Eu tenho um primo. Na verdade, nunca descobri se este grau de parentesco é certo. Deixe-me explicar: Tenho um tio que era casado. A sua esposa tinha duas irmãs. Essas irmãs tinham filhos e um desses filhos é o primo que me refiro. Fora a parentela discutível, ele, o Paulo é um grande amigo. Este texto é para você meu irmão.
Dentre muitas histórias que compartilhamos e que hoje eu escrevo, é sobre o cuidado com a natureza. Paulo sempre foi o que chamamos aqui no Ceará de um "caba desenrolado". Vira e mexe estava em um trabalho diferente, sempre buscando o seu lugar ao sol. O negócio dele é música. Já trabalhou como Dj em boates gay e mais recentemente comandava a sonorização de uma igreja evangélica. É, como eu disse: um caba desenrolado.
Mas trazendo para a nossa apreciação, o fato ocorreu há alguns anos. Posso dizer que foram mais de 15 anos no mínimo. Mas este cuidado com a natureza que Paulo me relatou, me marcou muito. Depois de mais um emprego conquistado, o agora, as vezes: sub-gerente, atendente, cozinheiro e sorveteiro Paulo, estava trabalhando na sorveteria. A Rabel era uma sorveteria de muito prestígio em nossa cidade. E Paulo foi trabalhar na unidade da Av. Sargento Hermínio. Empolgado com sua nova fase, convidou alguns amigos e a mim para conhecermos o seu novo emprego para uma vida toda. Pois afinal, todos da turma tínhamos a esperança que desta vez ele pudesse ficar em um emprego por longo anos.
Era uma noite de ventos frios em Fortaleza – coisa rara. Ocupamos uma mesa e éramos em quatro – se a memória não me engana. Pedimos sanduíches e alguns sucos, pois nesta época poucos ou nenhum bebiam bebidas alcoólicas. E depois de um certo tempo, quando os pedidos diminuíram e o gerente chegou, Paulo foi até a nossa mesa e veio nos relatar a última peripécia de seu novo emprego.
—E aí... Tudo joia? - Já perguntou puxando uma cadeira da mesa vizinha e como de costume sentou-se de pernas abertas.
—Então Paulo, tá gostando do novo emprego? - Perguntei já sabendo que teríamos a famosa reclamação padrão. —Que nada rapaz. Pelo menos o gerente colocou um cara para me ajudar. - disse Paulo indicando com o olhar e um biquinho com os lábios o novo integrante da sorveteria que estava em uma mesa bem próxima a nossa.
Depois disso, viu que o seu gerente estava olhando para ele e prontamente se levantou. E ao sair, não poderia deixar de falar um detalhe sobre o novo companheiro de trabalho.
—Já começou mal. Depois eu conto. Venho já! - pronto. Sabíamos que algo aconteceu que ele – Paulo, não poderia deixar escapar para a nossa turma. Ficamos a imaginar o que ele nos contaria. Acredito que todos nós temos histórias no mínimo curiosas para contar. E estávamos certos de que, vindo do Paulo, era algo a se perguntar como um ser humano pode observar tanta coisa a sua volta e fazer graça de tudo. Digo isso, pois nas festas, bastava alguns minutos e ele sabia quem estava solteira, namorando ou paquerando com quem. O seu olhar era como de uma águia as espreitas de suas vítimas. Um olhar com uma observação infalível – ou quase sempre.
Após alguns minutos Paulo volta e senta-se novamente na cadeira especialmente deixada para as suas fugas do serviço. Trabalhava a hora e fora de hora, nunca se negou a trabalhar, mas alguns minutos de descanso para ele – acho que para todos, é fundamental.
—Rapaz o meu ajudante deu uma "rata" - uma gíria que indica que cometeu um grande erro em alguma coisa. —Estão vendo aquele vaso com aquela planta enorme ali na entrada? - nos viramos e podemos observar algo que parecia com uma grande palmeira colocada em um vaso que estava na entrada principal da sorveteria. —Sim – respondi por todos.
—Hoje o gerente veio aqui a tarde para deixar alguns produtos. - continuou Paulo em sua delação. —Quando ele chegou o meu novo assistente, o Francisco, estava com um balde cheio de água e uma caneca na mão aguando a planta. As vezes, colocava a água também em sua mão formada como uma concha e depois salpicava sobre a folhagem. O gerente ficou ali parado olhando o trato que o Francisco tinha em aguar tão habilmente a única planta que havia no lugar. Quando o vi pensei: Olha só... mostrando serviço e o chefe está vendo. - Paulo talvez tivesse pensado naquele momento é que ele como é muitas vezes o primeiro a chegar e o último a sair dali, deveria está tendo o seu trabalho apreciado pelo gerente.
Paulo disse que o gerente colocou as compras sobre o balcão e foi até o assistente e perguntou: —O que tu tá fazendo macho? O assistente colocou a caneca dentro do balde, sorriu para o gerente e disse: —Ué... estou aguando! O gerente serrou seus punhos e tinha uma característica de ficar avermelhado quando irritado e desta vez não foi diferente.
—Seu animal! Esta planta é de plástico! - rimos muito da situação toda. Lágrimas eu pude observar em todos ao redor. E até mesmo nas mesas mais próximas a história foi ouvida e todos caíram em risadas.
Mas eu pude notar algo de estranho. Todos, exceto o Paulo estavam rindo. Achei aquilo bem diferente no comportamento do Paulo. Então, quando o som das risadas diminuíram, perguntei para Paulo:
—O que houve? Não gostou da história?
—Mais ou menos. - ficamos intrigados com sua resposta. Paulo não era de não rir de situações curiosas dos outros.
—Sabe o que é... - falou Paulo coçando a sua nuca em uma ação que, pelo que o bem conhecemos, tinha mais alguma coisa no ocorrido. —O assistente começou a trabalhar aqui na segunda, já vai fazer uma semana. E faz uma semana que, todos os dias ele aguava a planta. - sorrimos novamente. Mas então Paulo completa.
—O pior de tudo é que eu trabalho aqui já faz seis meses. E somente hoje eu descobri que a seis meses eu agou uma planta de plástico. - fazer o que né?
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Contos de famílias excêntricas
RandomUm sapato esquisito e com vontade própria. Ou até mesmo escovar os dentes com pomadas ao invés de creme dental. Sair de férias sem ver antes a casa alugada e dar de cara com um cenário de guerra. Mas quem sabe, talvez você nunca tenha se apaixonado...