1 - FEIXE COR PÚRPURA (Ficção Médica)

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Tema: "O Wattpad é um mundo mágico literário. Você pode encontrar de tudo aqui. Logo, ao ser sugada para esse mundo, o que aconteceu?"


Para não variar eu estava com os fones de ouvido. Havia acabado de sair do hospital de serviço público e tentava desanuviar a mente mergulhando naquele mundo musical. Eu sou Fisioterapeuta, no início atuava apenas no setor de Enfermaria, mas a época do ano e a escassez de profissionais capacitados, me fizeram dividir meu tempo com o espaço da UTI. Era dia, belíssimo dia, e eu teria algum descanso após aquele exaustivo plantão.

Ah, e como foi difícil! Em uma mesma noite tivemos duas paradas... Meus braços ainda estavam doloridos devido ao esforço com a massagem cardíaca que pouco adiantara. Havíamos perdido as duas pessoas – um motociclista e uma senhora que havia infartado.

Enquanto me distraia ouvindo músicas de uma rádio, não me lembro bem qual, ela parou de tocar para fazer seus anúncios. Logo o aparelho começou a perder o sinal. Eu já havia passado pelo estacionamento do hospital e seguia em direção ao ponto de ônibus que ficava do outro lado da rua, há duas quadras dali. Enquanto caminhava, peguei o celular tentando ajeitar o sinal – foi quando eu ouvi algo sobre um aplicativo chamado "Wattpad" e o abri.

Não sei ao certo o que aconteceu em seguida. Um feixe de luz de cor violeta pareceu sair da tela de meu aparelho e atingia o cúmulo. Segui a luz com o olhar e quase perdi o equilíbrio.

Somente naquele instante reparei que toda a minha volta se embranquecera, como se não houvesse mais nada além de mim,  meu aparelho e aquela luz... Porém, logo outra surgiu! Um feixe anil fez o mesmo trajeto da anterior. Mais cores foram surgindo, uma após a outra, sendo azul, verde, amarelo, laranja e vermelho – todas, uma ao lado da outra como na formação de um arco íris, pareciam me chamar para o enlevo. Quando todas se formaram eu, finalmente perdi o equilíbrio e caí para trás. Nessa queda meu celular, que caia em câmera lenta, se espatifou ao chegar no solo, dispersando as cores que dele saía. Eu não consegui me mover, apenas observar o que acontecia até todas as cores se perderem.

Eu começava a me preocupar. Não sabia o que estava acontecendo ou onde estava. Estaria delirando? Foi quando uma única faixa de luz púrpura saiu da direção de meu coração e, desta vez, apontou para o horizonte. Ainda não havia nada ali, mas decidi me levantar e a seguir. Logo encontrei uma porta e, com cautela, a abri.

Havia verde, muito mato, arbustos, árvores, terra, planta, animais e guerreiros! Como assim guerreiros? – Alguns homens lutavam, usando de espadas, com outros em busca de algo. Escondi-me atrás de um tronco enquanto via a carnificina. Muitos foram abatidos, mas um grupo, que parecia ter um líder que usava uma capa e um chapéu verde ergueu a cabeça de um de seus oponentes como um troféu. Enquanto o aplaudiam, outro sujeito mostrou ao líder um saco cheio de ouro.

Fiquei muito assustada e corri às cegas. Foi quando o feixe de luz púrpura reapareceu e mostrou-me o caminho.

Cambaleando fui em direção a outro ponto naquela floresta, até a entrada de uma cabana. Tremulante abri a porta. Ao adentrar vi que haviam três ursos. Dois muito grandes e um menor. Eles pareceram que não me viram, aproveitei-me e me escondi debaixo da mesa que estava no centro do espaço. Como ela estava coberta por uma toalha, acreditava que não me veriam. Mas era estranho... Muito estranho!

Um dos ursos estava cozinhando em uma espécie de fogão a lenha. Outro urso estava sentado, próximo a mesa, em uma cadeira imensa lendo o jornal e o urso menor, estava com um ioiô e assoviando. Eles pareciam mais humanos do que eu!

Senti um cheiro forte de mingau e milho, mas não consegui entender nada do que diziam. Na verdade, pareciam que rosnavam um com o outro. Senti o baque de uma provável panela bem grande sobre a mesa e pude observar, enquanto erguia a toalha de mesa, que um dos ursos pegava três tigelas. Duas grandes e uma menor. Esse urso levou as tigelas para a mesa e, após um tempo, os três saíram.

Eu ainda tremia muito quando saí de onde eu estava. Levantei-me e acabei esbarrando em uma das tigelas, a menor. Dava para notar que estavam muito quentes. O líquido pastoso provido daquele grude até fez uma marca no assoalho.

A porta por onde eu entrei já não estava ali, mas meu feixe púrpura reapareceu, me aliviando e me mostrando outro caminho. Ansiava que fosse a saída!

Quando abri outra porta, pude perceber que havia chegado em um quarto e, para complicar e nada variar, eu não estava sozinha. Um casal estava dormindo sobre ela, encobertos apenas por um lençol. Eles pareciam artistas de cinema, nariz e boca perfeitos, cabelos claros, pele alva, provavelmente os olhos também eram descorados... Pior que o lençol era transparente e, por certo, eles estavam nus.

Corri pelo quarto em busca de saída e nada encontrei. Meu feixe de luz desaparecera e o quarto parecia estar ficando desforme assim como o casal. O que estava acontecendo? Tentei gritar, mas minha voz não saia. Levei a mão a garganta e logo comecei a arfar. Eu já não estava conseguindo respirar e sentia uma dor muito forte na região das pernas. Prostrei-me em taquipneia e fechei bem os olhos.

***

- Finalmente você acordou, hein Lia? Nos deu um susto e tanto...

- G.gi? – Gaguejei.

Quando enfim consegui abrir os olhos percebi que, finalmente, estava em um lugar bem conhecido.

- Sua distraída – bronqueou-me. – Relataram que você estava mexendo no celular enquanto atravessava uma rua. Um carro estava passando e te atropelou. Por sorte você foi rapidamente trazida para cá.

- O q.que? – Eu estava desnorteada.

- Você voltou a vida, após cinco horas adormecida, sem nenhum dano aparente, amiga. Deu sorte desta vez, mas cuidado, pois ela pode não te ajudar na próxima...

Da janela uma luz púrpura me atingiu. Certa estava eu que havia estado em outro mundo. Não se tratava de um sonho - mas, ninguém me acreditaria! Eu precisava me recuperar e voltar para aquela plataforma...

Um medicamento percorria por minha Jugular. Sentia-me anestesiada, com a garganta seca e faminta. Foi quando outra pessoa adentrou o local trazendo uma badeja.

- Ah – exclamou Gisele! – Hora da refeição. 

"E não me faça essa cara – continuou, observando minha expressão em desagrado. – Vai ter que comer todo esse mingau com essência de milho".

Ah não! Mingau e milho?

E Gisele riu.

FIM

QUIMERA #ContosLPOnde histórias criam vida. Descubra agora