Relato 1:

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Eu morava em uma casa sem muitos luxos em Gotham mesmo, no Charon. O Charon sempre foi um bairro meio barra pesada, mas era o máximo que a prostituta da minha mãe podia pagar.

Eu tinha mais  três irmãos. Um bebê, fruto da minha mãe com um cara que até hoje não sei o nome e dois gêmeos, uma garota e um garoto. Eu era a mais velha. E a única filha do marido da minha mãe. Haha, espertinha ela era.

Ela se chamava Desiree. Era literalmente uma prostituta e fazia alguns servicinhos para os traficantes locais. Mas tudo que ela ganhava, ela gastava em drogas.

Meu pai sabia de tudo isso, mas por algum motivo tentava ignorar. Sempre foi um cara muito bom, e mais da metade das despesas, eram pagas pelo seu salário como encanador.

- Harleen! – papai cantarolou da cozinha.

Eu tinha 10 anos na época.

Desci as escadas correndo, sujando as meias de pelinho que eu havia ganhado dele.

Cheguei à cozinha e ele estava usando um ridículo avental com estampa de vacas. Segurava uma colher de plástico e o cheiro me remetia à crepes.

- Papai! – exclamei, me aproximando.

Eram realmente crepes. Os ingredientes eram caros e dificilmente nos dávamos o luxo de comer algo do tipo.

- É seu aniversário, não é, princesa? – ele perguntou, sorrindo.

Meu coração se encheu de alegria. Ninguém havia lembrado. E se mamãe sabia que era naquele dia, eu não podia confirmar, já que ela estava dopada com sua cocaína.

- Mas... Papai. E os outros? – indaguei, preocupada com a quantidade de ingredientes necessários para fazer crepe pra todo mundo.

- Seu irmãozinho está com a vovó e seus irmãos vão dormir na casa de um coleguinha. – ele respondeu sorrindo. – Não se preocupe.

Nós comemos demais aquela tarde. Foi a melhor tarde de todas. Só eu e a minha pessoa preferida em todo o mundo.

À noite, estávamos na sala assistindo ao filme Harlequin de 1980.

- Sabia que Harlequin se parece com Harleen? – papai comentou inocentemente.

Torci a boca, lembrando-me de todas as gozações que faziam comigo no colégio por conta daquele apelido.

No meio do filme, de repente, a porta da sala estoura e um monte de homens... Policiais, invadem.

- Tirem a menina daqui. – diz um policial.

- O que? – indago assustada, enquanto um policial tenta me tirar da sala.

Entretanto, eu posso ver meu pai se ajoelhar com as mãos para cima. Um policial o algema.

- Você está sendo preso por furto à mercado.

- Eu só queria trazer comida pra casa... – o homem lamentou.

- E matou o dono, que reagiu. O senhor tem direito de permanecer calado. Tudo que for dito será usado contra você no tribunal.

  O senhor tem direito de permanecer calado. Tudo que for dito será usado contra você no tribunal.  A

quela frase ecoou na cabeça de Harleen. 

A pequena Harleen olhava horrorizada para tudo aquilo. É claro. Meu pai era o meu herói.

Toda aquela cena sempre se repetia em minha mente. Os anos passavam e aquilo continuava a vir à tona. Eu sempre me lembrava do pedido de desculpas do meu pai. E ficava com ódio da sociedade.

Papai não era mau. Ele só estava desesperado, justamente porque a sociedade não lhe deu oportunidade. Tenho certeza que ele não matou porque quis.

Depois a minha mente que é distorcida. 

Welcome to the world, Harley QuinnOnde histórias criam vida. Descubra agora