Rabbit Presente: Bem-Vinda ao País das Maravilhas

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"Sua magia, coelho branco,

Deixou sua escrita na parede.

Nós o seguimos, como Alice,

E continuamos a mergulhar no buraco."

-White Rabbit

Capítulo I - Presente

-Olá? - uma voz ecoou e o coelho se sobressaltou, a sensação de estar mais alto e com frio, os sentidos ficarem mais frágeis e fracos e o sentimento de poder se fez presente quando a metamorfose automática veio quando o seu cérebro detectou sinal de perigo. Se virou rapidamente em direção a voz e se abaixou tentando se ocultar nas sombras.

- Há alguém aqui? - a voz soava infantil e chorosa e Rabbit se aproximou pelas sombras para observar sua dona.

Quase desmaiou de alívio. Era uma garota. Apenas uma garota. Bochechas grandes lábios grossos, e pequenos olhos castanhos, pele cor de chocolate e cabelos negros curtos. Era aparência de uma escrava, mas usava roupas de senhoria: vestido branco todo rendado, luvas que iam até o pulso e sapatos caros.

Rabbit saiu das sombras fazendo uma reverencia elegante, observou a garota ter um breve sobressalto antes de começar a falar:

-Olá, senhora, me chamo Sor Rbbit, ao seu dispor. - a garota colocou a mão direita entre os peitos magros e suspirou aliviada.

-Oh, és um Sor então, graças a deus. Estarias ocupado de mais para ajudar sua senhoria? - falou pomposamente.

O Coelho não fazia ideia de que senhoria era ela, mas agia como se fosse importante então deveria ter cuidado e o jeito como se vestia, falava e andava não era de algum plebeu ou pobre.

-Depende do que desejarias, senhora. Poderia-me dar o prazer de saber seu nome.

-Alice - sorrio orgulhosa.

Agora quem teve um sobressalto foi Rabbit, não esperava por esse nome, fazia mais de 50 quinzenas que não o escutava, e nem queria escutar. O nome era sinônimo de sangue e desespero e ele não estava, nem nunca esteve pronto para ouvi-lo. O choque foi tanto que ficou segundos encarando a garota de boca aberta, só despertou quando esta lhe chamou a atenção. Rapidamente se recuperou e reassumiu sua postura.

-Desculpe Senhora Alice. Está perdida, estou certo? Muitas pessoas se perdem neste jardim. - falou sorridente e usou um tom de voz animado e descontraído, mesmo se sentindo mais do que desconfortável.

-Como és esperto, Sor. Poderia ajudar-me a encontrar o caminho, parece ser muito experiente neste ramo.

Rabbit jogou a cabeça para trás e soltou uma sonora gargalhada. Pobre menina, sim, ela era muito experiente em mostrar o caminho, mas não para o lugar que queria ir. Alice o olhou e sorrio controladamente.

-Como és graciosa, minha Senhora. Por favor, - ofereceu seu braço e ela enganchou o seu prontamente, o coelho reparou que ela era apenas duas cabeças mais baixo que ela - siga-me.

Não precisavam ir muito longe, a toca de coelho não ficava mais de cinco metros dali, embaixo de uma moita cheia de espinhos. Seria fácil, mas mesmo assim, conseguia sentir o suor escorrendo por suas costas.

-O jardim daqui é muito belo - começou a falar, tirando a atenção de Alice da estrada - mas é como um labirinto com todos os corredores selados. A beleza a leva para armadilhas mortais de animais mais mortais ainda. Parece um jardim cultivado, mas é mais feroz e selvagem do que podes imaginar.

Ele a viu refletir por alguns minutos, perdida em pensamentos, isso o alegrou. Derrepente parou de supetão, olhou ao redor com uma expressão confusa e desconfiada. Só mais alguns passos, pensou desesperado. Teve um ideia e antes de ela ter o tempo de se pronunciar ele falou:

-Quer ver algo mágico, Senhora Alice? - perguntou exibindo um enorme sorriso empolgado.

Alice pareceu desfrutar de sua empolgação e se contagiou também, sorriu e assentiu várias vezes. Rabbit pensou que até em crianças nobres a mágica era algo...mágico. Ainda sorrindo ele a levou até um arbusto espinhento e o puxou para cima, revelando um enorme buraco que parecia não ter fim, ele olhou para a garota com expectativa. O sorriso dela foi sumindo aos poucos e a empolgação foi substituída pelo desanimo.

-Uma toca de coelho? - indagou emburrada.

-Tesc tesc tesc - balançou a cabeça fingindo estar decepcionado - não consegue ver a magia? Decepcionante. Talvez tenha que chegar mais perto.

E foi o que ela fez, contornou o arbusto com cuidado para não se espetar e se agachou ao lado do buraco sem fundo dando uma olhadela dentro. A ansiedade era tão grande, que o coelho pensou que iria explodir. Aquela era a hora.

-Eu sinto muito, Senhora Alice.

A garota se ergueu o suficiente para lançar um olhar interrogativo para o homem em pé ao seu lado este se abaixou e sussurrou no seu ouvido:

-É preciso cair para sentir.

Então com as duas mãos a empurrou, ela desesperada tenta segurar seus braços, mas ele rapidamente se esquiva. Com um sorriso estranho ele se afasta, tapa o buraco com o arbusto e caminha para longe, assobiando, como se os gritos de desespero da pequena Alice fossem músicas para seus ouvidos.

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Sor = Cavaleiro Andante: que vaga pela terra, sem mestre, não possuem grandes posses e trabalham para senhores por determinado tempo, para o que eles precisarem.

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