No Toque do Amor

O Relógio não parava naquela tarde tediosa, e Adriano não aguentava mais ter que trabalhar, não via a hora de ir embora, porém ainda era cedo, e pensar no fim do expediente parecia torturante demais.

Ele trabalhava com telemarketing, sentava do lado de Jussara, uma atendente que gritava feito uma louca, e bem a frente do relógio, que a cada minuto que ele olhava parecia passar mais devagar.

Precisava quitar algumas contas, então na hora de escolher o emprego entrou no primeiro que o aceitou.

Todos dias eram iguais, ele era cobrado para atingir suas metas ou então seria demitido, sempre conseguia, nem que isso o custasse ficar mais que seu horário, como acontecia frequentemente.

Um dia telefonando para um número que inventou na hora, para oferecer seu produto, ouviu uma voz fina e doce, tão suave que o jovem atendente ficou sem fala na hora, gaguejou um pouco e prosseguiu o roteiro que o haviam dado:

" Olá, você aceitaria fazer uma avaliação gratuita na nossa rede de consultórios odontológicos? É sem compromisso algum e se voltar, ganhará um suuuuper desconto!"

" Me desculpe querido, mas já tenho plano odontológico, teria algo mais para me oferecer?"

A voz suave e fina era de Júlia, que do outro lado da linha foi extremamente simpática com o jovem atendente, que estava com dificuldades de falar com ela. Ele estava totalmente caído por aquela voz meiga, sem nem ao menos a ter conhecido.

Pediu o numero da moça e perguntou se podia anotar para si, ela aceitou começando assim a historia dos dois.

Todos os dias antes de ir trabalhar ligava para garota, os dois ficavam horas pendurados no telefone trocando gostos, canções e carinhos. Ela amava Beatles e as vezes cantava para ele que começou a gostar depois de ouvi-la.

Os dias começaram a passar mais rápidos e o jovem apaixonado ficava mais apaixonado, cada vez que falava com sua amada era uma nova surpresa. Trocaram e-mails, cartas com fotos, para que pudessem se conhecer melhor. Adriano quando viu Júlia em uma foto pela primeira vez, se apaixonou ainda mais. Ela era meiga com cabelos loiros e olhos negros, portadora de uma voz que o apaixonara desde a primeira vez que a ouviu.

Desde então, o jovem romântico resolveu encontrar-se com aquela que o correspondia. Ela vivia em uma cidade próxima a dele, por isso, marcaram de se encontrar na rodoviária.

No dia, o rapaz pegou seus fones e entrou no primeiro ônibus que saiu, no caminho, passou ouvindo musicas românticas que o inspiraram a imaginar grandes coisas com sua paixão. Ele queria tocá-la, acariciar seu rosto, por seu cabelo loiro atrás da orelha pequena e beijar aquela boca rosada.
Se surpreendeu quando na sua playlist tocou uma gravação dela dizendo:

" Oi amor! Ta na hora de acordar, é um novo dia la fora, to te esperando para conversamos mais e mais, e nos amarmos mais e mais

Beijos, eu te amo!E vê se acorda hein?! "

Ao chegar não avistou ninguém familiar, virou-se de um lado para o outro, porém nada. Tudo estava perdido até que uma moça baixa, de cabelos negros e olhos azuis claros cutucou seu ombro, ela era linda e tinha um físico esplêndido:

- Com licença, você é o Adriano? – falou a moça com um tom de duvida. Ele a respondeu com um gesto de com a cabeça confirmando – Sou a Júlia... Desculpe... na verdade me chamo Ana, foi mal ter te mentido sobre tudo, mas acho que preciso me explicar...

Aquela mulher não tinha nada da Julia da foto, era linda, simpática e além de tudo casada. Explicou ao seu admirador que procurava uma aventura fora do casamento, mas não imaginava que chegaria até aquele ponto. não soube como se desculpar com ele, que já estava triste e decepcionado

.

Os dois conversaram e tomaram um sorvete juntos, a pequena mulher falou de sua vida, dos tédios de uma vida de casada, falou que não aguentava mais o seu marido. O jovem desiludido entendeu o que aconteceu, engoliu a seco e a perdoou, afinal, não havia motivos para tantos aborrecimentos, ganhara boas memorias.

Após deixá-la no carro, voltou para casa cabisbaixo e dormiu.

Ele precisava descansar, pois no dia seguinte estaria novamente naquela cabine pequena, vendo as horas passar lentamente, telefonando para pessoas desconhecidas, enquanto procura pelo amor de sua vida do outro lado da linha.

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See-ya!