San Diego - Califórnia -1999
Era o segundo teste que Olivia fizera para confirmar o anterior, ela não queria acreditar, e por isso olhava obcessivamente para o relógio pequeno em seu pulso, esperando que o resultado daquele fosse diferente. Estava tomada por tanto medo e incerteza que não tinha ideia se conseguiria aguentar a pressão, as duras críticas que receberia e tudo que aconteceria dali para frente, eram tantas suposições, que ainda que lutasse contra os sentimentos ruins, a tremedeira, o coração acelerado e a eletricidade nervosa que percorria todo seu corpo e a forçava a balançar os pés eram inevitáveis. Se o pequeno objeto que segurava reagisse positivamente a sua urina, seu desejo mais latente seria a morte precoce,súbita e indolor. À espera do resultado ela pressentia que se caso morresse, levaria alguém consigo.
Oli hesitou ao notar que os torturantes cinco minutos cronometrados no relógio digital, que quase sempre esquecia de usar e agora era valiosos, haviam enfim terminado, então, ainda roendo as unhas do polegar ela andou até a pequena pia do banheiro e chorou compulsivamente ao ver as duas barrinhas pretas no filete pequeno e branco. Tomada pelo terror ela se olhou no espelho e balançou a cabeça negativamente, movimentando os cabelos azuis, se não morresse naquele instante, seus pais fariam o trabalho de colocá-la no caixão. Ninguém esperava que ela fosse longe na vida, Olivia nunca foi o melhor exemplo de filha, era a pior dentre suas três irmãs, e jamais chegou aos pés de seu irmão mais velho. Podia ouvir o sermão da mãe antes que ela falasse, imaginava o espanto das irmãs e os gritos que seu pai daria, eles a crucificariam e por mais que não quisesse ser julgada por um erro, ela tinha plena certeza que não podia ter deixado aquilo acontecer.
"Estou mesmo grávida..." – Pensou passando a manga do moletom no rosto vermelho. Conhecia suficientemente bem os pais que tinha para temer as medidas que tomariam ao descobrir que seriam avós.
— Quem está no banheiro?
— Eu... — Disse ao jogar a urina do potinho dentro do vaso sanitário e recolher os dois pequenos testes, colocando-os no saco verde da farmácia, passou três dias com o teste na mochila evitando a verdade que agora estava em suas mãos, não tinha mais para onde fugir.
— Oli? Acordada tão cedo... — Comentou o irmão despretensiosamente— Isso é raro, está tudo bem? — Ela não respondeu e por isso Joseph bateu novamente — Eu preciso usar o banheiro... Saía logo daí!... Olivia, estou atrasado! — As batidas na porta e a voz urgente de Joseph a fizeram jogar uma água no rosto e arrumar o banheiro mais rápido do que pretendia —Eu preciso tomar banho, a Nina está vindo me buscar!
Olivia enxugou as lágrimas e enfiou o saco verde de plástico no bolso do moletom e após um longo suspiro,ela se olhou no espelho pela última vez antes de abrir a porta para o irmão.
— Graças a Deus! — O garoto sorriu com a toalha branca nos ombros, mas ao olhar para a irmã e perceber a vermelhidão em seus olhos, desistiu de entrar no banheiro e toda a pressa que o acompanhava desde que olhou para o relógio e percebeu que passavam das cinco da manhã tinha se tornado preocupação — Estava chorando? Olivia olhou para os pés descalços no carpete, vendo suas unhas tortas e pintadas de um azul tão claro quanto o seu cabelo desbotado que agora era utilizado para esconder seu rosto dos olhos atentos do irmão, ela deveria saber que enganar o loiro era uma missão quase impossível.
— Não! — Tentou dizer sem soluçar, novamente sem sucesso, Joseph percebia os sinais, as mãos tremendo e a respiração descontrolada, o irmão reconhecia as crises antes mesmo que acontecessem
— Não?...Pare de mentir, olha para mim! — Ele pediu preocupado, mas ainda soava doce — Alguém fez alguma coisa com você? Foram as meninas da escola? O que fizeram dessa vez? — Joseph tocou o rosto da garota, fazendo com que ela olhasse para ele — Mesmo que eu só venha para casa aos finais de semana, você ainda é minha irmãzinha, pode me contar qualquer coisa! Olivia não respondeu e muito menos se mexeu, se tentasse choraria copiosamente. Sem muita informação sobre o acontecido e notando que os olhos da menina se encheram d'água, ele simplesmente a abraçou. — Seja lá o que for eu estou contigo. Pode confiar em mim!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Por Amor
RomanceOlivia McCartney, uma mulher pautada por uma criação conservadora, viu-se diante de escolhas complexas.Grávida aos 16 anos do primo de sua amiga/namorada, ela opta por um casamento por conveniência, alinhando-se às expectativas de sua formação. Seis...