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As ruas gélidas deixavam os meus lábios congelados, eu estava apenas com um curto top, uma jaqueta jeans e uma saia. Já podia ver novas raparigas chegando ao ponto, todas com roupas quase transparentes, saltos longos, cabelos soltos e a na maioria louros. Elas conversavam entre si esperando o próximo carro que as levariam embora, para uma longa noite, pensavam na quantia que ganhariam hoje, esperando ganharem cada vez mais.

Eu só fazia aquilo por necessidade, não gostava de vestir aquelas mini roupas, nem mesmo esperar para que um carro parasse a minha frente, com uma pessoa qualquer, para que eu entrasse e a agradasse a noite toda, para ganhar uma pequena quantia no final de tudo. Eu tinha sonhos, a maioria eu sempre achava que nunca iriam se realizar, mas o que eu queria mesmo era poder cuidar de mim, com um emprego certo, estar numa faculdade e ser uma pessoa com uma vida normal.

Já podia ver a maioria delas indo a carros pretos ou cinzas, para longe de onde estávamos e logo pude observar um dos carros vindo em minha direção e estacionando ao lado e já sabia o que devia fazer, dei uma batida no vidro da porta e vi o mesmo se abaixar.

-Você poderia me informar o hotel mais próximo? –um homem com os cabelos meio ondulados amarrados, e um sorriso inocente no rosto havia aparecido-

-Como? –Fiquei surpresa com a pergunta, será que ele sabia que estava em um ponto de prostitutas?–

-Eu estou meio que perdido aqui, fui dar um passeio pela cidade e não sei onde fica o hotel em que me hospedaram, poderia me informar um aqui perto?

-Bom –disse sem saber o que responder, e o informei apenas do que ele queria saber- Siga reto e depois vire à esquerda, irá ver uma placa enorme com o nome do hotel

-Muito obrigada senhorita? –ele esperou que eu respondesse o meu nome-

-É melhor você ir, aqui não é seguro para um carro como este ficar estacionado

-Boa noite –ele disse concordando com aquilo e na mesma hora o vidro subiu-

Pude o ver indo a caminho de onde eu tinha te dito, e outro carro havia parado a minha frente, dessa vez eu tinha certeza sobre o que era, e após olhar mais alguns segundos para longe pensando naquele homem com quem havia falado, entrei no carro do mais novo desconhecido, que me levava para longe daquele lugar.


                                                                                    ∞ 


Eu tinha acordado naquela madrugada e pegado o dinheiro que havia em cima do balcão ao lado da cama, e com os meus sapatos em uma mão, fui embora. Quando cheguei perto do elevador, pude ver que estava aberto, entrei mancando por tentar colocar os saltos e esperei que fechasse suas portas para descer e em questão de minutos eu já estava fora daquele lugar. Caminhei com minha jaqueta apertada sobre o corpo por conta do frio até um ponto de táxi, esperei um pouco até que um chegasse para me levar até em casa. Depois de fazer o que fazia todas as noites eu sempre ficava malcontente, pensando que poderia mudar a minha vida, só não sabia como começar.

O táxi havia me deixado em casa e após pagar o que devia entrei naquele pequeno prédio e subi as escadas para chegar até a kitnet que eu morava com mais duas meninas, Gisel e Anabet. Anabet era minha amiga há mais de 10 anos, sempre vivemos juntas por termos o passado igual, com conflitos, e isso fez nós nos unirmos mais, até que conseguimos pagar um lugar para morar, mas como as coisas foram ficando mais difíceis, tivemos que achar mais uma menina para dividir o aluguel e acabou dando certo por sempre nos darmos bem. Entrei e pude ver a sala vazia e já imaginava que ficaria sozinha até a manhã. Anabet devia estar com o seu mais novo namorado, eles se conheceram quando ela estava no ponto e ele com o carro parado dizendo que achava a beleza dela exorbitante e claro, ela entrou em seu carro e voltou no outro dia dizendo o quanto estava apaixonada. Eu sabia que ele estava á enrolando, sabia que ele era compromissado com outra mulher, mas ela não acreditava na minha versão por estar tão cega por ele, então deixei tudo àquilo de lado.

Fui até o quarto e entrei no banheiro. Passei meia hora em um banho de ducha quente, era a única coisa que poderia me acalmar e me fazer sentir bem. Eu pensava naquele homem de mais cedo, sentia que tinha que precisava e queria encontra-lo mais uma vez, ele parecia ser uma pessoa tão doce e inocente, mas sabia que nunca mais o veria. Após isso deitei sobre minha cama e comecei um novo capítulo de uma das histórias dos livros que estavam empilhados ao lado. Eu estava lendo aquilo pela vigésima vez, era uma de minhas histórias preferidas, Cinderela, aquilo me encantava profundamente, me fazia achar que algum dia, mesmo eu sendo quem sou, encontraria o meu príncipe de verdade e que viveria uma vida feliz, e melhor do que esta que estou vivendo agora e achava lindo como uma vida triste podia se tornar uma história de amor perfeita. Dormi pensando em tudo aquilo.

Baby Be MineOnde histórias criam vida. Descubra agora