada e ninguém passaria por ali tão cedo. Começou a cair algumas gotas de água do céu e naquele mesmo momento um dos postes já gastos perdeu sua luz que pouco clareava. Agora, não mais, nenhum pouco. E o escuro tomou posse do local em que eu me permitia. Lágrimas começaram a correr pelo meu rosto com a mesma frequência que a água da chuva e aquilo foi o que eu vivi de mais real em anos.


Mas eu não sabia o que estava sentindo, por que o que eu sentia era vago. Era como se eu estivesse morto e minha alma vagando. Mesmo a brisa mais calma era capaz de me levar e eu me permitia, sem me preocupar.


Logo eu vim a cair, meus olhos se fecharam e ali eu permaneci. Alguns minutos após eu senti algo tocar meu corpo e foi quando abri meus olhos, um homem estava ali. Ele acariciava meu rosto com sua mão, de leve, agora, olhando em meus olhos. O mesmo me pediu um abraço e não neguei. E lá estava eu sendo levemente pressionado pelo seu abraço que descia suas mãos escorregadias sobre meu franzino corpo. Apalpando-me. Achei que deveria sair, mas me permiti ver o que aquele senhor de meia idade adulta queria. Mas me mantive calado, como um boneco me via num perdido olhar no nada em seus olhos já levemente enrugados.

O fato de se deixar levar pelo devaneio me deu medo . Mas o devaneio em si, me cheirava a vida ! Cotidiana ! Rotineira ! Todos passamos por situações inusitadas, uns mais que os outros. Não me julgarei por querer descobrir o que me pareceu distante da minha já anormal realidade. Não o julguei por querer me abraçar. E de querer com poucas palavras me levar ao deleite do seu imaginário paraíso libidinoso. Quem sou eu se não só mais um fetiche. Carne. Sombra. Sonho. Realidade. Ilustração. Ilusão. De pessoas. Quem sou eu ... Quem somos nós ?! Talvez, apenas parte de um papel. De uma cidade de papel.


- Alexandre Bruno

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