Como Criar Vilões Convincentes:
Como já mencionei em um post , grande parte dos vilões do cinema e da literatura são figuras patéticas e previsíveis - um misto nada interessante. Tão necessários, são figuras carimbadas na ficção. Carregam sempre aquela aura perturbadora, a arrogância brotando-lhes em cada poro, o sorriso ácido diante de suas crueldades. E, na maioria das vezes, tão irreais.
Assim, o que é realmente preciso para criar um vilão convincente, que faça com que seus leitores e espectadores sejam capazes de sentir seu cheiro emanando das páginas do livro ou da tela do cinema?
Muitos escritores apelam para explicações menos penosas, o caminho mais fácil, e cometem o erro de transformar distúrbios mentais e emocionais em grandes vilões. Por que ele faz tanta maldade? Ah, porque ele é louco. A menos que esteja escrevendo o roteiro da próxima novela das 8, fuja deste padrão. Transtornos de personalidade não são personagens, embora, às vezes, possam fazer parte deles. Este tipo de aplicação - e explicação - caracteriza o personagem como previsível. Ele é louco, logo, pode fazer qualquer coisa que sempre estará amparado pelos seu padecimento psicossomático. Tolo!
Por outro lado, a imprevisibilidade torna os vilões marcantes. Um dos maiores exemplos disso é o caso do Coringa, em o Cavaleiro Das Trevas. Em determinado momento do filme, o Coringa explica a razão de ter o corte em sua boca. Ele havia sido "presenteado" pelo pai que lhe perguntou, momentos antes do golpe cirúrgico: "Por que está tão sério?". Naquele momento, nós aceitamos esta explicação como plausível. A explicação, por si só, humaniza o Coringa como alguém de carne e osso. No entanto, mais tarde, o Coringa dá outra explicação sobre o corte. E depois, apresenta mais uma. Até que chegamos a conclusão de que nunca vamos saber o que realmente aconteceu. Intrigante! Um vilão tão mentiroso, que consegue enganar até os espectadores mais curiosos. E ainda, a atuação psicopata de Heath Ledger nos convence de estarmos realmente diante de alguém lunático, um mentiroso consumado, que deixa o público com um gostinho de quero mais.
Como o Coringa, os vilões que conseguem torcer meu pâncreas são os que possuem a capacidade de me surpreender. Às vezes, o vilão consegue emanar uma vulnerabilidade inesperada. As razões dele, quando apresentadas, podem parecer tão racionais que você, no fundo, acaba tendo alguma empatia pelo odioso facínora. Não que seja capaz de aceitar ou concordar com seus atos, mas é capaz de entendê-lo.
Grandes vilões são humanos, imprevisíveis, convincentes e possuem as suas razões. Basicamente, esta é a receita para você conseguir impactar seus leitores ou espectadores ao criar vilões inesquecíveis. Se quiser criar algo assim, comece por fazer algumas perguntas relacionadas a eles:
Qual é o real motivo do meu vilão agir assim? O que o motiva? Existe uma necessidade interna que o impulsiona a agir de tal maneira, ou existem fatores externos que o inclinam a isso? Ao explicar as razões de seu vilão, não apele para o fundamental: "Ele quer dominar o mundo", mas procure humanizá-lo por atribuir suas verdadeiras razões. Será que ele quer conquistar o mundo porque é a única forma de se sentir seguro, quando todos compartilharem um medo mórbido dele? Ou será que seu objetivo é simplesmente ter posses, não existindo nada no mundo que não poderá ser adquirido?Por que ele vai tomar esta atitude? Como já mencionei, não responda: "Porque ele é louco". As pessoas querem uma explicação plausível e racional por trás de cada atitude.O que aconteceu no passado que o convenceu de ser capaz de conquistar aquilo pelo qual luta? Não apresente seus vilões simplesmente como querendo algo e ponto. Existe uma história de vida, um ciclo de traumas e conquistas que explicam seu convencimento. Aqui, você precisará pincelar seu vilão com nobres qualidades. E quem disse que vilão não tem qualidade? Ele pode ter carisma, inteligência ou outras habilidades que lhe deram sucesso no passado e que o convencem do sucesso em seus objetivos malignos.Se o vilão tiver algum transtorno emocional, como este interfere em seus atos? Como estes intensificam uma maldade já existente? Lembre-se: transtornos de personalidade, puramente, não criam bons personagens.Quais são alguns dos seus vilões favoritos? Tente escrever algumas características deles que o faz colocá-los no topo da sua lista.
Se conseguir extrair um personagem odioso após esse exame, me apresente. É provável que eu o coloque ao lado do Coringa e de outros estimados desumanos vilões.
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