Fantasia, por Pamella Santos

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Helene se sentia muito mal, e nem ao menos sabia o porquê.

Sua amada rainha pediu-lhe que ela fizesse as suas obrigações, coisas que ela já era acostumada a fazer. Ela cuidava dos revoltosos, dos prisioneiros de guerra e de traição. Havia muitos ali, nas masmorras da fortaleza de Helgar. Ela odiava estar na presença de todos eles — principalmente por causa dos olhares que muitos a davam. Mas ela fazia de bom grado se aquilo significasse que a sua rainha ficaria satisfeita.

Naquela noite, entretanto, Helene não era capaz de descer para as celas. Ela se sentia angustiada e sem ar. Odiava essa sensação de impotência. Seu coração ainda não se acalmara desde as primeiras horas daquele dia, mas ela se esforçava para que ele parasse de palpitar fortemente. Porém, mesmo se esforçando muito, Helene não havia sido capaz de sair dos seus aposentos e fazer as suas obrigações.

Uma hora mais cedo Christian, seu constante vigia, havia ido até ela preocupado pelo seu sumiço. Ela não conseguia falar para ele a verdade por traz da sua atitude melancólica, apenas limitou-se a dizer que estava indisposta. Ele ainda se ofereceu para ajudá-la no que estivesse lhe afligindo, mas Helene o dispensou. Ela apenas queria ficar deitada e sozinha, para tentar controlar as suas emoções.

Depois do que pareceram horas naquela forma, uma batida suave ecoou pelo quarto quieto. Helene acreditou que não se tratava de Christian, visto que já havia lhe convencido de que ficaria bem ali. Mas ele sempre voltava para verificar as coisas, como o vigia que era. Ela sempre acabava se sentindo mais importante por conseguir tirar o sono do rapaz. Aquele momento, entretanto, era uma exceção.

Ela levantou-se da cama de penas e foi em direção à porta de madeira. Assim que abriu, ficou tão surpresa quanto chateada pela interrupção. De repente, seu estômago revirou-se quente, como se pássaros estivessem dançando ali dentro. Era sempre essa sensação que ela sentia toda vez que Haziel Krushnic vinha ao seu encontro.

Sem permissão os cantos dos seus lábios repuxaram em um sorriso tímido e, por um breve segundo, toda a dor e mal estar esvaiu-se do seu ser. Ela se sentia bem ao estar na presença de Haziel. Ele a fazia bem, feliz, tranquila e importante.

— Olá — ele disse com um sorriso charmoso. Ele sempre ria daquela forma quando via as reações que Helene esboçava toda vez que o via.

— Olá — ela respondeu e recuou um pouco para que ele pudesse entrar no quarto.

Era um pouco tarde para que Haziel pudesse estar ali. Ele sempre vinha lhe ver no entardecer, antes de descer para onde os soldados da sua rainha estavam se preparando para mais uma batalha. Sempre vestia pesadas roupas e cota de malha, como se estivesse indo para a guerra a qualquer momento. Mas ali, ele só parecia cansado. O seu gibão negro de couro fervido estava sujo e abarrotado, provavelmente resultado de muito tempo no trabalho pesado. Os cabelos negros e macios estavam úmidos e uma verdadeira bagunça. Mas tudo aquilo, para Helene, o fazia ser mais bonito.

— Eu soube por Chris que você estava se sentindo mal — ele foi dizendo assim que Helene fechou a porta.

— Christian deveria guardar essas coisas para si — Helene resmungou. Ela não queria que Haziel se preocupasse com algo que nem mesmo ela sabia.

— Mas você não se sente bem, não é? — ele perguntou. Seus olhos negros a sondavam minuciosamente a procura de algo errado.

Helene se encolheu com o seu olhar. Ela apenas usava um fino vestido de seda branco e ele mostrava demais da sua pele. Mas... mas ela se sentia contente por Haziel olhá-la daquela forma. Ninguém ali era corajoso o suficiente para fazê-lo.

Contos do Dia dos Namorados (2ª Edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora