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Não havia mais espaço em meu peito para a dor que parecia me invadir a cada segundo. O sofrimento só pode ser sentindo, na intensidade que ele realmente é por quem está sofrendo. Não me venha com discursos clichês de que você "sabe o que eu estou sentindo". Embora todos nós sofremos um dia, nunca é na mesma intensidade. A mesma dor nunca poderá ser sentida por mais de uma pessoa. Alguém sempre sentirá mais e de formas diferentes.

Pode ser que a minha dor fosse sentida por milhares de pessoas hoje, e embora eu soubesse que o que eu estava passando poderia ser considerado "normal" para muitos, na minha percepção era uma das piores coisas do mundo.

Eu não poderia gerar um bebê.

A questão é que hoje o mundo possibilita que você adote crianças que realmente estejam precisando de uma mãe e um pai. O problema é que nesse momento não havia um "pai", apenas uma mãe.

Normalmente, quando as pessoas que são responsáveis pela adoção pedem seus dados, dão prioridade — e fazem questão de te dizer — que preferem por casais que estejam casados. Ou seja, uma mãe solteira é colocada para o final da fila e caso eles achem uma criança que possa viver com você e que tenham que escolher entre uma mãe ou pai solteiros, e um casal, escolhem o casal.

Aos vinte e seis anos, encontrava-me feliz com o meu namorado Thiago, nós estávamos planejando o nosso casamento, mas algo nos interrompeu.

O fato de eu não poder ser mãe.

O sonho dele sempre foi ser pai, especificamente de dois filhos, talvez três, dependendo de como viesse os dois primeiros, ele queria um de cada, portanto um menino e uma menina.

O problema é que eu não poderia lhe presentar de tal maneira, e esse fora o motivo pelo qual fui largada.

"Ah, mas existem milhares de homens por aí", é o que algumas pessoas iriam dizer caso me ouvissem reclamando por ter sido deixada. A questão é, eu estava em um relacionamento de quase cinco anos, com o homem que eu achava que seria meu para sempre.

Eu estava sofrendo em silêncio no meu quarto, esperando pela chegada da minha melhor amiga Lorena, que a qualquer momento entraria no meu apartamento como um furacão.

— Lívia, você está aí? — Escutei a voz dela, que provavelmente acabara de chegar.

— No meu quarto. — Choraminguei, tentando falar o mais alto que eu poderia, mas a minha voz não estava colaborando.

— Eu não entendi direito a sua mensagem, como assim não poderá ser mãe? — Olhou-me confusa, na verdade, ela já estava fazendo aquela pergunta enquanto caminhava pelo corredor até meu quarto.

— Eu não posso ser mãe. Não posso ter um bebê. — Choraminguei novamente, sentindo as lágrimas escorrerem percorrendo toda a minha bochecha.

Lorena demorou a absorver a notícia e assim como eu, após alguns segundos pensando, desabou ao meu lado, soluçando tanto quanto eu estava.

Eu e ela somos grudadas desde a nossa infância e talvez seja esse o motivo pelo qual estava chorando agora. Quem sabe estivesse sentindo pelo menos um pouco da dor que me consumia.

— Você já contou para o Thiago? — Perguntou baixo, tentando conter o choro.

— Ele me deixou. — Respondi, lembrando-me da cena que ocorrera mais cedo.

Eu havia acabado de chegar do hospital com os exames e por algum motivo Thiago ainda estava no meu apartamento — mesmo sem fazer nada —, encontrava-se deitado no meu sofá.

Ele É O Meu Milagre (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora