Capítulo 2: Tragédia

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Abro lentamente os olhos. E logo lembro de minha mãe. Será que ela está aqui? Corro pro banheiro, lavo o rosto, escovo os dentes, faço minhas necessidades, tudo isso o mais rápido possível. Saio correndo até o quarto ao lado. Vejo que a cama de minha mãe continua arrumada, do mesmo jeito que ela deixou. E Emma não está aqui.

Ouço um barulho vindo da cozinha. Algo parecido com um choro. Um calafrio toma parte de meu corpo e eu só consigo pensar "o que está acontecendo?". Em passos lentos vou andando até a cozinha. Paro em frente a entrada, uma vantagem de a cozinha não ter porta é poder ver o que está acontecendo nela, e uma desvantagem é não poder se esconder nela.

Vejo Emma chorando agarrada ao velho telefone da família, de cabeça baixa ela não olha para mim. Ela só deve estar preocupada. Mas sou atingida por um pensamento que me faz pensar: "É só isso mesmo?".

- Emma? - Chamo com uma voz um pouco trêmula.

- M-ma... Maki, - ela diz com a voz esguiçada ainda de cabeça baixa. - A polícia ligou agora pouco e...

- Emma o que está tentando dizer? - Digo assustada. Polícia?

- Eles informaram que a mamãe foi morta num assalto. Todos os documentos estavam na bolsa com ela e por isso não será necessário que façamos o reconhecimento. E que o corpo foi entregue a nossa vó.

- O quê? - Digo sem acreditar. - Vó... Mãe... Morte?... Assalto? - Uma lágrima escorre sem permissão de apenas um dos meus olhos. - Não! - Solto um grito esguiniçado. Saio correndo pro meu quarto e me tranco lá.

A maioria das pessoas caem no chão, mas eu não. Eu me joguei no chão. Doeu muito e fez um barulho muito alto. Eu estava com medo, mas não queria admitir. Queria chorar, mas não deixava as lágrimas caírem. Queria levantar, mas não tinha forças para isso. Para mim eu ainda estava caindo, estava me afogando, sendo comprimida, enfim estava sufocada, me lascando. Porque embora lutasse, as lágrimas estavam caindo, eu soluçava e não conseguia respirar. Era como se alguém estivesse pisando na minha cara, e estava piorando.

Tentei me levantar, mas não tinha forças, fui andando de quatro mesmo. Destranquei a porta me pendurando nela. Abri a porta do banheiro e me pendurei na pia. Abri a torneira, lavei o rosto e bebi daquela água mesmo. Meus pulmões doíam, mas aos poucos aquela sensação foi passando.

Voltei ao quarto e novamente me tranquei. Pois a questão é: eu precisava de um tempo sozinha. E após ficar sem ar, vi o quão bom é poder respirar livremente. Por um segundo achei que ia morrer. Afinal, muitos dizem querer, mas poucos tem coragem para isso. Muitos dizem não se importar em morrer, mas todos se amedrontam naquele momento. A questão é que todos querem viver. Todos se apegam a algo que crêem que possa ser uma esperança. Pois sem esperança eles morrem por dentro.

Me jogo na cama lembrando da pessoa a qual mais sinto saudades nesse momento. Me levanto e olho o horizonte pela janela. O sol está se pondo. "Lembre-se disso minha filha. Quando estiver triste sempre observe a natureza. Principalmente o pôr-do-sol, é um remédio e tanto!". Minha mãe vivia dizendo isso. Quando eu era pequena nós sempre nos sentávamos no minúsculo quintal para olhar o sol se pôr. Ela sempre se esforçava em fazer um pouco de chá para nós. Eu só queria ela agora.

Pego meu caderno de anotações do meu armário. Na verdade eu nunca havia escrito algo nele além do meu nome. Desenho um coração na primeira folha. Gosto de desenhar corações, principalmente porque eu não sou boa em desenhos. Mas aquele não me agradou. Meiguice naquele momento me irritava. Refiz o coração, mas dessa vez flexado. A flexa representava uma dor repentina que havia atingido meu coração. Refiz o coração de novo. Dessa vez partido e flexado de ponta a ponta. Resolvi por um pouco de sangue escorrendo. Eu sei, eu sei. Muito sombrio, mas era assim que eu definiria meu coração.

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