Abri meus olhos lentamente, pois os sentia pesados, minha vista ainda embaçada não identificava ninguém na sala, somente eu.
Lágrimas escorriam ao meu rosto após me lembrar de que se eu estava acordada provavelmente meu sonho de ser mãe já não seria mais possível. Toquei minha barriga por cima da roupa do hospital, porém não senti nada, nem ao menos dor estava sentindo. Levantei aquele vestido até a barriga e não encontrei pontos. Fiquei sem entender o que ocorrera. Não houve cirurgia?
O certo seria que eu estivesse com uma cicatriz — com um tamanho considerável —, que seria notada facilmente com os meus dedos. A não ser que realmente a cirurgia não tivesse ocorrido, já que não havia outra maneira de retirarem o meu útero sem terem que me "cortar".
Logo a porta se abre, e vejo meu médico entrando junto com Lorena, que tinha uma expressão de preocupação.
— Boa noite, Lívia! — Disse o médico perambulando na sala e olhando alguns papéis. Lorena apenas sorriu para mim.
— Boa noite, Doutor! Tenho uma duvida. Não tem pontos onde era pra ter ocorrido à cirurgia, houve algum imprevisto?
— Não, Lívia! Na verdade... — Ele mordia a boca, pensando no que falar. — An, a sua cirurgia... foi confundida com a de Melissa Andrade.
— Não estou entendendo. — Estava meio perdida no assunto. Se não fora a cirurgia para eu retirar o útero, qual outra seria?
— Lívia. — E mais uma vez ele parou. — Primeiramente, o hospital e nós médicos pedimos nossas desculpas. Bom como dizia, sua cirurgia foi confundida com uma inseminação artificial. — No momento em que ele deu essa notícia, era como se o mundo tivesse parado, e por um momento eu pensei que poderia dar certo, mas me veio à mente o resultado dos meus exames, que isso não era possível. Apenas se um milagre acontecesse. Então apenas abaixei a cabeça e deixei que ele terminasse. — Mas como você não pode gerar um filho, teremos que remarcar a sua cirurgia. Veremos um dia e lhe falaremos. Peço mais uma vez que nos perdoe. Sua alta será amanhã. Obrigada! Boa noite.
Assim que ele fechou a porta, senti as lágrimas frias percorrerem minhas bochechas até cair na camisola do hospital. Lorena se ajoelhou e segurou minha mão direita.
— Eu não tenho palavras, Lívia. — Ela disse e ficou cabisbaixa. Eu a entendia, pois para esse assunto não há argumentos.
— Está tudo bem, Lo. — Limpei as lágrimas que insistiam em cair. — Eu só pensei que poderia dar certo, mas infelizmente é impossível.
— Você ainda pode adotar, talvez dê certo! Tenta. — Já tinha desistido dessa hipótese há muito tempo. Quem não tem um companheiro, as chances diminuem para menos de 50% digamos.
— Não será possível, Lo. O que eu tenho que fazer, é aceitar que eu nunca serei mãe! Apenas isso.
Ela apenas ficou quieta.
Ficamos um tempo quietas, quando percebi que ela havia dormido.
Foi a gota da água para que eu começasse a pensar no Thiago, da forma em que nos "amávamos" eu amei sozinha, porque se fosse recíproco, ele não me deixaria por esse problema, mesmo sendo o sonho dele, era ele que deveria estar ao meu lado me apoiando e segurando minha mão, mas preferiu deixar com que eu me virasse sozinha. Mas tudo bem, uma hora tudo passa não é mesmo? E isso vai passar. Tem que passar.
Ouvia algumas pessoas dizerem que a saudade passa, chega um tempo que não há mais nenhum sentimento envolvido e eu pedia exatamente para que isso ocorresse comigo. Não era possível superar tudo de uma vez só — eu sabia disso —, mas não teria tempo suficiente para pensar no Thiago, sendo que algo mais importante havia afetado a minha vida, o fato de eu não poder ser mãe.
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Ele É O Meu Milagre (DEGUSTAÇÃO)
RomanceLívia é uma mulher séria, responsável, que administra uma rede farmacêutica. Embora de longe pareça que está feliz, só quem convive com ela sabe o que se passa por dentro. Ao passar por uma difícil cirurgia, um erro médico muda a sua vida para semp...