Capítulo II - Tu Mirada

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"Y tu mirada me corta la respiración

Me quema el alma

Y me acelera el corazón."


Dois anos depois

— Alice — chamei, batendo de leve na porta de seu quarto. — Temos que sair ou vamos nos atrasar para o primeiro dia de aula.

Eca!

Isso mesmo; primeiro dia de aula de meu último ano na escola. De novo! Eu teria de repetir o terceiro ano por não ter conseguido o desempenho esperado e todo aquele blá-blá-blá que me dava alergia.

— Esse ano eu não vou. Esperarei até setembro. Minha carta de Hogwarts vai chegar esse ano, tenho certeza. — disse ela sem abrir a porta. Sua voz ecoou pelo seu quarto enquanto ela derramava suas infantilidades como se meus ouvidos fossem penico.

— Garota, você tem 16 anos. Pelo menos pare de ser tão infantil. Hogwarts não existe. — Eu disse a ela.

— É melhor que ter 18 e ficar perdendo tempo tentando frustrar os sonhos dos outros.

— Não estou frustrando nada... Só lhe dando uma declaração da realidade. Agora, se você não quiser ir a pé pra escola, se vista e esteja lá embaixo em, no máximo, 10 minutos.

Ela resmungou algo ininteligível enquanto eu virava as costas e descia a escada.

Esperei sentado no sofá por algum tempo até que ela apareceu vestida com o uniforme da escola e a mochila pendurada em um só ombro. Tive de me esforçar um pouco pra não rir; o uniforme de nossa escola era tremendamente ridículo. Todo branco com alguns traços de vermelho escuro e preto. A cena era tão horrível que eu sempre pensava em um açougueiro assassino que vendia carne humana.

— Você está ridícula — observei.

— Pelo menos não vou ficar do lado de fora da escola no primeiro dia de aula. Você sabe que é irregular entrar sem o uniforme.

Dei de ombros.

— Não me lembro de ter lido isso no regulamento. Aliás, se você parasse de ler por alguns minutos esses seus livros de aventura, saberia do que eu estou falando.

Ei, não pense que eu sou um nerd por ler o regulamento inteiro. Eu apenas odiava aquele uniforme, então tive de lê-lo com cuidado e encontrar uma brecha que me livrasse de usar aquilo. E deu certo, mas, vez ou outra, eu ficava do lado de fora da sala de aula por não estar vestido adequadamente. Nenhum amigo para me apoiar.

Foi a vez de Alice dar de ombros. Ela realmente não se importava com o uniforme horrível. A verdade era que também não me importava nenhum pouco, mas não deixaria que mais ninguém me ditasse o que eu iria fazer ou como eu iria me vestir.

Droga. Sempre que eu pensava em algo assim, me lembrava de Amanda , que, havia dois anos, partira para só Deus sabe onde.

Eu ficara um refém quase inescapável de suas vontades por algum tempo. Por meses depois de nosso término, eu ficara sem saber o que fazer de minha vida, apenas respirando por ser algo involuntário, porque isso não precisava de consulta: "Vou respirar, Amanda. O que você acha?". Era triste perceber o quão perto eu chegara de perguntar isso a ela enquanto estávamos juntos.

Eu estava me recuperando. Algumas lembranças ainda eram bem dolorosas, mas as ondas torturantes pareciam estar diminuindo sua intensidade e frequência com o passar dos meses. O ano passado fora o pior de minha vida; talvez minha reprovação no terceiro ano do Ensino Médio se devesse à dor, mas eu não conseguia me importar. Não me interessava que meus amigos, nesse momento, estivessem prestes a iniciarem suas aulas na faculdade e eu tivesse de ficar mofando no Ensino Médio por mais um ano.

Mi Tormenta FavoritaOnde histórias criam vida. Descubra agora