Ela me ensinou a arte de ser filha do vento, de ser filha da guerra, de ser filha de Oyá.
Por incansáveis vezes passou-me a lição de ser do vento, a responsabilidade de encaminhar meus pensamentos e palavras para o lugar, segundo a vibração que escolhera inicialmente. Disse que vez ou outra, eles poderiam se confundir e que eu ficasse atenta ao poder que as palavras possuem e como esse poder dobraria com a força do pensamento.
Ela me mostrou como me vigiar.
Com a voz mansa, no meio das minhas tempestades diárias, diz:
- Seja mais paciente com as pessoas, seja mais calma. Nem sempre as pessoas vão entender o que falamos e como falamos.
Ela não acredita na culpa imposta ao outro por não ouvir e entender como queríamos. É ela quem me faz o questionamento acerca da verdadeira culpa ser nossa e da ausência de paciência por não explicarmos e, às vezes, por não repetirmos o pensamento em outras palavras.
Ensinou-me que o tempo também foi feito para voltar.
Feito para voltar atrás quando se quer o bem e que quando entendesse isso, não ficasse envergonhada e sim satisfeita, pois mais uma corrente do ego e orgulho acabara de se quebrar e eu estaria com mais um "pontinho" rumo à lapidação e evolução esperada.
É preciso insistência pra acabar com a guerra. É preciso desarmar, se o desejo é ganhar a difícil guerra de todos os dias.
Ela me faz entender que tudo isso é um pedido de outro "mamado".
Oyá pede que eu tenha boa relação com o vento, pois é ele que sopra em outras mentes e soprará como eu quiser!
Atenta para que eu esteja preparada para lei do retorno e procure estar em dia com os pensamentos, palavras e desejos.
"O vento que venta lá venta cá"
Sempre que meu conflito parte do outro, ela pede que eu use a empatia e persista.
Não em estar certo, mas em se fazer compreendida, mesmo que o meu argumento esteja errado a partir daquilo que a outra pessoa tem como certo.
Ela me conforta dizendo acerca de todas as verdades ocultas e espantosas no mundo e faz com que a minha verdade, a minha história, mesmo sendo mal interpretada, não pareça um bicho de sete cabeças.
Independe da nossa vontade, a preparação do outro em ouvir.
Por último, ela pede sempre que não me preocupe, pois o tempo é dono de tudo, inclusive de mim. Ele, junto com o vento, tornará as coisas mais brandas, os pensamentos mais claros e ventará bons sopros ao decorrer da minha vida, das histórias que for contar, dos reencontros especiais e dos não tão especiais assim.
Ela me ensinou a ser quem sou, a partir da verdade linda e iluminada que carrega.
Meu amor é seu!
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Escritura Sã
Romance- Quando a escorpiana fala, a confusão lhe abraça. Thamiris Sanches