Prólogo

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Os passos ecoavam pela sala vazia e escura, aquele som típico e assustador que apenas botas com saltos batendo no piso de pedras poderiam fazer. Ao menos o ruído parecia assustador quando se conhecia a singular criatura que usava aquele calçado, e quem ela sempre acompanhava.

O homem aguardava na única poltrona que havia no recinto, um assento em que apenas um servo considerado filho tinha o direito de sentar-se, ganhando assim o direito também de aguardar de forma confortável.

E ora, conforto é importante quando as ordens recebidas sempre trarão dias desagradáveis e pensamentos inquietos.

- Sempre pontual, um exemplo - a mulher sorriu falsamente ao entrar no cômodo.

- É obvio que o guerreiro mais fiel é um exemplo, Bree - a resposta veio espontânea e relaxada do homem que aguardava.

O ser que acompanhava Bree pigarreou, fazendo com que os outros dois se calassem. Ele era dotado de fios grisalhos e vestia uma túnica num tom cinza e levemente brilhante. A expressão trazia superioridade e elegância, como sempre. Juntando isso à cicatriz que cortava seus lábios, era natural que os companheiros tivessem aquela reação.

- Gilroy, já tem algum relatório sobre sua missão? - ele lançou a pergunta ao que continuava sentado.

- Sim, mestre. Encaminhei meus homens de maior confiança para causarem o incêndio, quando terminarmos essa conversa, já estarão todos mortos.

- Não tolero falhas, espero que não me decepcione - o tom sempre ameaçador.

Duas mãos apertaram o braço da poltrona com cuidado para não perder o controle, o jovem alto e forte poderia facilmente quebrar aquele sofá. Seus olhos negros cheios de respeito não ousavam afastar-se do mestre. Por baixo dos fios loiros, o nervosismo se transformava em suor.

- Não ousaria falhar, senhor - a voz saía controlada apesar da reação do resto do corpo.

- Bree, venha, não há mais a fazer aqui - ordenou ao encaminhar-se para a saída.

- Conceda-me apenas alguns segundos com ele, Angra Mainyu - a mulher implorou, a voz totalmente humilde.

Gilroy congelou em seu assento.

- Desça depressa, não irei esperar - foi uma permissão.

Bree aproximou-se do rapaz assim que ficaram sozinhos. A língua umedeceu os próprios lábios incrivelmente vermelhos, bem como sua íris. Os fios ruivos penderam para frente quando ela se curvou ficando a apenas um centímetro do rosto do humano.

Ele engoliu em seco. O nervosismo ainda maior do que na presença do mestre. A roupa grudava no corpo quente e, por mais perigoso que fosse, seu olhar não conseguia se desviar do decote tentador que se mantinha tão próximo.

- O desejo ainda será sua perdição, humano.

A criatura mordeu os lábios de Gilroy, causando um pequeno filete de sangue e um gemido baixo, então se afastou deixando-o sozinho novamente. O salto batendo nas pedras ao se afastar enquanto o rapaz ofegava.

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