40. Espectro

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13 de Junho de 2006

Senti-me como Hades, arrastando abaixo a bela Perséfone para o reino invisível e condenando-a a uma eternidade de escuridão. Desviei o olhar do livro de poesia e olhei para Bella. Ela estava esparramada em minha cama, dormindo profundamente. Fiz uma promessa e, para cumprir tal promessa, ela jamais dormiria novamente.

E seria apenas escuridão para ela. Se eu desse tudo à ela, combinasse todas as cores, tudo o que ela teria seria negro.

Deitei ao lado de meu lindo amor. Não podia fazer nada a não ser pensar em toda minha existência passada enquanto a observava respirar profundamente. Minha patética existência. Tudo era sem importância antes dela. Eu havia sido um tolo, confundindo meu isolamento por solidão. Minha dor com apatia. Era ela, durante todo o tempo, que eu estive procurando.

Tanto eu queria dar à ela, vida, amor, todo o planeta. Ainda assim, vez após vez, eu falhei em prover o que ela realmente precisava. E agora, ela me concedia o mais espantoso favor. Sua mão em casamento. Estiquei a mão e tracei delicadamente sua face.

Egoísmo por anseio. Ou talvez anseio por egoismo. Os dois pareciam impossíveis de separar. Eu ansiava por ela e a queria. Minha, por toda a eternidade.

E enquanto eu deitava ali, ponderando minhas ações, lutei para chegar a conclusão de toda minha insensatez. Eu havia chegado tão perto de permitir que o monstro dentro de mim dominasse. Tão perto de perder minha famÌlia, a mim mesmo. Tão perto de perdê-la. Bella, aquela que eu estava precisando durante todo aquele tempo.

Eu jamais seria capaz de expressar o que ela havia feito por mim, pelo menos não em palavras. Eu tentei dizer a ela, mostrá-la, quão grande é o meu amor, um mar infinito. Eu fui tão estúpido de acreditar que seu amor por mim não era tão profundo quanto o meu por ela. Abandoná-la foi verdadeiramente o pior dos erros que eu tinha feito. Jamais tinha percebido que eu poderia ser amado tão profundamente, que pudesse merecer tal amor de qualquer um. Menos ainda de uma linda garota humana.

Como pode ela me amar tanto? Eu, um monstro desalmado. Bem, talvez eu tivesse uma alma. Como Bella disse, 'sejamos esperançosos'. Eu apenas podia esperar que ela fosse minha alma gêmea e que ambos viveríamos, experimentando uma vida gloriosa.

O anel de minha mãe coube perfeitamente em seu dedo. O acareciei amorosamente. Pelo menos uma vez, eu havia finalmente feito a coisa certa. Mas, seria o suficiente? Logo eu estaria transformando-a em um monstro como eu era. Crime, um pecado horrível. Ainda assim, era o que ela queria, o que ela precisava. Eu faria qualquer coisa por ela.

Então suavemente, finalmente cheguei a minha conclusão. Tudo o que eu havia vivido, tudo que havia feito, noventa anos de espera, foi tudo por uma razão e uma razão apenas. A gloriosa experiência de ser arrebatado por ela.

Bella, meu único amor. . . Você ultrapassou até o mais brilhante espectro de cores. Você me salvou.

FIM.


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