TRÊS

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 - Então, o que você fez nos últimos dias? - Rick, meu psicólogo, pergunta. Faz um mês e meio que frequento seu escritório, e pasmem, me sinto melhor. Não que eu nunca tivesse acreditado nessa coisa de psicólogo, só achava desnecessário pagar para um estranho ouvir suas merdas enquanto seus amigos poderiam fazer isso pra você. Acontece que eu não tenho amigos, tenho a Larissa e eu não sei exatamente o que é isso. Talvez eu só seja exigente demais. 

 O sofá, fofo, cinzento e cheio de almofadas de diferentes cores, em que estou sentada se mistura com as paredes brancas e a decoração aconchegante e iluminada. Ao lado da janela há um espaço no qual nunca estive, mas me sinto tentada a deitar ali e ficar assim para sempre. Principalmente porque Rick vem fazendo com que as coisas se encaixem em minha vida, ainda que lentamente, o que me deixa aliviada. Então, passar dias sem vê-lo é agoniante, por isso, morar aqui não seria problema. Quem sabe eu o ajudasse com os clientes. Não. 

O retângulo, semi fechado por paredes de PVC, ao lado da janela, tem algo como um colchonete amarelo extremamente fofo no chão, algumas, das muitas, almofadas da sala e dois livros espalhados. Nunca soube o porquê da existência daquilo.

 - O mesmo de sempre...- respondo olhando para os lados, ainda é difícil olhar em seus olhos. Ainda me sinto invadida, apesar do homem calvo, sentando na poltrona verde musgo, em minha frente ser um profissional excepcional. Eu acho. Nunca tive contato com outros psicólogos.

- O mesmo de sempre? - as sobrancelhas grisalhas estão arqueadas, num tom de provocação ingênua. Sei o que ele quer dizer. É obvio que não é o mesmo de sempre. Não me acabo em lugares emocionalmente vazios todas as noites, ao menos não como antes. 

 Depois da crise que tive, ao acordar no apartamento daquele ser humano nojento, fui consolada pela leitura da obra do Wareen. O livro era genial, nunca havia lido algo tão profundo em minha vida. As palavras de Larissa também me consolaram, é claro, naquela noite ainda. A garota me encheu de sermões, já que eu estava claramente disposta a ouvi-los, mas desta vez era diferente, havia algo mais doce, mais persuasivo em sua voz. 

 Larissa me ofereceu opções de ajuda. Não que eu quisesse, claro, mas eu também não aguentava mais aquele sentimento vazio no meu peito. As esperanças, que me sobravam no momento, ressurgiram aos poucos e eu quis ascender pelo menos um pouco no quesito felicidade. Acabei aceitando a sugestão do psicólogo e cá estou, pela décima segunda vez.

- Não. - rio fraco - Eu trabalhei, fui à um bar no domingo com a Larissa e uns amigos da faculdade dela. Acho que só. - olho para ele, que está sorrindo sem mostrar os dentes.

- Como está no trabalho? - Rick pega a prancheta na mesinha ao seu lado e escreve algumas coisas. Me pergunto o que ele escreve. Será que Wareen está nas anotações? Minha mãe? Larissa? Jamie? O loiro que presenciou meu surto em sua casa?

- Está bem, de verdade. Não ter uma dor de cabeça infernal todo dia, ajuda. - rio sem graça e me ajeito no sofá. Meus ombros mais relaxados.

- E como foi com os amigos de Larissa? 

- Foi ótimo, na verdade. Lembrar das coisas é ótimo. - abro um sorriso engraçado e ele me acompanha. - Eles são legais, me acolheram super bem no grupo. Foi estranho, porque eles nem me conheciam, mas foi...bom. Me senti bem.

- Vai continuar saindo com eles?

- Se houver oportunidades, sim. 

- Na semana passada, não nos aprofundamos na história com Wareen. Acha que podemos conversar sobre? - Rick me olha cauteloso. Sabe que Wareen acabou virando um assunto delicado para mim. Engulo em seco, adiar o assunto não surtirá efeito algum.

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⏰ Última atualização: Jun 18, 2016 ⏰

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